sábado, 31 de dezembro de 2011

Contra a ditadura salazarista: Passam hoje 50 anos do assalto ao quartel de Beja




1961 – COM O DERRUBE DE SALAZAR HUMBERTO DELGADO TERIA TOMADO LEGITIMAMENTE O PODER

TEIXEIRA CORREIA - RÁDIO VOZ DA PLANÍCIE

Foi há 50 anos, na noite de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de 1962, que se deu o assalto ao Quartel de Beja. A “intentona do RI 3”, foi mais uma tentativa de deposição do Governo de Oliveira Salazar.

Na noite da passagem do ano de 1961/ 1962, foi assaltado o quartel de Beja, faz 50 anos que o caso aconteceu.

Segundo os dados retirados do site do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas/ Universidade Técnica de Lisboa, a revolta foi comandada pelo capitão Varela Gomes. Morto, durante os acontecimentos o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, então sub-secretário de Estado do exército. Outro dos organizadores foi o civil Manuel Serra, participando o major Francisco Vasconcelos Pestana, filho do antigo ministro da I República, Pestana Júnior, o capitão Pedroso Marques e o tenente Brissos de Carvalho, bem como o civil Fernando Piteira Santos. Depois de um tiroteio com o major Calapez, comandante do quartel que consegue evadir-se e avisar as autoridades, Varela Gomes é gravemente ferido. Entretanto, Humberto Delgado entra clandestinamente em Portugal, chega a dormir em Lisboa numa pensão, e vai para Beja na companhia de Adolfo Ayala, verifica o fracasso e volta ao exílio, onde denuncia a ineficácia da polícia política face aos disfarces que apresentou.

No seu site, o médico Francisco George, em Abril do corrente ano, escreveu sobre o caso e as memórias que guardava do mesmo, em virtude do seu pai ser médico dos Hospitais Civis de Lisboa.

O actual Director-Geral de Saúde escreveu:

A madrugada de 1 de Janeiro de 1962 é inesquecível para mim. O telefone que se encontrava no escritório da nossa casa de Campo de Ourique, na divisão contígua ao meu quarto, tocou pelas 3 horas. Era o telefone do Estado que o Ministério da Saúde mandara instalar. Fenómeno raro, uma vez que quase nunca recebia chamadas nem era utilizado. Todos dormiam a essa hora.

Levantei-me e atendi: - “daqui fala Henrique Martins de Carvalho, pretendo falar com o Dr. Carlos George. É um assunto muito urgente”. Habituado a receber chamadas telefónicas dos doentes de meu Pai a qualquer hora da noite, se bem que no 660628, de início nada de anormal notei. Logo depois, ao entrar no quarto de meus pais para transmitir o recado e ao chama-lo para ir à sala, compreendi pelos seus comentários que era o ministro da saúde e assistência. Percebi que era um problema sério. Uma revolta contra Oliveira Salazar. Não mais se deitou e com o apoio de minha Mãe começou a fazer telefonemas para o Banco de São José e para os seus amigos de maior confiança.

Ao telefone, lembro-me, começava por dizer que tinha recebido instruções do Ministro para organizar equipas de assistência médica de emergência para imediatamente seguirem para Beja em ambulâncias rápidas. Sabia-se, apenas, que tinha havido uma revolta no quartel, com intenso tiroteio e que havia mortos e feridos para socorrer. Ignorava-se a sua verdadeira magnitude. Sabia-se, igualmente, que o antigo Hospital da Misericórdia de Beja não tinha meios para responder à situação.

A Revolta de Beja tinha sido planeada por Humberto Delgado. Pretendia a partir daqui conseguir a sublevação de outros regimentos e unidades das Forças Armadas e fazer cair Salazar. O assalto não correu bem. O insucesso, muito provavelmente, terá tido como explicação principal a falta de comunicações, apesar de Delgado ter acompanhado o assalto a partir de Vila de Frades, aldeia a 25 quilómetros de Beja, em casa de José Luís Conceição Silva, destacado activista da Oposição e residente na Quinta do Almargem em Vila de Frades, terá organizado o acolhimento ao General que ficou alojado no centro da aldeia na casa dos Raminhos.

Francisco George, afirma que só percebeu a sequência integral do que se passou naquele Primeiro de Janeiro de 1962 depois da chegada da Equipa de Emergência de São José ao Hospital da Misericórdia de Beja, muitos anos depois, quando aí exerceu funções de delegado de saúde, em 1976.

Segundo relato de Francisco George, o assalto ao Regimento de Infantaria 3 em Beja na viragem de 1961 para 1962 tem que ser lido no contexto dos acontecimentos históricos que marcam esses anos: a fuga de Cunhal de Peniche no ano anterior, o “Santa Maria” de Henrique Galvão, a tentativa de golpe palaciano de Botelho Moniz, o desvio do avião da TAP por Palma Inácio, a Crise Académica, o Fim de Portugal em Goa e, principalmente, o início da guerra colonial “para Angola rapidamente e em força”.

*Alteração de título e subtítulo de PG

Sem comentários:

Mais lidas da semana