domingo, 4 de dezembro de 2011

ONU: LUSÓFONOS VIEIRA DE MELLO E GRAÇA MACHEL NA GALERIA DOS 8 “HERÓIS”




PAULO DIAS FIGUEIREDO - LUSA

Nova Iorque, 04 dez (Lusa) -- Para o investigador suíço Andreas von Warburg, perito nas Nações Unidas, entre os 8 principais "heróis" da organização estão a moçambicana Graça Machel e o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que teria sido "um grande secretário-geral da ONU".

Em entrevista à Lusa, o investigador suíço afirmou que a morte de Vieira de Mello, com quem trabalhou no passado, teve um papel importante para escrever o livro recentemente publicado "Heróis das Nações Unidas: Homens e Mulheres que Tornaram um Mundo Num Lugar Melhor".

"As Nações Unidas são um lugar onde as pessoas ajudam outras pessoas. Onde a dignidade humana tem de prevalecer e onde as ideias podem ter um grande impacto. O Sérgio tinha tudo isto e a sua morte foi uma forma de vermos esse lado da ONU", afirma o investigador, ex-jornalista da AP e consultor de várias missões diplomáticas junto da ONU.

Para von Warburg, Vieira de Mello, que morreu em agosto de 2003 quando liderava a missão da ONU no Iraque, teria sido um "grande secretário-geral para a organização".

"Tal como [o ex-SG Koffi Annan, ele conhecia a ONU por dentro e tinha um entendimento vasto das limitações da organização. Também tinha o mesmo carisma que Annan e ótimas relações com a comunicação social", sublinha.

Estas duas últimas qualidades funcionavam a seu favor junto da opinião pública, mas "menos com os P5", os cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança que são cruciais na escolha do secretário-geral da organização.

"É muito claro que depois de Annan, os cinco membros permanentes favorecem agora candidatos com menos apelo para o público e definitivamente menos capital político", disse à Lusa.

"Heróis das Nações Unidas" baseia-se em entrevistas e intervenções das 8 figuras destacadas: Vieira de Mello, Graça Machel, Dag Hammarskjold, Angela King, Eleanor Roosevelt, Helvi Sipila, Carlo Urbani e Nadia Younes.

Para von Warbug, é uma maneira de chamar a atenção para o papel da ONU, que vive "um momento muito difícil, política e financeiramente".

"O mundo está a ser corroído por guerras e as pessoas precisam de líderes em que se possam inspirar", afirma.

Quanto a Graça Machel, a escolha deve-se ao relatório que cunhou em 1996 sobre o impacto dos conflitos armados nas crianças, que "foi inovador e trouxe à atenção da comunidade internacional a praga das crianças-soldado e daquelas que são usadas como alvos".

"A comunidade internacional ainda está a trabalhar para implementar totalmente o relatório e as dez recomendações listadas, entre elas a educação, têm um papel muito importante", disse von Warburg.

"Graça Machel é uma grande mulher, a 'Primeira Dama de África', como muitos ainda a chamam. Vejo muitas semelhanças com Eleanor Roosevelt, porque ambas foram muito inspiradoras e o seu trabalho ainda hoje produz resultados. O seu relatório de 1996 é a principal herança, mas também o seu carisma, liderança", adiantou.

Sobre figuras lusófonas hoje em destaque na ONU poderem vir a figurar numa futura galeria de notáveis, von Warburg afirma que António Guterres e Jorge Sampaio têm mostrado "grande capacidade de liderança", são "respeitados pela comunidade internacional e estão a trabalhar significativamente nos seus respetivos campos".

Apesar de ter "dúvidas" de que Guterres possa vir a emergir como uma figura histórica dentro da organização, sublinha que o ex-primeiro ministro de Portugal está "à frente de uma das maiores e mais delicadas agências da ONU", o Alto Comissariado para os Refugiados, "uma posição dura" em que "segue a herança de outro lusófono, Vieira de Mello".

"Ambos deram muito ao ACNUR e modelaram a organização em tempos difíceis, especialmente financeiros. Guterres está a tornar a organização mais visível e melhor financiada. Durante o seu mandato, o ACNUR está a ter mais força e melhor imagem em todo o mundo", adiantou à Lusa.

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