ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*
A UNITA está a dar os primeiros passos no exercício da democracia interna, que esteve condicionada durante a guerra civil.
Quem o disse, em declarações à Lusa, foi o presidente do partido, Isaías Samakuva, candidato à reeleição no congresso que começa terça-feira em Luanda.
Mostrando que, afinal, só tem uma vaga ideia do que se passa, Samakuva considerou que a UNITA está "numa situação de transição".
"Nós achamos que devíamos era mesmo enveredar pelo caminho da democratização interna do partido. A democracia interna do partido é um exercício novo para nós. Embora a UNITA tenha pugnado pelos princípios democráticos, em tempo de guerra essa democracia pecava porque a estrutura era essencialmente militar", disse.
A UNITA acredita, ou diz que acredita, que cada vez mais os “angolanos começam a perceber melhor os desvios dos objectivos da paz e da reconciliação nacional”.
Tem razão. Mas, como se sabe, se nem nas democracias basta ter razão, num regime de partido único travestido com alguns laivos de democracia, como é Angola, ter razão é o que menos conta.
Diz a UNITA que em Angola “continua a violação dos Direitos, Liberdades e Garantias fundamentais dos cidadãos angolanos, consubstanciada nas detenções arbitrárias, particularmente nas zonas onde a UNITA goza de maior simpatia”.
Nada de novo. É assim em Angola, tal como é assim na colónia angolana de Cabinda. Os donos do país, com a criminosa conivência da comunidade internacional, casos da ONU, UA e CPLP, continuam a comer lagosta e a dar ao Povo peixe podre, fuba podre (ou farelo), cinquenta angolares e porrada se refilares.
Enquanto Angola for o MPLA e o MPLA for Angola, de nada adiantará ter razão. A UNITA sabe-o bem. Aliás, parte dela trocou também a mandioca pela lagosta. E quando assim é...
Dizer que o regime liderado, recorde-se, por um presidente que está no poder há 32 anos sem nunca ter sido eleito, é contra todas as formas de luta que ponham em causa o seu reinado, é chover no molhado. Ninguém se preocupa com isso.
Afirmar que os níveis de corrupção existentes em Angola superam tudo o que se passa em África, conforme relatórios de organizações internacionais e nacionais credíveis, é uma verdade que a comunidade internacional reconhece mas sem a qual não sabe viver. Aliás, é mais fácil roubar o Povo em regimes corruptos do que em democracias.
Aliás, basta ver como as grandes empresas, portuguesas e muitas outras, investem forte no clã Eduardo dos Santos como forma de fazerem chorudos negócios.
“Contínua a degradação da situação socioeconómica e cultural, estando na base do aumento dos níveis de violência, delinquência, pobreza e doenças endémicas que o País conheceu”, afirma a UNITA, acrescentando que continuam as práticas que reforçam o Estado patrimonialista e clientelista, visando condicionar a vontade e a consciência dos cidadãos, mediante voto prévio e induzido para o partido no Poder”.
Foi assim, assim é e assim vai continuar a ser. E o poder do MPLA tem tanta força, para além de cobertura dos seus amigos da Internacional Socialista, que para além de os mortos também votarem nele, há sempre aquela variante que legitima as boas democracias e que respeita ao facto de em alguns círculos eleitorais apareceram mais votos do que votantes.
Reconheça-se que é obra apresentar resultados (obviamente democráticos) em que o MPLA ultrapassa os 100 por cento das votações. Nesta matéria o regime superou os seus professores portugueses.
Enquanto a UNITA não perceber (e ao dizer que o seu partido está agora a dar os primeiros passos no exercício da democracia, Samakuva mostra que não percebeu nada do que se passa) que está a fazer de figurante para legitimar uma democracia inexistente, que está a fazer de porteiro para o regabofe dos ditadores, que está com uma bandeja de prata à procura de comida nos caixotes do lixo dos donos do reino, nunca conseguirá mudar Angola.
Tal como não conseguirá enquanto não explicar como é que, entre outros, alguns dos seus generais (dos que estiveram até ao fim com o Mais Velho) são hoje dos homens mais ricos de Angola.
Mas, talvez mais importante do que tudo, a democracia não será edificada em Angola enquanto, como dizia o Mais Velho, não for a dor que nos faz andar, a angústia que nos faz correr, as lamúrias e as lamentações, que de vários cantos do país nos chegam, que nos fazem trabalhar; não for a razão dos mais fracos contra os mais fortes que nos faz marchar.
E, convenhamos, assim a UNITA pouco mais pode ambicionar do que ser, do que continuar a ser, o primeiro dos últimos. É pena, mas parece que é verdade.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: NO HUAMBO, MILHARES INSCREVEM-SE NO MPLA
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