quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Angola: POPULAÇÃO DO ALTO HAMA FOGE PARA A MATA




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Relata António Capalandanda, jornalista da Voz da América, que confrontos entre militantes do MPLA e da UNITA resultaram na morte de três pessoas na comuna do Alto Hama, província do Huambo.

Segundo relatos ouvidos pela Voz da América no local, duas pessoas morreram imediatamente e uma outra acabou por falecer no hospital. Dos três feridos graves da oposição, dois encontram-se detidos, na sequência de pancadaria entre os membros das principais forças políticas angolanas.

O clima é de tensão na localidade e há informações de que a população está a abandonarem as suas casas para se fixarem nas matas, com medo de sofrerem represálias.

Em declarações à Voz da América, o secretário comunal da UNITA do Alto Hama, Evaristo Hosse (filho de um um Velho amigo de outros tempos), disse que os militantes do seu partido agiram em legítima defesa, contra a suposta agressão de um grupo afecto ao MPLA, acusando a administradora daquela comuna de ter orientado as estruturas locais da sua organização partidária a desencadear actos de violência:

"O secretário do MPLA do comité do sector da Bonga é quem organizou as pessoas, tendo transportado os indivíduos até ao Luvili," disse o Hosse, acrescentando que " chegado ao terreno, o secretário do Luvili organizou as pessoas e distribuiu o grupo em três bairros onde entraram em catanadas."

Domingos Albano Tchissanda uma das testemunhas alega que os supostos agressores invadiram as residências na calada da noite, tendo destruído todos os haveres dos populares da comunidade de Luvili: "Bateram às nossas portas com catanas, entraram. Partiram ascadeiras e mesas, todos os haveres das casas."

A Voz da América tentou ouvir a administradora do Alto Hama, mas ela disse que falaria para imprensa estatal, enquanto que o comando provincial da polícia remeteu os seus pronunciamentos para as próximas ocasiões.

Como aqui tem sido dito, está em marcha o plano do regime angolano para se perpetuar no poder. Em várias frentes, os “bentos bentos” do MPLA estão no terreno.

De há muito, mas com clara tendência crescente, está em curso a campanha contra a UNITA e os seus dirigentes nos órgãos de comunicação social. A par da sempre oportuna descoberta de paióis de armamento, os principais dirigentes do Galo Negro estão a ver a sua vida devassada. Notícias com carácter escandaloso, como contas bancárias no exterior, contactos com serviços secretos estrangeiros etc. não tardarão.

As autoridades vão avançar com processos criminais, sob denúncia de elementos da população, que podem compreender acusações de violações de menores, tráfico de influências em negócios ilegais e transacção ilegal de diamantes e indivíduos envolvendo figuras destacadas da Oposição.

Vai aumentar ainda mais a vigilância pessoal sobre os dirigentes da cúpula da UNITA, com escutas telefónicas e alargamento da rede de informadores no interior do Galo Negro.

Foram reactivadas as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais, estando tudo pronto para, inclusive, distribuir armamento ligeiro aos seus efectivos para defesa da população civil.

Afinal, na história recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

Quando o partido que governa Angola desde 11 de Novembro de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém que está no poder há 32 anos, sem ter sido eleito, sente necessidade de reeditar esta plano alternativo é porque, contra todos os ventos e marés da ditadura, as sementes da revolta estão a multiplicar-se.

Embora oficialmente o regime diga que tudo está calmo, a verdade é que o primeiro secretário do comité de Luanda do MPLA, Bento Bento, considera que a situação "inspira cuidados especiais", por ser "delicada".

Bento Bento acusa a UNITA, o maior partido da oposição, de ser o líder, em aliança com alguns partidos da oposição, nomeadamente o Bloco Democrático e alguns Partidos da Oposição Civil (POC's), de um plano para "derrubar o MPLA e o seu líder, José Eduardo dos Santos".

"Têm como executivos mais dinâmicos nesta luta o secretário-geral da UNITA, Camalata Numa, o presidente da JURA, Mfuka Muzemba, o Presidente do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade, e David Mendes, que têm outros executores, mas esses são os principais mentores", afirma Bento Bento.

“Quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade no seu agir, torna-se um eterno ditador”, afirmou (recordam-se?) o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, falecido em 2008, numa carta dirigida a António Bento Bembe, mas que serve às mil maravilhas para este outro Bento Bento.

Segundo Bento Bento, o plano tem em vista unicamente "sabotar a realização das próximas eleições em Angola". "Infelizmente entre os executores dessa conjura consta um deputado, que de manhã à noite instiga a sublevação contra as instituições, contra as autoridades e contra o MPLA, o senhor Makuta Nkondo", acusou ainda o político.

Nesse sentido, Bento Bento pediu aos militantes do seu partido para que controlem "milimetricamente" todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem "surpreendidos". E se for necessário, como prevê o plano do MPLA, há armas à disposição dessas Brigadas Populares de Vigilância.

De acordo com o primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidiu enveredar por "manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus".

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA a governar o país.

Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.

No início de 2008 (recordam-se?), notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo, de guerra civil.

Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié ou o Huambo.

Kundi Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não tardará a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.

Numa entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra.

Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, "se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas sim "para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.

Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto. Pelos vistos chegou a agora a hora de se falar do que existe mas, sobretudo, do que não existe.

Legenda: Evaristo Hosse. Foto de António Capalandanda da VOA

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: RTP FOI A LUANDA BRANQUEAR O REGIME

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