A cobertura jornalística da ação de reintegração de posse do terreno ocupado pela comunidade de Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, tem sido marcada pela truculência policial e pela cerceamento da liberdade de imprensa. A denúncia foi retransmitida nas redes sociais, na noite desta terça-feira, a partir do original impresso no Centro de Jornalismo nas Américas, da Universidade de Austin, no Texas (EUA), por sua correspondente no Brasil, a jornalista Natalia Mazotte.
Segundo a denúncia, consignada em primeira mão na Rede Brasil Atual, a repórter da agência paulista de notícias Lúcia Rodrigues foi alvo de dois tiros de arma de fogo, disparados por um policial municipal, enquanto estava no terreno tentando entrevistar os moradores despejados no último domingo, dia da invasão promovida pelas forças de segurança do Estado de São Paulo. Rodrigues havia se identificado como jornalista e estava com os braços levantados e com o gravador em uma das mãos no momento dos disparos.
– Quando vi que ele ia atirar, virei-me e comecei a correr. Eu estava mais à frente, mas tinham moradores comigo – relatou a jornalista.
Rodrigues lembra que correu risco de morte, mas soube apenas momentos após os disparos.
– Quando vi que tinha saído do raio de tiro do policial, comecei a gravar o que estava acontecendo e um dos moradores veio me falando: ‘Ele atirou!’. Acabei sabendo por testemunhas que o guarda disparou contra mim duas vezes – relata.
A jornalista narra ainda que viu uma mulher grávida cair durante o corre-corre.
– Não sei se ela foi atingida ou se tropeçou. Ela foi levada para o hospital, mas é impossível confirmar o que aconteceu com ela depois – lamenta.
Em outro episódio de violência, um veículo de uma emissora afiliada da Globo que estava na comunidade foi incendiado, mas não houve feridos, informou o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.
– É inadmissível que a polícia que deveria garantir o direito de trabalho e a segurança dos jornalistas seja protagonista de agressão contra os profissionais. Infelizmente, este não é um episódio isolado situações como estas já foram registradas anteriormente – afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), José Augusto Camargo.
Além de sofrer agressões, os jornalistas também têm sido impedidos de entrevistar moradores da comunidade, sendo obrigados a seguir as instruções da polícia para realizar seu trabalho. Em matéria desta terça, o Portal Terra noticiou que as entradas de Pinheirinho foram controladas pelos policiais e que o acesso da imprensa é controlado pela PM.
– Estive em São José dos Campos por conta da violenta reintegração de posse da área da comunidade Pinheirinho neste domingo. A polícia militar proibiu a entrada dos jornalistas, limitando-os ao entorno, o que é sempre um mau sinal. Sem a presença livre da imprensa, a sociedade recebe informações limitadas e a fiscalização dos atos do poder público torna-se capenga. Ou seja, esconde-se mais facilmente o que não se quer mostrar – relatou o jornalista Leonardo Sakamoto à revista Vírus Planetário.
Para o SJSP, a Polícia Militar promove o cerceamento da liberdade de imprensa. Organizações da sociedade civil e indivíduos nas redes sociais manifestaram repúdio pela invasão policial e criticaram o processo de remoção, considerada um massacre, na área do Pinheirinho, onde famílias começaram a se instalar há cerca de oito anos. Atualmente, cerca de 9 mil moradores disputam judicialmente o terreno com a massa falida de uma empresa controlada por um megaespeculador do mercado financeiro.
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