sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Direitos Humanos e Justiça Ambiental aplaudem 'prémio' de "Pior Multinacional" à Vale



PMA - Lusa

Maputo, 27 jan (Lusa) - As organizações moçambicanas Liga dos Direitos Humanos e Justiça Ambiental saudaram hoje a eventual indicação da Vale como "Pior Multinacional" do Mundo em Davos, Suíça, acusando a empresa de protagonizar "violações dos direitos humanos e sociais" no país.

A mineira brasileira Vale pode ser hoje anunciada como a "vencedora" do chamado "nobel da vergonha corporativa mundial", atribuído à "Pior Multinacional" em termos de respeito pelo ambiente e direitos sociais e dos trabalhadores.

A companhia, presente em 38 países, foi proposta pela Rede Internacional das Pessoas Afetadas pela Vale e recebeu 25.041 votos até ao dia 26, que serão hoje confirmados no Fórum Económico Mundial, que decorre em Davos.

Comentando em conferência de imprensa a atribuição do título de "Pior Multinacional", a Liga dos Direitos Humanos e a Justiça Ambiental regozijaram-se com esta atribuição, considerando que Moçambique já sofre as consequências da ação da Vale.

"Este 'prémio' tem um significado importante para as vítimas da conduta da Vale em Moçambique, porque corrobora as diversas violações perpetradas pela empresa em Moçambique, contra as comunidades e contra os trabalhadores", acusou Jeremias Vunjhane, ativista da Justiça Ambiental.

A Vale, segundo Jeremias Vunjhane, não honrou o compromisso de prestar uma assistência justa e apropriada ao processo de realojamento das 715 famílias retiradas dos campos de carvão que detém no distrito de Moatize, província de Tete, centro de Moçambique.

De acordo com a Justiça Ambiental, a Vale realojou as 715 famílias em casas sem qualidade, algumas em risco de desabar a qualquer momento, numa área árida e por isso inapta para a agricultura, a 35 quilómetros da capital da província, sem estradas e transportes.

"A fome é visível em Cateme (área de realojamento), a terra ali não é propícia para a agricultura e a casa modelo prometida pela Vale não foi construída", sublinhou Jeremias Vunjhane.

Por seu turno, João Nhampossa, jurista da Liga dos Direitos Humanos, afirmou que a Vale tem pautado a sua atuação com "total irresponsabilidade pelos direitos humanos", contando nessa postura "com a passividade e cumplicidade do Governo".

Para João Nhampossa, foi o incumprimento da Vale em relação à obrigação de prestar uma assistência social condigna à população desalojada da zona dos jazigos de carvão em Moatize que provocou manifestações no passado dia 10, que resultaram em repressão policial.

"O que se passou no dia 10 em Cateme justifica a atribuição do prémio da vergonha à Vale", disse João Nhampossa, assegurando que a Liga dos Direitos Humanos vai prestar assistência jurídica às vítimas "da brutalidade policial" durante o protesto popular contra o incumprimento das alegadas promessas da mineira brasileira.

Sem comentários:

Mais lidas da semana