quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DO CAIS DO SODRÉ AO GIGANTE ADAMASTOR




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Cada vez me convenço mais que Portugal vai emergir. Talvez em 2016 junto ao mar Egeu. E este convencimento vem do facto de o governo estar cheio de gente que diz preferir perder dinheiro para defender a causa pública.

São tantos, creio que serão mesmo todos, os super-homens e mulheres que integram o governo que é difícil não acreditar que serão capazes de emigrar depois de afundar o país, outrora Pátria e há muito, muito tempo, Nação.

E perante tão gratificante exemplo, os super-portugueses que, todos os dias, mostram a sua super-competência de viverem sem comer, também estão dispostos a dar uma ajudinha. Basta ver a forma como comem e calam.

Desde logo porque, ao contrário dos donos do país, sabem que ao viverem sem comer estão a ajudar as contas públicas e a diminuir o número de pobres. E é basilar para a recuperação que não se acabe com os ricos mas, antes, com os pobres.

Consta de um estudo que Pedro Passos Coelho um dias deste irá divulgar, que 800 mil portugueses até estão dispostos a dar ao governo todo o subsídio de Natal e o todo o subsídio de férias durante o tempo que for necessário.

Em troca apenas querem uma pequena coisa: ter emprego!

Enquanto isso, vão fazendo exercícios de memória, não tanto para se recordaram do que é ter três refeições por dia, mas para não esquecerem o que lhes foi dito.

Quem terá afirmado que os políticos "recebem porcaria de volta dos cidadãos quando se lhes dirigem com falta de respeito e com promessas não-cumpridas"?

"Se lhes transmitirmos credibilidade os portugueses compreendem, se lhes falarmos sem verdade e com falta de respeito, eles compreendem que estamos a ser batoteiros e em Portugal já temos um Estado batoteiro", afirmou alguém.

Esse alguém falava no Bom Jesus de Braga, no dia 5 de Julho de 2008, sobre "Jovens e Política" durante uma conferência que foi uma espécie de "universidade de Verão" para os militantes do seu partido.

Esse alguém considerou que, na política portuguesa, tinha de acabar a situação de os poderes públicos darem emprego aos amigos em vez de optarem pela qualidade técnicas daqueles que escolhem para os cargos.

Abordando um estudo encomendado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, sobre a participação dos jovens na política, esse alguém disse que os dados revelados sobre o afastamento dos jovens "não são diferentes dos de Espanha, França ou mesmo de quase todo o mundo ocidental".

Também disse que "é preciso atacar as causas" desse afastamento, entre as quais destacou o facto de, muitas vezes, ainda se "confundir rituais democráticos e democracia". "Vemos isso acontecer em países de África ou da Ásia, mas, mesmo em democracias ocidentais, há, por vezes, mais ritual do que democracia", acentuou.

Em consequência dessa constatação, sublinhou que muitos jovens pensam que "votam mas o resultado é sempre o mesmo", o que os leva a afastarem-se das urnas e dos partidos ou movimentos políticos.

"Não interessa chegar ao poder apenas pelo poder, mas sim indicar ao eleitorado o que se vai fazer, dentro de paradigmas satisfatórios e cumprir", reforçou, considerando ser necessário "cultivar o gosto pelas novas soluções", apontando o caso dos problemas ligados ao estado social, para dizer que, quando se candidatou às eleições directas no seu partido, "não encontrou ninguém que fosse especialista na matéria".

"Precisamos de ter grupos de reflexão sobre a problemática social e há muita gente social-democrata que sabe pensar o problema, e o mesmo acontece na área das relações internacionais, quer no que toca à Europa quer noutras áreas", defendeu.

Disse ser fundamental que as pessoas, em vez de se habituarem a depender do Estado, pensem no que podem fazer para seu bem e da sociedade: "Porque não se propõe aos manifestantes desempregados que criem uma empresa, eventualmente com outros colegas, em vez de andarem em manifestações?", perguntou.

Foi também esse alguém que exigiu na negociação para viabilizar o Orçamento para 2011 que não houvesse aumento de impostos. Foi o mesmo que exigiu igualmente que “toda a diminuição da despesa fosse feita para que o país pudesse proceder à consolidação das contas públicas”.

Foi o mesmo que chegou a dizer que mexer no subsídio de férias ou no subsídio de Natal seria um autêntico disparate.

Revelando-se um colossal batoteiro, conseguiu que os portugueses lhe passassem um cheque em branco e, dessa forma, chegou a timoneiro de uma chata que disse ser caravela, afundando-a no primeiro remoinho do cais do Sodré, com a justificação que a culpa é do Gigante Adamastor que dá pelo nome de troika.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: INQUÉRITO AOS OFICIAIS DAS FORÇAS ARMADAS, JÁ!

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