Deutsche Welle, com foto
Passado um ano desde o início da revolução, clamor por pão e liberdade no Egito segue sem resposta. Conselho Militar continua a reprimir oposicionistas. E foram julgados mais civis do que em 30 anos de regime Mubarak.
Nesta quarta-feira (25/01), dezenas de milhares comemoraram nas ruas do Egito o primeiro aniversário dos protestos de massa que levaram à queda do presidente Hosni Mubarak. A maior manifestação pela "Revolução de 25 de Janeiro" transcorreu na Praça Tahrir, no Cairo, o local dos primeiros protestos.
Os participantes anunciaram motivações contrastantes. Para parte deles, trata-se de festejar e homenagear os "mártires da revolução; enquanto a assim chamada "juventude revolucionária" clamava "Abaixo com o regime militar", afirmando: "A revolução ainda não acabou".
Tanto na Praça Tahrir quanto numa manifestação na cidade de Alexandria, ocorreram pancadarias isoladas entre os adeptos das diferentes facções. Sobretudo a Irmandade Muçulmana, atualmente a maior bancada do Parlamento, se empenhou em acalmar os revolucionários insatisfeitos.
Revolução inacabada
Após a renúncia de Mubarak, em fevereiro de 2011, o Supremo Conselho Militar assumiu o poder no Egito, instaurou um governo interino e estabeleceu o cronograma para o período de transição. O primeiro passo de seu programa já está dado: na última segunda-feira reuniu-se o novo Parlamento, composto, em mais de dois terços, por radicais islâmicos.
Omar Sabry, de 20 e poucos anos, é um dos ativistas que há mais de três semanas atravessam quase todas as noites as ruas de Heliópolis, bairro no nordeste do Cairo, bradando em coro sua ira contra o novo regime, contra as mentiras do Conselho Militar, contra a violência.
O coração de Omar pertence à revolução, ele e seus correligionários querem acordar a população. Nas praças públicas, exibem vídeos sobre o procedimento brutal da polícia contra os manifestantes, formam correntes humanas, picham os muros. No aniversário dos protestos na Praça Tahrir, eles estão entre os que conclamam: "Precisamos levar nossa revolução até o fim".
Poucas mudanças
Pois desde o início da revolução, um ano atrás, não mudou muita coisa no Egito. Embora Mubarak tenha caído, a velha guarda continua bem instalada no poder, com o apoio do Conselho Militar. Os processos contra o ex-presidentes e seus adeptos são consequentemente postergados. Até hoje, nenhum dos policiais que atiraram nos manifestantes teve que responder diante da Justiça.
Em vez disso, a polícia se lançou em novas batalhas de rua, nas quais – segundo dados dos revolucionários – matou pelo menos 120 pessoas e feriu 6 mil, desde julho último. Para evitar um clamor por violações dos direitos humanos, as ONGs críticas foram fechadas.
Ativistas e blogueiros também vão sendo silenciados: alguns são espancados em plena rua por forças do regime, outros são logo submetidos a um processo sumário diante do tribunal militar. Segundo a organização pelos direitos humanos Human Rights Watch, no espaço de um ano, 12 mil civis já foram julgados pelos tribunais militares – mais do que em 30 anos de regime Mubarak.
Cansaço da revolução
Um dos inimigos dos revolucionários é o aparato de propaganda da televisão estatal e do Conselho Militar. Este festeja o aniversário da revolução a seu modo, longe de quaisquer agitadores. Antes do aniversário, o líder do Conselho, marechal Hussein Tantawi, alertou para os graves perigos diante dos quais se encontra o Egito, falando de gente que quer incendiar o país. "Os planos visam quebrar a espinha dorsal do Egito, o Exército. Isso, nós não vamos permitir", declarou, para intimidar os ativistas e coibir de antemão os protestos.
Acima de tudo, o Conselho Militar continua surdo ao clamor por pão, liberdade e justiça social que varreu o Egito, um ano atrás. Os ativistas querem derrubar Tantawi, exigem a imediata entrega do poder ao presidente do Parlamento e eleições presidenciais antecipadas, de junho para abril. Eles também tentam impedir que os militares participem da elaboração da Constituição.
Foram 54 os partidos e movimentos políticos que convocaram as passeatas desta quarta-feira, em âmbito nacional. O jovem Omar Sabry e os demais ativistas procuram conquistar a população para sua causa, e desafiam: "Tantawi, vem e mata mais revolucionários, queremos a tua execução!". Mas a verdade é que grande parte dos egípcios está farta da revolução: eles querem comida, segurança, estabilidade, e não mais caos ainda.
AV/dw/dpa/dapd - Revisão: Carlos Albuquerque
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