Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
“Eu já manifestei variadíssimas vezes sobre esta questão e costumo dizer que PALOP e CPLP são tretas. Dou um exemplo: aqui no Porto, concretamente nas universidades, os estudantes PALOP são lixo ou tratados como tal. Eu sou e fui vítima até que agora estou resignado.
Fiz três tentativas frustradas de entrar na residência universitária (RU) da Universidade do Porto. Sabes qual foi a resposta? Não és aluno nacional, tens de esperar, se houver vagas, vamos chamar-te.
Ao mesmo tempo, estavam na fila uns alunos a falar o inglês, perguntei: esses não são estrangeiros? Responderam: são alunos do Erasmus, nas RU's existem blocos para os Erasmus.
Perante este facto, procurei casas. Queres dar um salto ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e ver como somos tratados lá? Enfim, são “n” situações que podia estar aqui a relatar.”
Continuo, por muito que isso custe a alguns, a ficar virado do avesso quando, e em Portugal isso é mais do que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza.
Cada vez que falo deste assunto, explicam-me que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.
De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, confundir a vida nas esquinas com as esquinas da vida.
Estou farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.
Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.
Curiosamente, a dita Imprensa de referência em Portugal só há pouco tempo descobriu (mais vale tarde...) que, por exemplo, há angolanos que são brancos. Levou tempo...
Por alguma razão, Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no estado em que se encontra.
Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista. E se não é... às vezes parece.
Mas em Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto e de alma, sou: Angolano.
Quando digo, e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que nada têm de opção pessoal...), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem por superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que isso constitua uma maior ou menor valia.
Será difícil entender isso?
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: MORREU O REI DO LAND ROVER DO MPLA
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