Carlos Fonseca - Aventar
O João José Cardoso já denunciou, aqui e aqui, a decisão do governo português, através do Torquemada de Tomar, Miguel Relvas, de silenciar vozes incómodas para negócios entre Portugal e Angola – o desassombro de Raquel Freire e Pedro Rosa Mendes custou-lhes o afastamento da RDP.
Conheço Angola. Sem nunca ter sido residente, obrigações profissionais levaram-me àquele país mais de uma dezena de vezes por ano. Durante duas décadas. Tenho longas histórias dos meandros dos negócios locais, grandes e pequenos, assim como de homens do poder.
Estabeleci também relações de amizade com angolanos honestos que, hoje como ontem, não puderam ou quiseram enveredar por negócios espúrios, geradores de fortunas tão céleres quanto ilegítimas. Esses amigos, no fundo, são gente sensível à pobreza extrema de milhares e milhares de compatriotas – crianças, mulheres, idosos e jovens estropiados da guerra. Uma multidão de vítimas ainda submetidas a vidas bem duras em ‘musseques’, lá para os lados de Viana e de outras zonas afastadas da ‘sala de visitas’ que é a renovada baixa luandense.
O jornalista Rafael Marques, citado por Pedro Rosa Mendes, é este homem. Em finais do último ano, teve a coragem de fazer uma queixa-crime contra diversos generais angolanos: o poderoso ‘Kopelika’, Vaal da Silva, Armando Cruz Neto, Adriano Mckenzie e os reservistas João Matos, Luís Faceira e António Faceira. França Ndalu (além do mais, representante da De Beers em Angola) também foi citado. O processo inclui crimes de assassinato e mutilações.
Na RDP, ao contrário dessa jornalista de plasticina Fátima Campos Ferreira na RTP1, houve alguém que ousou falar verdade. Miguel Relvas, que é, de facto, um ministro de negócios em serviço nos PALOP’S – Angola, Brasil e Moçambique, em particular –envergou o uniforme e galões de um César Moreira Baptista dos tempos modernos e decretou o silêncio, na RDP, de quem, com desassombro, ousou falar verdade; casos de Raquel Freire e Pedro Rosa Mendes.
O esquema dos negócios com Angola é causa de excitação e pesporrência de homens do poder, nos dois países. As acções de Miguel Relvas e estas declarações do ministro da economia de Angola podem mascarar facetas de relações que nunca se conhecem em toda a extensão. O Álvaro esteve presente na reunião com o ministro Abraão, mas limitou-se a acenar afirmativamente com a cabeça. Fez o papel que no governo lhe atribuíram: pode dizer tudo, desde que seja “YES!”.
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