Eduardo Febbro - Direto de Paris – Carta Maior, com foto
Elaborado pela Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional francesa, o informe, intitulado “Sobre a geopolítica da água”, descreve a gestão da água pelo governo israelense como “um novo apartheid no Oriente Médio”. Informe, que despertou reação irada das autoridades israelenses, diz que “os 450 mil colonos israelenses da Cisjordânia utilizam mais água que os 2,3 milhões de palestinos”. Em Gaza, acesso à água é ainda mais problemático. O artigo é de Eduardo Febbro.
A dimensão estratégica do acesso à água no conflito entre Israel e Palestina é uma das colunas vertebrais desse sangrento antagonismo territorial. Um severo informe elaborado pelo parlamento francês suscitou uma irada reação das autoridades israelenses, ao mesmo tempo em que traz uma série de revelações sobre a forma pela qual Israel utiliza esse recurso vital que é a água para subjugar os palestinos.
Elaborado pela Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional francesa, o informe, intitulado “Sobre a geopolítica da água”, descreve a gestão da água como “um novo apartheid no Oriente Médio”. Ao apresentar o informe, o deputado socialista Jean Galvany também destacou que, no que diz respeito ao acesso à água, “a prioridade é dos colonos em caso de seca, e isso representa uma infração do direito internacional”. Galvany ressaltou ainda que “os poços (de água) cavados espontaneamente pelos palestinos na Cisjordânia são sistematicamente destruídos pelo Exército”. O deputado citou ainda o caso de Gaza, onde, assegura, “as reservas de água foram alvo de bombardeios em 2008-2009”.
O governo israelense reagiu com grande virulência após a imprensa divulgar parte do informe parlamentar francês. Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria israelense, declarou que o deputado Jean Galvany havia “introduzido uma terminologia extrema no documento, no último momento e sem informar aos seus colegas”. Galvany negou as críticas israelenses, mas reconheceu que o termo “apartheid” poderia suscitar fortes reações. No entanto, observou o deputado “por causa da ausência de denúncias permite-se que se faça qualquer coisa”. Por outro lado, o governo palestino celebrou a publicação de um informe que mostra “o controle israelense sobre os recursos palestinos, sobre a água, e sua utilização em favor dos colonos e dos israelenses”.
Cada parte defende seu direito neste intrincado conflito onde a água é um dos elementos mais críticos. No último número da revista Questions Internationales, o analista Pierre Berthelot, pesquisador no Instituto Francês de Análise Estratégica, escreveu que “os israelenses consideram a água como um tema restrito á área militar, o que torna impossível os debates e os projetos inovadores e equilibrados”. De fato, devido ao bloqueio do processo de paz e, por conseguinte, ao trancamento de todas as negociações que o acompanham, as discussões sobre o acesso e repartição da água estão em ponto morto.
A única negociação que existe figura no marco dos acordos de Oslo II, firmados em 1995. Este acordo internacional, firmado conjuntamente por Israel, palestinos, Estados Unidos, Rússia, Jordânia, Egito e União Europeia, prevê um cálculo das necessidades palestinas da água para o período 1995-1999. O acordo deveria ser renegociado em 2000, mas por causa da segunda intifada nos territórios palestinos acabou suspenso. Isso conduziu a uma situação extremamente complexa, na qual, cada vez que os palestinos têm que perfurar para buscar água, dependem das autorizações de Israel, seja do Exército, seja do governo, seja do Joint Water Comitee (comitê misto composto por israelenses e palestinos).
Contudo, como assinalou ao vespertino Le Monde Stéphanie Oudot, do Departamento de Água e Saneamento da Agencia francesa de Desenvolvimento, “na prática são os israelenses que decidem e, em geral, a favor das solicitações israelenses e não palestinas”. Neste contexto, o informe parlamentar francês afirma que “os 450 mil colonos israelenses da Cisjordânia utilizam mais água que os 2,3 milhões de palestinos”. Os cálculos das ONGs israelenses e palestinas vão nesta direção: os palestinos consomem 70 milhões de metros cúbicos de água contra 222 milhões para os colonos israelenses.
O informe parlamentar francês levantou uma enorme polêmica entre Paris e Tel Aviv. Talvez mais pela terminologia empregada, considerada “viciada” pelo governo israelense, do que por seu próprio conteúdo. Em 2009, um informe do Banco Mundial (Assessment of Restrictions on Palestinian Water Sector Development) já havia denunciado o controle, por parte de Israel, da água na Cisjordânia. O mesmo informe do Banco Mundial apontou também a situação em Gaza, onde o acesso à água é ainda mais problemático. Segundo o Banco Mundial, em Gaza, “só 5% ou 10% dos recursos d’água correspondem às normas padrões de qualidade”.
Tradução: Katarina Peixoto
Elaborado pela Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional francesa, o informe, intitulado “Sobre a geopolítica da água”, descreve a gestão da água como “um novo apartheid no Oriente Médio”. Ao apresentar o informe, o deputado socialista Jean Galvany também destacou que, no que diz respeito ao acesso à água, “a prioridade é dos colonos em caso de seca, e isso representa uma infração do direito internacional”. Galvany ressaltou ainda que “os poços (de água) cavados espontaneamente pelos palestinos na Cisjordânia são sistematicamente destruídos pelo Exército”. O deputado citou ainda o caso de Gaza, onde, assegura, “as reservas de água foram alvo de bombardeios em 2008-2009”.
O governo israelense reagiu com grande virulência após a imprensa divulgar parte do informe parlamentar francês. Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria israelense, declarou que o deputado Jean Galvany havia “introduzido uma terminologia extrema no documento, no último momento e sem informar aos seus colegas”. Galvany negou as críticas israelenses, mas reconheceu que o termo “apartheid” poderia suscitar fortes reações. No entanto, observou o deputado “por causa da ausência de denúncias permite-se que se faça qualquer coisa”. Por outro lado, o governo palestino celebrou a publicação de um informe que mostra “o controle israelense sobre os recursos palestinos, sobre a água, e sua utilização em favor dos colonos e dos israelenses”.
Cada parte defende seu direito neste intrincado conflito onde a água é um dos elementos mais críticos. No último número da revista Questions Internationales, o analista Pierre Berthelot, pesquisador no Instituto Francês de Análise Estratégica, escreveu que “os israelenses consideram a água como um tema restrito á área militar, o que torna impossível os debates e os projetos inovadores e equilibrados”. De fato, devido ao bloqueio do processo de paz e, por conseguinte, ao trancamento de todas as negociações que o acompanham, as discussões sobre o acesso e repartição da água estão em ponto morto.
A única negociação que existe figura no marco dos acordos de Oslo II, firmados em 1995. Este acordo internacional, firmado conjuntamente por Israel, palestinos, Estados Unidos, Rússia, Jordânia, Egito e União Europeia, prevê um cálculo das necessidades palestinas da água para o período 1995-1999. O acordo deveria ser renegociado em 2000, mas por causa da segunda intifada nos territórios palestinos acabou suspenso. Isso conduziu a uma situação extremamente complexa, na qual, cada vez que os palestinos têm que perfurar para buscar água, dependem das autorizações de Israel, seja do Exército, seja do governo, seja do Joint Water Comitee (comitê misto composto por israelenses e palestinos).
Contudo, como assinalou ao vespertino Le Monde Stéphanie Oudot, do Departamento de Água e Saneamento da Agencia francesa de Desenvolvimento, “na prática são os israelenses que decidem e, em geral, a favor das solicitações israelenses e não palestinas”. Neste contexto, o informe parlamentar francês afirma que “os 450 mil colonos israelenses da Cisjordânia utilizam mais água que os 2,3 milhões de palestinos”. Os cálculos das ONGs israelenses e palestinas vão nesta direção: os palestinos consomem 70 milhões de metros cúbicos de água contra 222 milhões para os colonos israelenses.
O informe parlamentar francês levantou uma enorme polêmica entre Paris e Tel Aviv. Talvez mais pela terminologia empregada, considerada “viciada” pelo governo israelense, do que por seu próprio conteúdo. Em 2009, um informe do Banco Mundial (Assessment of Restrictions on Palestinian Water Sector Development) já havia denunciado o controle, por parte de Israel, da água na Cisjordânia. O mesmo informe do Banco Mundial apontou também a situação em Gaza, onde o acesso à água é ainda mais problemático. Segundo o Banco Mundial, em Gaza, “só 5% ou 10% dos recursos d’água correspondem às normas padrões de qualidade”.
Tradução: Katarina Peixoto
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