sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

“Jornal de Angola” ataca Acordo Ortográfico e recusa negócios



Luís Claro – i online

Em editorial, o jornal escreve que “há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios”

A polémica em torno do Acordo Ortográfico continua. Agora é a vez dos angolanos, que ainda não o ratificaram, criticarem duramente as novas regras. O “Jornal de Angola” faz duas críticas, em editorial, ao acordo, na sequência da reunião, em Lisboa, dos ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português”, escreve o “Jornal de Angola”, um dos países que não ratificou o Acordo Ortográfico.

O jornal defende que “os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos”, mas “nunca descer ao seu nível”, porque “é batota”.

E a seguir faz um apelo para que as diferenças entre os países sejam respeitadas. “Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a língua portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige. Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às leis do mercado”. “Os afectos não são transaccionáveis”, acrescenta.

O Acordo Ortográfico não foi ratificado por Angola e Moçambique e esse foi um dos aspectos invocados por Vasco Graça Moura, director do Centro Cultural de Belém, para defender que as novas regras não devem ser aplicadas em Portugal, o que já está a acontecer nos serviços do Estado. O escritor, assim que chegou ao CCB, decidiu deixar de aplicar o acordo e o assunto chegou mesmo a ser discutido no parlamento com o líder da oposição, António José Seguro, a pedir ao primeiro-ministro para “desautorizar” o novo presidente da instituição. O governo deu razão a Graça Moura e, pelo menos até 2014 não há acordo no CCB.

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