segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Não tenhamos dúvidas: Entrámos numa nova era de conflito aberto entre os EUA e a Europa"




Diogo Cavaleiro – Jornal de Negócios, com foto

O mundo caminha para uma globalização "sem precedentes desde a era do Neolítico". A Europa pode desempenhar um papel de domínio, os EUA estão ameaçados. De qualquer forma, "o novo paradigma vai levar a uma volatilidade estrutural nos mercados nos próximos anos", indica a casa de investimento francesa CM-CIC Securities.

Mais do que uma crise, o mundo está a viver uma “viragem radical”. A rivalidade entre a Europa e os EUA, com o início de uma “guerra cambial”, dita o início do século XXI. Considerações da casa de investimento francesa CM-CIC Securities, numa nota de “research” para o BNP Paribas.

Não foi a guerra entre o Islão e o Ocidente que marcou o arranque do século XXI. Foi sim a guerra iniciada no Verão de 2011, quando a Reserva Federal norte-americana cortou o acesso a financiamento aos bancos franceses, na sequência da redução do “rating” “AAA” dos EUA pela Standard & Poor’s. Foi o início da guerra cambial, escreve o analista Pierre Chedeville, da casa de investimento que pertence à rede ESN, de que faz parte a portuguesa CaixaBI.

“Não tenhamos dúvidas: Entrámos numa nova era de conflito aberto entre os EUA e a Europa”, considera a CM-CIC, indicando que os actuais confrontos “geoeconómicos” vão substituir os confrontos geopolíticos do século XX. Para a casa de investimento francesa, a oposição global continuará a ser entre a Europa e os Estados Unidos. A China vai desempenhar um papel importante no futuro, mas permanecer como figura secundária, por estar ocupada a recuperar o tempo perdido.

E quem vai ganhar a guerra cambial? Os EUA estão a substituir um império protestante anglo-saxónico por uma república protestante hispânica, escreve a CM-CIC, o que não irá facilitar a manutenção do papel central da maior economia do mundo.

“Pensamos que o actual caminho para a globalização, sem precedentes desde a era do Neolítico, dá mais garantias de progresso do que ameaça uma recessão. A Europa, cujo ADN está repleto de genes universais, humanísticos e científicos, tem tudo o que é preciso para voltar para o primeiro plano”, salienta Pierre Chedeville. Se é para evitar o colapso europeu, a Alemanha terá de partilhar os benefícios advindos da união monetária.

Aversão ao risco ameaça mundo agora que prudência é “princípio sacrossanto”

Os bancos “vão ter de desempenhar um papel” na recuperação económica da Europa. Contudo, há um outro risco ainda a pairar sobre os mercados, além da situação entre os dois continentes: a “excessiva aversão ao risco”.

Escreve a casa de investimento que a qualidade de apetite pelo risco, evidenciada por exemplo na Revolução Industrial, está a ser “ameaçada pela transformação da noção de precaução num princípio sacrossanto que governa todas as esferas da vida ocidental”.

Esta “obsessão” por um “risco zero”, apoiada pelas actuais exigências dos reguladores, vai ser mortal para os bancos que o aceitarem e também para a economia, já que vai impedir a geração de liquidez e bloquear a inovação empresarial. Com essa regra, os bancos vão morrer, mas morrem de boa saúde, critica o analista. O BNP será um dos que conseguirá escapar a essa queda.

É por isso que, na nota de “research” para o BNP Paribas, a CM-CIC Securities escreve sobre a “enorme viragem” que está a acontecer no mundo. Uma alteração radical que não é só financeira mas também moral. E que vai levar a uma “volatilidade estrutural nos mercados nos próximos anos”. Porque a sobrevivência dos bancos está dependente da sua capacidade de se adaptarem.

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