Diário de Notícias - Lusa
Sindicatos, autarcas e oposição estão contra a decisão do Governo de não dar tolerância de ponto aos funcionários públicos na terça-feira de Carnaval, que este ano calha a 21 de fevereiro.
"Julgo que ninguém perceberia em Portugal, numa altura em que nos estamos a propor acabar com feriados como o 5 de Outubro ou o 1.º de Dezembro ou até feriados religiosos, que o Governo pensasse sequer em dar tolerância de ponto, institucionalizando a partir de agora o Carnaval como um feriado em Portugal", anunciou o primeiro-ministro.
"Esta é mais uma medida inadmissível e que mostra a opção do Governo em castigar os trabalhadores com mais um dia de trabalho", disse o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, à agência Lusa. O sindicalista disse ainda que acredita que "muitas empresas privadas vão manter este feriado, porque isto não tem nada a ver com produtividade".
Por seu lado, Ana Avoila, da Frente Comum, acusou o Governo de "andar o ano inteiro a brincar ao Carnaval" e prometeu uma resposta adequada. "Não vale a pena senhor primeiro-ministro dizer que não se percebia [dar a tolerância] porque o que não se percebe é o Governo enganar os trabalhadores, fazer-se de social-democrata e andar o ano inteiro a brincar ao Carnaval com políticas reacionárias e de empobrecimento dos trabalhadores", disse Ana Avoila à Lusa.
Para o PCP, a decisão do Governo significa "acrescentar mais um dia de trabalho forçado e não pago aos trabalhadores". Segundo Paulo Raimundo, da comissão política do comité central do PCP, é "acrescentar aos quatro feriados cortados, já anunciados pelo Governo, mais este dia".
O presidente da câmara de Torres Vedras, Carlos Miguel (PS), já prometeu que os cabeçudos, matrafonas e outros mascarados do típico Carnaval local se vão manifestar no dia 18 frente à residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa. "Vamos entregar ao senhor primeiro-ministro um monumento fúnebre por não haver tolerância de ponto", adiantou o autarca.
"A decisão do Governo vai trazer consequências muito negativas para os concelhos onde o Carnaval tem maior tradição e onde as organizações investem quantias significativas", disse à Lusa Seruca Emídio, presidente da câmara Municipal de Loulé, no Algarve.
"Com esta postura, Passos Coelho revela que desconhece a realidade do país, em particular de dezenas de municípios - talvez já centenas - que fazem do Carnaval um evento que gera riqueza a nível nacional", afirmou o presidente da Fundação do Carnaval de Ovar, José Américo Sá Pinto.
O ex-presidente Mário Soares lembrou que em 1993, o então primeiro-ministro Cavaco Silva decretou que nesse Carnaval não haveria tolerância de ponto (pela primeira vez em 23 anos). "Lembro-me dessa altura e de como foi difícil na altura para ele [Cavaco Silva], que quis fazer isso", limitou-se a afirmar Mário Soares.
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