terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

PEDRO ROSA MENDES, ANGOLA, PORTUGAL E A CENSURA NA RDP




Suspensão de "Este Tempo" deveu-se a crónica de Rosa Mendes


O ex-diretor adjunto de informação da RDP, Ricardo Alexandre, afirmou, esta terça-feira, que o ex-diretor de informação da estação pública lhe disse que o programa "Este Tempo" era suspenso por causa da crónica de Pedro Rosa Mendes sobre Angola.

"O ex-diretor de informação, João Barreiros, disse-me que tinha sido por causa da crónica do Pedro Rosa Mendes sobre Angola", disse hoje Ricardo Alexandre, na Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, na Assembleia da República, sobre a suspensão do programa "Este Tempo", emitido na Antena 1.

Na crónica em causa, o jornalista Pedro Rosa Mendes lançou fortes críticas ao programa da RTP 1 "Reencontro", emitido no dia 16 de janeiro a partir de Luanda, e que contou com a presença, entre outros, do ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, além de empresários de grandes empresas portuguesas.

Respondendo às questões dos deputados, o ex-diretor adjunto de informação da RDP disse não ter qualquer indicação sobre a interferência da tutela nem da administração da RTP, tendo apenas transmitido aos cronistas do programa a justificação que lhe foi dada por João Barreiros e alegadamente tomada pelo diretor-geral, Luís Marinho.

"Não tenho nenhum dado que me permita levantar suspeitas sobre a interferência da tutela e nunca falei na administração da RTP. Limitei-me a justificar aos cronistas o fim do programa 'Este Tempo' com a justificação que me foi dada pelo [então] diretor de informação [João Barreiros] de que o diretor-geral da RTP, [Luís Marinho], não queria renovar os contratos por causa daquela crónica de Pedro Rosa Mendes sobre Angola", declarou.

Na audição, Ricardo Alexandre disse que tomou conhecimento da suspensão do programa no dia 23 de janeiro, pelo então diretor de informação, João Barreiros, rejeitando que o fim do programa estivesse a ser equacionada.

"A minha convicção é que se se estivesse a discutir a reestruturação do programa é porque não ia acabar", adiantando que março era a data prevista para a referida reestruturação do programa, altura em que será reestruturada a grelha de programas.

Na Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, Ricardo Alexandre disse que, no dia seguinte à conversa com o seu superior hierárquico, João Barreiros terá repetido a três subdiretores de informação a mesma justificação para a suspensão do programa.

"Houve uma conversa informal entre o então diretor de informação e três subdiretores, em que voltou a ser mencionada essa justificação. Dois dos subdiretores disseram-me", afirmou, escusando-se a revelar os seus nomes "por falta de autorização para tal".

Ao fim de cerca de hora e meia de audição, Ricardo Alexandre revelou "algum desconforto" ao ouvir os deputados referirem "uma nova versão dos factos", realçando que "ao dizer a verdade" fica "numa posição fragilizada na empresa".

Na semana passada, o diretor de Programação da RDP, Rui Pêgo, garantiu no Parlamento que "a decisão partilhada" de acabar com o programa "Este Tempo" foi tomada no dia 11 de janeiro, explicando que a decisão da direção de Programação foi partilhada com a direção de Informação da Antena 1, na altura dirigida por João Barreiros, e tomada numa reunião que aconteceu oito dias antes da crónica de Pedro Rosa Mendes (18 de janeiro), em que o jornalista criticou o programa "Reencontro", gravado e emitido pela RTP em Luanda em 16 de janeiro, no qual participaram vários empresários portugueses e membros do Governo português e angolano.

Também João Barreiros sustentou na comissão parlamentar para a Ética, Cidadania e Comunicação que a decisão foi tomada no dia 11 de janeiro e que a mesma tinha sido comunicada a "alguns elementos da redação" que podem "testemunhá-lo".

De resto, sublinhou ainda o ex-diretor de Informação da RDP, o seu adjunto na altura, Ricardo Alexandre, afirmou isso mesmo ao conselho de redação da rádio.

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