Carlos Fonseca - Aventar
Penia, Poros e Eros
Na mitologia grega, Penia é a personificação da pobreza. Uniu-se a Poros, a esperteza, no Banquete platónico, tendo, dessa união, nascido Eros, deus do amor. Esta é uma das versões da origem de Eros. Existem outras.
A trilogia da penúria, da esperteza e da felicidade simbolizam a preceito o actual momento político do País. A penúria do empobrecimento como objectivo apologético governamental, a esperteza, reles e grosseira, usada a eito pelo governo de Coelho e Portas; e finalmente, o paraíso como capciosa visão do PM e Vítor Gaspar, entoada em baladas e balelas do ‘ponto de viragem’.
Em relação à concepção da política da pobreza e a sua inevitabilidade, já há muito que a contestação transbordou para o interior de círculos próximos dos partidos do governo. Bagão Félix, de resto na continuidade de críticas anteriores, discorda da ideia fatalista de que o País tem de empobrecer. Concordo. Rogo-lhe que, entretanto, o transmita ao seu amigo Paulo Portas. Sempre seria um serviço aos portugueses, embora desconfie do sucesso da iniciativa.
As multinacionais servem as crueldades à 6.ª feira
Na senda da liberalização das leis laborais, e conquanto o governo ainda não tenha finalizado o processo de agravamento decorrente do famigerado ‘acordo de concertação social’, a PSA Mangualde anuncia o despedimento 450 trabalhadores.
O “timing” de anunciar a medida é escrupulosamente escolhido, uma 6.ª feira. É uma velha táctica das multinacionais, replicada, diga-se, por empresas nacionais. O último dia de semana laboral é o tempo privilegiado para despedir. Minimizam-se perturbações internas e os trabalhadores, com o fim-de-semana manchado, que afoguem as mágoas entre família e amigos. Com uns copos à mistura, se necessário.
Alega a PSA Mangualde que as vendas de viaturas estão em queda. Acredito. Estão em queda e assim vão continuar, acrescento. Operando em conjugação com fábricas do grupo em Vigo, igualmente alvo de despedimentos, à PSA de Mangualde e a muitas outras empresas é vedado alimentar expectativas de que os mercados de Espanha e Portugal, em crise económica e com mais de 6 milhões de desempregados, permitam ou potenciem o desenvolvimento de negócios.
É, de facto, nesta complexa trama em que a Europa está enclausurada. Especialmente, e por ora, a do Sul. Até quando? Não há previsões. Com a maioria dos políticos actuais, de fraquíssima qualidade ou mal-intencionados, o cenário de melhoria é uma miragem.
Sem comentários:
Enviar um comentário