Deutsche Welle
O dinheiro que desapareceu dos cofres do governo angolano corresponde a quase 28% do PIB do país em 2011. ONGs pediram ao FMI que pressione Angola ao bloquear empréstimos. Mas o fundo liberou mais 130 milhões de dólares.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) desembolsou, na última quarta-feira (28.03), a tranche final do empréstimo solicitado por Angola, em 2009, apesar dos apelos contrários feitos pelas ONGs de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) e Revenue Watch Institute.
Para estas organizações, o congelamento do empréstimo seria uma forma de pressionar Luanda a justificar, de forma satisfatória, o desaparecimento de somas avultadas dos cofres do Estado e a implementar mais medidas para o fim da corrupção e o aumento da transparência.
Em entrevista à DW África, Jean-Marie Fardeau, da HRW, explica melhor o que os moveu nesta iniciativa gorada.
DW África: Por que a HRW e o RWI solicitaram ao FMI que não disponibilizasse a última parcela do empréstimo a Angola?
Jean-Marie Fardeau: A Human Rights Watch e a Revenue Watch são as duas organizações que decidiram solicitar ao FMI que não desbloqueie os 130 milhões de dólares para Angola, por causa de uma questão que temos há vários meses sobre a utilização, pelo governo angolano, de 32 mil milhões de dólares que estão faltando na contabilidade nacional do país.
Para nós, as respostas de Angola, depois dessa descoberta, não são suficientes e não correspondem à esperança que temos de ter certeza de que este dinheiro foi usado no interesse do povo angolano.
DW África: Mas, ao impedir a libertação da última tranche também os projetos de desenvolvimento de Angola podem ficar comprometidos.
JMF: Para nós, a questão da má gestão e da corrupção são coisas muito importantes, que prejudicam ainda mais o desenvolvimento de um país que o fato de receber, agora ou daqui há um mês, um empréstimo de 130 milhões de dólares.
Sabemos que Angola fez esforços para melhorar a transparência da contabilidade ligada à exploração petrolífera do país. Mas esse problema dos 32 mil milhões de dólares, o fato de que a comissão de investigação que foi nomeada pelo governo não deu ainda os resultados completos, cria uma situação que para nós não justifica a liberação de 130 milhões de dólares.
Este dinheiro é só uma parte de um empréstimo de mais de mil milhões de dólares, cuja maior parte já foi dada a Angola.
DW África: Apesar do não esclarecimento do desaparecimento desses 32 mil milhões de dólares dos cofres do Estado angolano, o país recebeu elogios do FMI pelo bom desempenho económico. Isso não constitui um paradoxo?
JMF: Sim, é um paradoxo ver o FMI felicitar Angola pelo desempenho económico, apesar de continuarem em Angola os problemas de má gestão e de falta de transparência sobre o uso do dinheiro público.
Também é importante lembrar que Angola continua numa posição muito afastada em relação ao nível de desenvolvimento económico e de desenvolvimento humano. Ocupa a posição de número 148 entre os países do mundo em relação ao desenvolvimento humano - da educação das crianças e da saúde - apesar dos recursos enormes do país. Então, essa diferença entre o desenvolvimento económico e o desenvolvimento humano é obviamente um problema para nós.
DW África: A HRW vê algum tipo de melhoria em Angola no que diz respeito à transparência e à corrupção?
JMF: A HRW e o RWI consideram que o governo de Angola adotou algumas medidas para melhorar a transparência e a gestão do setor petrolífero. Mas, para nós, isso ainda não é suficiente.
Faltou ao FMI a oportunidade de pedir a Angola que melhore ainda mais a gestão dos recursos naturais e financeiros do país, que já permitiram a Angola limitar e reduzir a dívida externa, mas continuam os problemas de uso do dinheiro em benefício do povo e das necessidades sociais do país. Esse problema do uso do dinheiro público é uma questão que, para nós, ainda não está resolvida em Angola.
Autora: Nádia Issufo - Edição: Cris Vieira/Renate Krieger
1 comentário:
OH JES proibe a Mini Saia em Angola
Os casos de corrupção surgem em jato, ameaçando os políticos no poder. Sobe inexoravelmente o custo de vida, com gasolina e outros bens essenciais cada vez mais inacessíveis ao cidadão médio. O escândalo e o caos andam de mãos dadas. Perante este cenário, que faz o governo? Ataca as mini-saias. Parece bizarro, mas é o que sucede na Indonésia, como aliás em vários outros países. A moralidade, já em tempos dizia um sábio, é a arma dos patifes. Na Indonésia, maior país islâmico do mundo, essa jogada tem eficácia garantida. O presidente Yudhoyono acaba de encomendar ao seu ministro dos assuntos religiosos, um tal Suryadharma, uma campanha anti-pornografia que se pretende muito ampla. O objectivo final, tão nobre de aspeto como impossível, é extinguir finalmente no país o deplorado flagelo. A incluir na definição de pornografia fica tudo o que sejam roupas (femininas, claro) acima do joelho. Porque todos sabemos, diz um porta-voz parlamentar, aquilo que as roupas provocadoras levam os homens a fazer. São culpa das mulheres, conclui-se, os milhares de violações que acontecem no arquipélago. O dito ministério por acaso é o mais rico do governo, e enfrenta ele próprio um escândalo com o desaparecimento de milhões de dólares referentes aos juros do dinheiro adiantado por candidatos à peregrinação a Meca. Mas a autoridade do ministro não terá ficado comprometida. Afinal, o que são uns milhões entre fiéis de pureza segura? Desde que ninguém faça a viagem em mini-saia...
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