FP - Lusa
Bissau, 04 mar (Lusa) - A Guiné-Bissau é um país onde se vive com medo, onde perde o emprego quem tem opiniões e onde falta liberdade, acusou hoje Henrique Rosa, candidato independente às eleições presidenciais de dia 18.
Henrique Rosa percorreu ao fim da tarde de hoje vários bairros periféricos de Bissau, numa caravana automóvel, e se no bairro de Pessak ouviu palavras de apoio o que na verdade mais se falou foi da falta de uma estrada.
E foi dela que o candidato falou, já no bairro de S. Paulo, para alguns apoiantes, garantindo que, se for eleito, a estrada "não ficará assim", porque o que existe "não é estrada de pessoas" mas uma fonte de preocupação na época das chuvas.
Era o mote para falar depois da situação da Guiné-Bissau, onde pessoas combateram durante 12 anos pela liberdade e pelo desenvolvimento. "E o que temos hoje? Não temos nada. Temos uma terra onde as pessoas vivem com medo, de mostrar a cara, medo de serem despedidos se não votarem neles", disse, referindo-se ao governo e ao partido no poder mas sem nunca referir nomes.
"Há professores, diretores gerais, que estão a ser expulsos dos serviços, os funcionários têm medo, porque se declararem apoio a Henrique Rosa são expulsos. Que tipo de país é este?", questionou, acrescentando que o mesmo se passa com quem declare o apoio a outros candidatos, como Serifo Nhamadjo, Kumba Ialá ou Baciro Dja.
Apesar de ter acabado a ditadura, "os filhos da Guiné não têm liberdade", disse, acrescentando que é preciso que os guineenses se juntem e que saibam dizer não, porque "infelizmente" a única coisa que sabem dizer é "djetu ka tem" (não há outro jeito).
"Que isto acabe na Guiné. E tem de ser com outras pessoas, não com as que estão há 40 anos no poder, 40 anos a enganar-nos, a tratar-nos como crianças", disse.
Ainda que os apoiantes não fossem muitos, e que a maior parte até fossem crianças, Henrique Rosa falou emotivamente durante 15 minutos. Pediu o voto para em conjunto construir o país e não estar à espera que sejam "os brancos", os senegaleses ou os mauritanos a construir a Guiné.
E depois, acrescentou, os guineenses têm de deixar de pensar em emigrar para Portugal, para França ou para a América, têm de ter vergonha e serem eles a construir o país. "Quem construiu Portugal? Não foram os portugueses? E a França? E a América? E nós estamos à espera de que eles venham construir o nosso país? Temos de deixar de ser preguiçosos", disse.
É que, acrescentou, a Guiné-Bissau precisa de confiança e de dirigentes corajosos, que gostem do país e valorizem os guineenses, e no dia 18 é preciso "coragem para mudar".
E ele, garantiu, é o candidato certo, um "homem de paz", com quem não haverá "bons e maus filhos da Guiné". E sobretudo uma Guiné com dignidade: "não queremos dinheiro, queremos respeito, mesmo comendo mal queremos ser tratados com respeito".
Fim do discurso e Henrique Rosa partiu. Deixou autocolantes e crianças felizes, acenou a mulheres que trabalhavam nas hortas, a mães que davam banho aos filhos, a homens curiosos, sentados à beira da estrada, quando o sol já quase desparecia atrás das palmeiras e mais dois bairros esperavam a sua visita.
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