sábado, 21 de abril de 2012

PODERÁ O TAL CROCODILO TIMORENSE DAR UMA “TRINCA” EM MOTA SOARES?



António Veríssimo

MENINO MOTA PASSEIA POR TIMOR-LESTE ENQUANTO PORTUGUESES PASSAM FOME

O ministro português Mota Soares está neste momento em visita a Timor-Leste. Alegadamente, faz esta viagem para assinar um protocolo de cooperação na próxima terça-feira. O protocolo, que vai vigorar até 2014, visa apoiar Timor-Leste na criação de um sistema de segurança social e contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

Durante estes quatro dias de visita oficial em Timor-Leste, o ministro português vai deslocar-se a vários distritos do país, nomeadamente Aileu, Baucau, Viqueque, Lautém e Oeucussi, para visitar projetos que envolvem crianças e idosos timorenses apoiados por Portugal.

Do programa constam também encontros com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e com o Presidente, José Ramos-Horta. A informação é da Lusa.

Mesmo com muito boa vontade não será fácil vislumbrar a utilidade prática desta visita ministerial. Admitia-se (que remédio!) nos tempos coloniais aquelas andanças de protocolos com cerimónias de assinaturas e umas visitas aos pobrezinhos nas obras de caridade e de mata-borrão da dignidade dos colonizados. Postura colonial-frustrada destes tempos que Mota Soares mal disfarça. Assim como mal disfarça a sua preferência pela caridadezinha. E para que nela se possa espraiar e prazenteiramente estender-se ao comprido, babando-se de gozo, integra um governo e toma medidas no seu ministério, em Portugal, que semeia miséria por tudo quanto é sítio, criando dificuldades e inacessibilidades aos que sobrevivem na miséria. Depois surge ufano afirmando orgulhosamente que criou Cantinas Sociais aos magotes, onde os portugueses devem ir matar a fome. Qual Sidónio Pais dos anos 40 e outros da realeza, ou os de Salazar, que semeavam e miséria com as suas políticas e privilégios direcionados para os de sua laia, causando desemprego, perda de habitações, fragmentação de famílias, e submissão através da fome. Mota Soares é um dos dessa Máquina Infernal bem estacionada numa beco da direita reacionária que está a fazer ajustes de contas com tudo que de positivo o 25 de Abril de 1974 proporcionou aos portugueses mais desfavorecidos, aos trabalhadores, às crianças e às pessoas de mais idade e já no inverno da vida.

E agora foi passear a Timor-Leste. E visita o interior para mirar a pobreza, a miséria, a fome que o governo de Xanana Gusmão não tem conseguido estancar devido, entre outras razões, à enorme corrupção que mina o governo timorense de que é primeiro-ministro.

E agora, este menino mota, foi passear a Timor-Leste, gastando umas pipas de euros, para assinar um protocolo, passear, divertir-se. Cheirar as terras de um digno povo que ele deve apreciar como inúmeros colonialistas o faziam: olhando e considerando-os sub-seres humanos. O que aliás aprendiam desde meninos nos cromos das raças humanas de que faziam coleção em cadernetas todas certinhas.

Mota Soares começou de imberbe numa direita ressabiada que tinha e tem por hino o “Oh Tempo Volta P’ra Trás”, por assim ser passou a militar no CDS (à falta de mais à direita) poucos anos depois de ter largado o bibe do infantário. Dirigiu a Juventude Centrista nos anos 90. Note-se que nasceu um mês depois da Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974. Mas nem por isso foi possuído pelo aroma dos cravos, antes pelo contrário: aprendeu a abominar tal símbolo, como é de pecha dos meninos motas…. O Zeca Afonso canta-os, com desdém, com umas pinceladas oportunas e incisivas sobre os seus parasitarismos. Eles estão aí, agora, a governar. Melhor, a governarem-se e aos de sua laia. A destruir o que levou tantos anos a construir. A liberdade, a democracia, a justiça social que aos poucos vão desmantelando.

E então o que foi fazer este menino mota (do Zeca) a Timor-Leste? Levar ensinamentos para subjugar ainda mais o povo timorense? Foi dar umas aulas de como devem proceder para semear ainda mais a pobreza, a miséria, a fome, naquele país? Foi apreender com os corruptos de Xanana Gusmão? Foi sacar umas aulas avançadas e aceleradas sobre corrupção para trazer novos métodos e descaramentos aos políticos da praça portuguesa? Vai ensinar, aprender, trocar opiniões e experiências? Foi simplesmente passear e sobrevoar mares e terras tão longínquas que os antanhos de Portugal encontraram e mostraram ao mundo? O que foi lá fazer de tão imprescindível que justifique o “gastario”? Isso, quando a recomendação para os portugueses é a de passarem fome… Ou comerem nas Cantinas Sociais… E se não se vergarem e sujeitarem… Pois que morram! Que é o que está a acontecer.

Repare-se numa medida bem atual defendida por Mota Soares e por este governo de ressabiados de Portugal: o Plafonamento das Contribuições da Segurança Social. Que é nada mais nada menos do que limitar um teto máximo para as contribuições por parte daqueles que têm grandes ordenados, ordenados tantas vezes excessivos e imorais. Até aqui os de maiores ordenados contribuíam muito mais para a Segurança Social que os de menores ordenados e recursos. Exatamente para que as suas contribuições fossem razão de maior sustentabilidade e equilíbrio da “máquina social”. Ora, assim, como quer Mota Soares e o seu Bando de Mentirosos, vai passar a existir menor saldo contributivo, maior desequilíbrio, mais medidas restritivas, mais carências na saúde e assistência social, etc. Ele quer construir uma segurança social para os pobres – aquela que está a destruir. E outra para os ricos ou, pelo menos, que têm ordenados muito maiores e recorrerão aos seguros, à iniciativa privada. Mais clientes para os seguros, melhores cuidados de saúde para os ricos, tudo de pior para os pobres. Fazendo ciom que os pobres sejam cada vez mais pobres, morram mais cedo… por falta de recursos.

É isso que Mota Soares “levou” para Timor-Leste? Os timorenses levaram quase 25 anos para se libertarem da ocupação e injustiças de Shuarto, e agora vão cair nas redes traiçoeiras e elitistas de Mota Soares? Cuidado, porque só pode ser isso que ele leva na bagagem e naquela cabecinha de menino mota.

Entretanto, quando regressar, depois de bem passear, já gastou uma pipa de euros para contribuir para a elevação da despesa que o governo a que pertence disse ir baixar mas que nem por sombras é o que está a fazer. A despesa aumenta com o governo de Passos também com estas passeatas inusitadas de tipos como Mota Soares. E, além do mais, de bom nada irá levar ao povo de Timor-Leste. A não ser a caridadezinha, de que Ramos Horta também é um acérrimo praticante. Coisas das igrejas e dos beatos exacerbados. Mas, entre Mota Soares e Ramos Horta vai uma grande diferença. A favor de Ramos Horta, para muito melhor.

Poderá o tal crocodilo timorense dar uma “trinca” em Mota Soares?


3 comentários:

Anónimo disse...

Caro António Verissimo,

Esqueceu dizer que a estratégia foi toda montada pelo Sr. Embaixador de Portugal em Dili.
Um acerrimo defensor das Opus Dei e companhia limitada.

Beijinhos da Querida Lucrécia

Aí se Lucrécia pudesse soltar a lingua

Página Global disse...

Aceitam-se dicas por email, com absoluto sigilo. Temos cá um poço chamado AV.

PG

Anónimo disse...

OS MESMOS CONDIMENTOS EM TODOS OS CENÁRIOS CPLP!!!

1 - "Do Minho a Timor" dum lado surge o capital (e seus cada vez mais identificáveis "mercadores políticos"), com todo o seu circo de ementas e de truques, "persuadindo" com uma globalização matriz dos desequilíbrios "ao sabor do império"!...

2 - Do outro lado os povos (com suas cada vez mais identificáveis resistências políticas e institucionais), que rangem sob a ditadura do capital e, mesmo que haja direito a voto para qualquer tipo de "representação", sofrem os programas que lhes são impostos duma maneira ou de outra, no intervalo imenso entre cada eleição!...

3 - Pouco a pouco os espectros políticos de cada um dos CPLP vai reflectindo essa contradição que vai ficando insolúvel e pode quebrar toda e qualquer frágil harmonia, quando a situação humana de qualquer deles (e agora até a de Portugal), continua a ser de subdesenvolvimento crónico e de enorme marginalidade!

4 - Cada vez mais se está a perder a oportunidade da paz, do diálogo franco, aberto e transparente, de cidadania e de participação, de consenso e de mobilização para as tarefas de luta contra o subdesenvolvimento, a marginalização e todo o cortejo de males sociais que um quadro dessa natureza implica!

5 - Salvar-se-á o Brasil, dirão alguns, todavia, tanto nas áreas das grandes cidades, como nas áreas rurais, os marginalizados sofrem a represão e estão longe de obter direitos que se coadunem com os padrões duma sociedade democrática progressista avançada!

Martinho Júnior.

Luanda.

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