quarta-feira, 9 de maio de 2012

AS VEIAS ABERTAS DE ÁFRICA – III



Martinho Júnior, Luanda

Os êxitos do BES em África são reflectidos nos seus Relatórios de 2010 e 2011, ainda que muitos dados tenham sido trabalhados e preparados para consumo da opinião pública.

O maior dos êxitos em África tem sido conseguido em Angola, não só por via do Banco Espírito Santo Angola (BESA), mas também por via do outro instrumento de que se serve, inclusive enquanto poderosa “correia de transmissão” e “alavanca” para a formação capitalista, “inteligente” e elitista: o ESCOM!


“O Banco Espírito Santo Angola (BESA) assinalou a 24 de Janeiro deste ano uma década desde o início da actividade bancária em Angola.

De acordo com o banco o BESA é actualmente o Banco mais rentável e que mais crédito concedeu à economia, performance que resultam da solidez financeira do Banco e da sustentabilidade da estratégia de negócio no País.

Há dez anos no mercado bancário angolano, o BESA, que também é Banco Oficial do Planeta Terra, conta com 34 agências no País e 600 colaboradores”.

Ricardo Espírito Santo Salgado, apesar de tudo, parece ter sido mais cauteloso em relação ao BESA em Angola (o administrador é um angolano, Hélder Bataglia), do que em relação a Moçambique, se levarmos em conta a expulsão do administrador português do MOZA BANCO, José Alexandre Maganinho Pinto Ribeiro…

O ESCOM surge em Angola antes do BESA, tirando partido do engodo que constituía o sector dos diamantes, integrando a geo estratégia do Bilderberg que dá pelo nome de Ricardo Espírito Santo Salgado!

Os interesses surgiram em cima dos acontecimentos: Savimbi enquanto entidade de referência política em Angola estava no ocaso pelo que, acabada a saga dos “diamantes de sangue”, para os tentáculos do Bilderberg em Angola era necessário começar uma nova saga, identificada por inteiro com os expedientes da globalização capitalista, elitista e neo liberal, tirando partido da doutrina de choque que serviu para implantar seus próprios interesses, tal como acontecia em muitos outros lugares da Terra, com “revoluções coloridas”, “primavera árabe”, ou por via de todo o tipo de tensões, conflitos, manipulações, ingerências e guerras!

É precisamente no fim do choque provocado pelos “diamantes de sangue”, que a globalização estimulada pela aristocracia financeira mundial abriu bancos e interesses como o BES – BESA – ESCOM!

Portugal estava de há mais de uma década suficientemente moldado, esbatendo-se nesse fundo característico da globalização conforme à União Europeia as vitórias conseguidas com o 25 de Abril e ali onde as elites políticas portuguesas do CDS, do PSD e do PS não poderiam melhor interferir, interferiam interesses como os que escorrem na direcção de Angola por via dos múltiplos mecanismos financeiros do BES!

É assim que vai sendo conseguido o retorno dos portugueses a Angola, não mais dos “retornados” que beneficiaram dos bons ofícios norte americanos (sob a inspiração de Frank Charles Carlucci) que financiaram a ponte aérea e o IARN em 1975 mas, no sentido inverso (e ainda sob a inspiração do mesmo), de alguns importantes excedentes de desempregados atingidos por uma crise que tem as mesmas raízes financeiras: fecham a torneira de Portugal e abrem a torneira “emergente” duma Angola de portas escancaradas, comparativamente tanto ou mais do que a “experiência” de Boris Yeltsin com o desmembramento da URSS e o surgimento da “nova entidade” russa!...

O BES, por via dos seus tentáculos BESA e ESCOM integra com toda a ironia e cinismo o “Capitalismo com justiça social”, a que se refere, com todo o servilismo que o caracteriza, o actual Director do Jornal de Angola (http://jornaldeangola.sapo.ao/19/43/capitalismo_com_justica_social)!


“A linha social democrata cada vez mais vazia de afirmações como as enunciadas pelo Director do Jornal de Angola, duma social democracia hipócrita, convertida ao liberalismo conforme aos postulados da corrente globalização, foram tão incisivas que até o enunciado do socialismo democrático, o socialismo democrático com que se faz identificar o MPLA (conforme acontecia há cerca de um ano), se apagou como que por magia do vocabulário empregue no tal artigo e como se todos aqueles que ao longo de décadas de movimento de libertação se pudessem deixar subverter em consciência por algum ilusionismo deste género!

Como se isso não bastasse, socorre-se do que diz respeito ao crescimento, para confundir o que é efectivamente do foral do desenvolvimento sustentável, que tem a ver também com equilíbrios sociais, com solidariedade social, com comportamentos assumidos sobretudo por via de organizações sociais, com a luta contra o subdesenvolvimento, com políticas e ideologias vocacionadas para o homem e para o respeito para com a natureza!”…

O ESCOM é um conjunto alargado de investimentos em sectores como cimentos, energia, imobiliário, mineração, obras públicas e “oil & gas”, o que identificam por si o tipo de inteligência económica, financeira e sócio-política em curso!

Dados os “timings” e a oportunidade da chegada dos interesses sob condução de Ricardo Espírito Santo Salgado a Angola, é interessante constatar o que na página do ESCOM se refere aos diamantes (http://www.escom-group.eu):

“O negócio da mineração do grupo Escom está concentrado em Angola.

Presente em 15 concessões diamantíferas, uma em exploração e as restantes em fase de pesquisa e prospecção, tem como principais parceiros a Alrosa, a Endiama e mais um conjunto alargado de parceiros locais angolanos.

Nestes projectos trabalham actualmente mais de 1000 pessoas.

Em 2005 entrou em produção o projecto do Luó – Sociedade Mineira do Camatchia Camagico que, a breve prazo, tratará seis milhões de toneladas de minério/ano.

Deverá ser uma das 10 maiores minas de diamantes do mundo.

É um projecto participado pela Escom que tem uma posição de 45% na sociedade.

Os restantes participantes - Endiama, Hipergesta e Angodiam - são empresas de capital angolano.

Em 2005 o governo angolano atribuiu 14 concessões diamantíferas à parceria Escom / BHP Billiton.

Estão neste momento em fase de prospecção.

A parceria entre os dois grupos foi formalizada em 2003, tendo recentemente a BHP Billiton que alterar de estratégia global de portfolio de negócios, decidindo reduzir a sua presença no sector mundial de diamantes.

Em Janeiro de 2009 propôs à Escom a sua saída do projecto, tendo esta adquirido a posição accionista da BHP Billiton e mantido todo o corpo técnico da BHP em Angola que se mantém nas estruturas agora detidas pela Escom e mantido o seu apoio durante o período de prospecção remanescente através de um acordo de assistência técnica.

Mina do Luó

O Luó é um dos mais importantes projectos mineiros de Angola actualmente em exploração e espera-se que venha a figurar entre as 10 maiores minas de diamantes do mundo.

Em produção desde 2005, o projecto avançou, numa primeira fase, com uma fábrica piloto com capacidade de tratamento de 1 milhão de toneladas .

Em 2006 foi concluída uma das obras mais importantes do projecto: o desvio do rio Chicapa.

A sua construção envolveu um grande número de meios mecânicos e humanos para a remoção de cerca de 2 milhões de metros cúbicos de terras e rocha e edificação de diques com um volume de 600 mil metros cúbicos, numa extensão de aproximadamente 3 km.

O próximo grande desafio do Luó é a construção da central de tratamento principal, com uma capacidade de tratamento de 6 milhões de toneladas / ano”.

É evidente que houve um concerto “acima” do BES e do poderoso grupo BHP Billiton, para que o ESCOM assumisse preponderância em Angola.

A posição “emergente” do ESCOM em Angola, no sector dos diamantes, é contemporâneo de vários fenómenos e entre eles podem-se destacar as dificuldades acrescidas para a Sociedade Portuguesa de Empreendimentos, de capitais públicos portugueses, na Sociedade Mineira do Lucapa, único empreendimento a que se encontra ligada (http://www.angolanainternet.ao/portalempresas/index.php?option=com_content&task=view&id=884&Itemid=79)!

Enquanto crescem os interesses da globalização por via do BES, de acordo com a geo “estratégia triangular”, desaparecem do mapa consórcios como o BHP Billiton (com menor sentido prático sócio-político-cultural), têm imensas dificuldades interesses públicos portugueses por via do SPE e crescem os interesses privados angolanos como a Hipergesta e a Angodiam, no âmbito das famosas “parcerias público-privadas”, neste caso com a ENDIAMA!

O Bilderberg manifesta-se como um dos factores tendentes a fazer fermentar, impulsionar e controlar a plataforma elitista angolana, intimamente associada aos projectos com lógica capitalista neo liberal e de acordo com o percurso e as geo estratégias da globalização!

Foto: As 4 torres do “Sky Center” pertencentes à ESCOM coroam imponentes, em plena paisagem urbana da “nova” Luanda, o edifício do Banco Nacional de Angola.

Não são só arquitecturas e engenharias de épocas distintas, são também símbolos financeiros com a marca do tempo.

Será por acaso que a verticalidade das 4 torres da ESCOM contrasta com a horizontalidade do edifício do BNA?

Será por acaso que as 4 torres aproveitaram a curva de nível subjacente à baía de Luanda, próximo da Embaixada dos estados Unidos, enquanto o edifício BNA jaz em plena Marginal?

Veja-se a propósito:

- Torre mais alta de Luanda abre este mês – http://aeiou.expresso.pt/torre-mais-alta-de-luanda-abre-este-mes=f533582


* Ver todos os artigos de Martinho Júnior – ligação também em autorias na barra lateral.

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