CLI - Lusa
Cidade da Praia, 21 mai (Lusa) - O escritor Dalton Trevisan, distinguido hoje com o prémio Camões, é um "ilustre desconhecido" nos meios literários cabo-verdianos, sendo poucos os escritores que afirmam ter algum conhecimento da sua obra.
Os escritores cabo-verdianos ouvidos hoje pela agência Lusa afirmam não conhecer a obra do autor, sendo que alguns disseram ser a primeira vez que ouviam o nome dele.
A escritora Ondina Ferreira, assim como o linguista Manuel Veiga, ambos antigos ministros da Cultura do país, afirmaram à Lusa não conhecer o autor de "O Vampiro de Curitiba".
"É a primeira vez que ouço falar dele, mas acredito que a falha seja minha; por isso não posso comentar a atribuição do prémio", disse Ondina Ferreira.
Também o escritor Germano Almeida disse que Trevisan é, para ele, "é um ilustre desconhecido".
"Nunca ouvi falar dele. Mas isso não quer dizer que ele não seja conhecido lá fora, ou que não seja um grande escritor. Hoje em dia, em Cabo Verde, conhecemos mal os escritores brasileiros", garantiu.
Germano Almeida atribui este "desconhecimento" ao facto de haver pouca circulação da literatura brasileira em Cabo Verde.
"Antigamente havia um contacto mais direto com a cultura brasileira. Atualmente os livros brasileiros que chegam ao país são aqueles que são publicados em Portugal", ressaltou.
Sobre o Prémio Camões em si, Germano Almeida afirmou que gira mais em torno de Brasil e Portugal.
"De vez em quando o prémio é atribuído a um escritor dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], mas a maior parte dos vencedores são brasileiros e portugueses. Acredito que mesmo o júri do prémio Camões conhece mal os escritores dos países africanos de língua portuguesa e, por isso, é natural que atribua o prémio àqueles que conhece melhor", concluiu.
Dos entrevistados, o único que afirmou conhecer o escritor é o jornalista e escritor José Vicente Lopes que explicou ser um dos seus escritores brasileiros preferidos.
"Conheci a obra dele desde dos meus tempos de estudante no Brasil. Para mim ele e Rubem Fonseca são os inovadores da literatura brasileira", garantiu.
Explicando que Trevisan é "um mestre do conto", José Vicente Lopes considerou que, através dos seus "contos curtíssimos", mostra ser um grande cultor da língua portuguesa, já que "só faz literatura enxuta quem domina muito bem a língua".
"É um grande escritor sem dúvida. O prémio foi bem entregue", garantiu.
Sobre o facto de o escritor brasileiro não ser conhecido em Cabo Verde, José Vicente Lopes afirmou que, ser de Curitiba, "portanto fora do eixo Rio-São Paulo-Bahia, tem alguma influência", mas garantiu que a principal razão é a falta de circulação de produtos culturais dos países que falam português em Cabo Verde.
"A verdade é que há anos perdemos o contacto com a literatura brasileira e temos também, atualmente, pouco contacto com a literatura dos PALOP. Há uma deficiente circulação de produtos culturais entre os países que falam português", argumentou.
A agência Lusa tentou ouvir o ministro da Cultura cabo-verdiano, a propósito do prémio, mas Mário Lúcio Sousa fez saber, através da sua assessoria de imprensa, que não estava disponível para falar sobre este assunto.
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