segunda-feira, 21 de maio de 2012

GREGOS CORREM AOS BANCOS PARA TENTAR SALVAR SEUS EUROS




A crise faz os gregos sacarem cada vez mais dinheiro de suas contas e cria o temor de uma corrida aos bancos, o que poderia resultar num colapso do sistema bancário.

Há quatro anos, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o então ministro das Finanças, Peer Steinbrück, afirmaram diante das câmeras de televisão que a “poupança dos alemães está segura”. A frase garantiu a paz na população do país diante da crise iminente. Tal voto de confiança da população é algo com que o presidente grego, Karolos Papoulias, nem sonha. Ele bem que poderia aparecer da mesma forma diante das câmeras de TV, mas, na situação atual, nenhum cidadão grego acreditaria em suas palavras.

Desde o começo da semana, os gregos vêm sacando suas economias dos bancos. Ainda não ocorreram tumultos na frente das grandes instituições de crédito, mas, segundo estimativas, até 900 milhões de euros estão sendo sacados diariamente. "Se consideramos o orçamento total dos bancos gregos, isso pode ser considerado dramático", diz o economista Dirk Schiereck, da Universidade Técnica de Darmstadt. Nos últimos dois anos, os gregos já haviam sacado cerca de 45 bilhões de euros dos bancos. "Esta tendência aumentou ainda mais nas últimas semanas ", observa Schiereck.

Falta de transparência

Se a situação piorar, o sistema bancário poderá entrar em colapso dentro de alguns dias. Pois a lógica dos bancos requer que apenas uma pequena parte das economias esteja disponíveis para saque. O resto é aplicado ou repassado para os clientes na forma de empréstimos, para que o dinheiro esteja sempre circulando. "Se o povo retirar seus depósitos, surge um buraco de financiamento, que tem que ser coberto pelos bancos", explica Schiereck. Normalmente, os bancos poderiam obter empréstimos do Estado. Mas o Estado grego não tem dinheiro e, por isso, "existe um grande perigo de que os bancos se tornem insolventes e entrem em colapso", conclui Schiereck.

Ninguém sabe ao certo quanto dinheiro os bancos gregos ainda podem pagar a seus clientes. "Esta informação é mantida em segredo, aparentemente de propósito", especula Hans-Peter Burghof, especialista em economia bancária da Universidade de Hohenheim. Fato é que as economias da população grega são muito maiores que as verbas que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) destinou ao setor bancário grego. Os 18 bilhões de euros do FEEF não são nada se comparados aos estimados 140 bilhões de euros guardados nos bancos gregos.

Burghof considera normal que os gregos saquem suas economias bancárias diante do intenso debate sobre o possível retorno à dracma. Mas uma verdadeira corrida aos bancos pode ocorrer a qualquer hora e depender de pequenos detalhes. "Este é um processo que pode acontecer muito rapidamente", diz o economista. “Às vezes, basta uma declaração infeliz de um político”, completa.

Moratória

Se isso ocorrer de fato, só resta a chamada moratória. "Isso significa que, como medida inicial, ninguém mais pode retirar seu dinheiro", explica Burghof. Então, os bancos passam a liberar semanalmente um montante fixo a seus clientes. "Mas apenas insinuar tal moratória pode ser devastador para a credibilidade da Grécia”, adverte o analista.

Esse tipo de corridas a bancos individuais desacreditados já ocorreu diversas vezes, como no caso do banco irlandês Northern Rock ou o do austríaco Bawag. Mas, na maioria dos casos, uma estatização das instituições conseguiu salvar os clientes da perda total de suas economias. No caso de uma corrida aos bancos de todo o país, como é possível ocorrer na Grécia, existem poucos casos comparáveis. Uma delas foi a crise financeira da Argentina e outra, a grande depressão de 1929. Em ambos os casos, os depositantes perderam quase todo o dinheiro.

“Uma falência do sistema bancário grego também pode custar caro para a Alemanha”, alerta Burghof. Já Schiereck afirma que, mesmo sem o apoio europeu, os maiores países da UE terão que arcar com significativos gastos adicionais. "Muitos bancos europeus possuem títulos de bancos gregos", observa. Ele lembra que sobretudo os bancos franceses estão nervosos, porque se envolveram muito com a Grécia. "No caso de um colapso dos bancos gregos, não podemos descartar que ocorra um efeito dominó", prevê Schiereck.

Autor: Nicolas Martin (md) - Revisão: Soraia Vilela

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