António Veríssimo
O regime de Cavaco Silva-Passos-Portas segue de vento em popa a ignorar o estado calamitoso do país, o rumo depauperante da espécie réstia de democracia que ainda existe em Portugal. Afinal tudo fruto de décadas da tomada dos poderes por verdadeiras seitas partidárias em conluio das quais se destacam com maior notoriedade grupelhos agora poderosos do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, pertencendo ao CDS algumas migalhas.
Na opinião de alguns o descalabro que despoletou esta situação teve início na vigência dos governos de Cavaco Silva quando se manteve em primeiro-ministro por uma década. Certo é que em Portugal há muitos anos correm vários documentos escritos e em vídeo que vêm mostrando aspetos “intrigantes” que envolvem com alguma lógica e suspeição o atual presidente da República, Cavaco Silva… E sobre isso não há memória de existirem desmentidos por parte daquele, coisa que os portugueses gostariam de ver e ouvir, sem os tabus e as declarações atabalhoadas do visado.
Igualmente certo é que alguns dos das suas relações desde esse tempo vieram ao longo dos anos sendo acusados de crimes, sendo condenados de crimes que cometeram mas sem que caíssem na prisão. O exemplo de Isaltino Morais, um seu ex-ministro é flagrante, o de Oliveira Costa no caso BPN, seu ex-secretário de estado e colega no Banco de Portugal também não lhe fica atrás. Provavelmente irá superar os “feitos” de Isaltino. Isto se a Justiça funcionar e não se comportar como é comum em casos destes, deixando prescrever os prazos que depois redundam em brindar com a impunidade os grandes crimes dos que denominam de “Colarinhos Brancos” e que também podem ser considerados Cidadãos Acima de Qualquer Suspeita ou Condenação. É a impunidade no seu pior e na devassa da Justiça e democracia perseguida e conquistada por portugueses que na luta de décadas deram a sua própria vida por ela, e por um vasto grupo de jovens militares que associados ao povo pobre ou “remediado” derrubaram o Estado Podre em 25 de Abril de 1974, que muitos anos depois o regime de Cavaco e outros seus iguais, do PSD, do PS e do CDS, têm vindo a ressuscitar com uma cada vez mais ténue máscara de democracia.
O perigo de rumo ao passado Salazarista contida na eleição deste presidente da República já era muitíssimo evidente no primeiro-mandato. Nunca um presidente que estivesse empenhado em defender a Justiça e a Democracia teria permitido o modo de governar de José Sócrates sem que o pressionasse ou consentisse também a ele conduzir-nos ao descalabro… Alguns analistas concluíram que era esse mesmo descalabro que interessava a Cavaco Silva para que assim pudesse oferecer o poder de bandeja ao PSD. Nada disso era tão evidente como parece ser agora. Sem desprezar a teoria será conveniente dispensar-lhe as reservas e meditação que merece. É que nesse caso o quadro é mesmo negro e profundamente terrível. Que a política tem sido um jogo sabujo sabemos… Mas tanto e por décadas. Usemos a massa cinzenta e observemos o passado com atenção ao presente e olhos de águia sobre o futuro. Não nos deixemos levar por loas mas também não sejamos ingénuos. É que 2 mais 2 sempre foram quatro e isso ninguém irá mudar. Não esqueçamos a tabuada.
Vem todo este palavreado a desfavor do atual regime pseudo-democrático – se tomarmos em consideração que Cavaco foi eleito por uma minoria de cerca de dois milhões contra outros 8 milhões de eleitores e o atual governo quase eleitos com números idênticos – para aconchegar a divulgação de uma sondagem do jornal Expresso em que se percebe que a democracia está em risco uma vez mais perante a conivência de Cavaco Silva. É o Caso das Secretas. Será a implementação de um sistema inteligente e “democrático” correspondente ao arranque de uma nova PIDE (polícia política) o que se teme. Contudo Cavaco está descansado e reage com a inércia que pode significar estar a labutar por um regime cada vez mais afastado da democracia que ainda há uns anos existia em Portugal. O Caso das Secretas, se a memoria não falha, mereceu de Cavaco uma declaração de que tivera a oportunidade de ser informado e que tudo estava de acordo com a normalidade democrática de um Estado de Direito, indiciando que em quase nada haveria a corrigir… Na sondagem apresentada pela SIC e pelo Expresso essa não e a opinião dos portugueses e a atitude de Cavaco recolhe uma maioria de cidadãos que reprovam o seu aquiescer e cumplicidade com o seu governo de Passos e Portas.
Não se pense que por isso Cavaco mude de atitude. Recordemos que há meses atrás em meia dúzia de dias uma petição recolheu 40 mil assinaturas de cidadãos que se mostraram contra declarações de Cavaco, contra a sua atitude e hipocrisia, contra aquilo que consideraram falta de respeito aos portugueses em dificuldades por via da austeridade, e lhe solicitavam que se demitisse… Essa petição nunca mereceu resposta (não que tivesse de se demitir). Caiu no fosso dos tabus Cavaquianos e dos seus protetores e cúmplices no péssimo rumo que destinaram a Portugal e aos portugueses. Tem vindo a ser assim a democracia em Portugal, com o consentimento de portugueses que elegem os que não devem, sempre atrás de promessas de políticos mentirosos, sem escrúpulos, medíocres aparentemente ao serviço de seitas saudosistas de regimes que entendem a democracia, a Justiça e a liberdade, a seu modo e de acordo com as suas conveniências de ganância e exploração, do bem estar somente de uns quantos.
Por agora basta. Eis os resultados da sondagem que nem por sombras terá alguma recetividade por parte de Cavaco ou do seu governo. Navegam à vista do objetivo das suas conveniências e das conveniências de quem na realidade representam, uma minoria.
Sondagem: Relvas devia deixar o Governo
Estudo da Eurosondagem para o Expresso e SIC revela que portugueses não poupam atuação do ministro adjunto no caso das secretas.
Os portugueses não poupam Miguel Relvas. Depois de se saber das pressões sobre uma jornalista do Público e da sua relação com o antigo espião Jorge Silva Carvalho, entendem que o ministro devia deixar o Governo.
A remodelação é defendida por quase metade dos inquiridos contra apenas um quarto que entendem que Passos deve manter Relvas no seu Executivo.
Aos inquiridos também foi questionado se Passos Coelho deveria manter a liderança dos serviços secretos, ou mudá-la, à luz das polémicas e casos conhecidos. Neste ponto, uma maioria de mais de dois terços defende que o primeiro-ministro afaste, nomeadamente, Júlio Pereira, o atual secretário-geral dos Serviços de Informações da República Portuguesa (SIRP).
Além disto, o portugueses defendem ainda que Cavaco Silva tome uma posição pública sobre o caso dos serviços secretos.
Ficha técnica
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem, S.A. para o Expresso e SIC, de 7 a 12 de junho de 2012.
Entrevistas telefónicas, realizadas por entrevistadores selecionados e supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em Portugal Continental e habitando em lares com telefone da rede fixa.
A amostra foi estratificada por Região (Norte - 20,1%; A.M. do Porto - 13,3%; Centro - 29,4%; A.M. de Lisboa - 27,4%; Sul - 9,8%), num total de 1022 entrevistas validadas.
Foram efetuadas 1248 tentativas de entrevistas e, destas, 226 (18,1%) não aceitaram colaborar neste estudo de opinião. Foram validadas 1022 entrevistas, correspondendo a 81,9% das tentativas realizadas.
A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo. Desta forma aleatória resultou, em termos de sexo (Feminino - 51,4%; Masculino - 48,6%) e, no que concerne à faixa etária (dos 18 aos 30 anos - 16,5%; dos 31 aos 59 - 50,6%; com 60 anos ou mais - 32,9%).
O erro máximo da amostra é de 3,07%, para um grau de probabilidade de 95,0%.
Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
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