João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
1.Quero acreditar que não. Apesar de o Primeiro-Ministro prometer uma reforma profunda dos serviços de informação portugueses, a verdade é que apenas o PSD não apresentou qualquer proposta para o efeito. Teresa Leal Coelho já veio explicar que o partido aguarda pela concertação com o CDS - parceiro de coligação - para definir o modelo das secretas. Mais fiscalização ou não? Período de nojo - isto é, um período entre a cessação de funções dos agentes e o exercício de cargos em empresas privadas: sim ou não? Eis os pontos mais relevantes e sensíveis objecto de discussão entre as forças políticas.
1.1. Esta demora do PSD objectivamente - independentemente das razões invocadas - fica-lhe muito mal. Após sabermos que Miguel Relvas manteve (mantém?) uma relação muito próxima com Jorge Silva Carvalho e o grupo de espiões ligado à Ongoing, este adiamento do PSD afigura-se pouco transparente. Levanta muitas, muitas suspeitas. Ficamos com a sensação de que a matéria da reforma dos serviços secretos incomoda o PSD. Ou melhor: incomoda alguns membros dirigentes do PSD - a maioria deles integra o Governo -, que estão intencionalmente a atrasar, a arrastar a conclusão da reforma. Um dado já é adquirido: Jorge Silva Carvalho é uma pessoa (diria antes, um personagem político) que tem uma influência significativa no executivo em funções. Não nos podemos esquecer que Miguel Relvas é Ministro dos Assuntos Parlamentares - é ele que define as prioridades legislativas do PSD na Assembleia da República, em articulação com a bancada parlamentar. Esta demora, face às incidências das últimas semanas, não me parece um mero acaso. Entendamo-nos: Miguel Relvas não tem autoridade, força, nem ânimo político para combater aquele que foi seu aliado - Jorge Silva Carvalho. Como é que Miguel Relvas, cujo talento sempre foi o de "mexer peças", mover influências várias, poderá lutar contra os vícios das secretas - personificados por Jorge Silva Carvalho - se este é seu amigo e companheiro estratégico?
2. Passos Coelho tem de optar: quer ser um Primeiro-Ministro dos conluios, dos interesses e da promiscuidade entre política e negócios - e então mantém Miguel Relvas; ou então, quer ser um Primeiro-Ministro responsável, com sentido de Estado e aí terá impreterivelmente de demitir Miguel Relvas. Acabou o tempo de Relvas. As reformas estruturais em Portugal deveriam começar pela erradicação dos Relvas da nossa vida pública.
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