Alexis Tsipras líder da Syriza, vai à frente nas sondagens - foto Yorgos Karahalis/Reuters |
Rafael Barbosa – Jornal de Notícias
Os gregos vão a votos. A campanha eleitoral extravasou fronteiras como nenhuma outra antes. Porque nestas eleições se joga, também, o futuro do euro e portanto da Europa. Vem aí o caos ou a mudança?
"Os gregos querem votar na Syriza [esquerda radical], mas esperam que seja a Nova Democracia [centro-direita] a vencer as eleições". A síntese é de Alexis Papachelas, num editorial do Ekathimerini de Atenas. O mesmo que dizer que, nas eleições deste domingo, os gregos querem rejeitar a austeridade imposta pela troika, mas manter as suas poupanças em euros. O mesmo ainda que dizer que querem resolver o problema da quadratura do círculo.
Acontece que Merkel, Barroso, Lagarde e Draghi fizeram-se ouvir com clareza, durante as últimas semanas, participando na campanha eleitoral a partir de Berlim, Bruxelas, Washington e Frankfurt: os gregos vão escolher, amanhã, entre o resgate e a bancarrota. Ou seja, entre o drama da recessão e do empobrecimento forçado pelas medidas de austeridade, e o drama do regresso ao dracma e ao empobrecimento forçado.
Será a ameaça do Norte rico e austero ao Mediterrâneo pobre e perdulário mera retórica de campanha? Uma espécie de contraponto às ameaças esquerdistas de rasgar o memorando de entendimento? Por via das dúvidas, há quem já esteja a fazer planos de contingência, depois de ter feito as contas: se a Grécia for expulsa do clube do euro de forma ordenada, ou seja, com a conivência de um governo grego, qualquer que ele seja, o custo para a Europa será de cerca de 240 mil milhões de euros, estima o "Centre for Economics and Business Research", citado no "The Guardian".
Em caso de divórcio litigioso, é preciso multiplicar estas perdas por três ou quatro. Para se ter um termo de comparação, muito mais dinheiro do que aquele que já se mobilizou para os dois resgates da Grécia, mais os da Irlanda e Portugal, e ainda o da banca espanhola.
Acontece que o medo tem roda livre, por estes dias, como escreve o "El País", para explicar que a Europa, e não apenas a Grécia, está à mercê de uma fuga massiva de capitais e de uma corrida de depositantes aos bancos.
O jornal espanhol garantia, esta semana, citando fontes em Bruxelas, que estão a ser atiradas medidas radicais para cima da mesa: limites ao levantamento de dinheiro nas caixas automáticas, controlo à circulação de capitais e aos movimentos fronteiriços, com a suspensão temporária do acordo de Schengen. Numa primeira fase, segundo a Agência Reuters, medidas a aplicar na Grécia. Deixando no ar a hipótese de uma segunda fase...
Garante Paul Krugman, numa análise publicada no jornal "The New York Times" - sugestivamente intitulada "Apocalipse muito em breve" -, que na Grécia "já começou a corrida aos bancos". Segundo dados da Reuters, foram levantados três mil milhões de euros só na semana que se seguiu às últimas eleições gregas.
Daqui até se concluir que o euro pode cair vai um passo, sustenta o norte-americano que já ganhou um prémio Nobel da Economia. Acrescentando que basta essa sensação para "conduzir a corridas aos bancos espanhóis e italianos". Portugal não entra na análise de Krugman devido à sua insignificância comparativamente com Espanha e Itália.
A Grécia foi, durante as últimas décadas, governada de forma alternada pelos conservadores da Nova Democracia e pelos socialistas do PASOK. Os primeiros são apontados a dedo por terem sido os responsáveis por mascarar as contas públicas, escondendo uma dívida pública insuportável. Os segundos são responsabilizados pela rendição incondicional perante a troika, aceitando todos os cortes, toda a austeridade e o consequente empobrecimento da sociedade grega.
E assim, nas eleições de 6 de Maio deste ano, passaram a ser apenas mais dois entre uma multidão de partidos. Uma atomização que pode ter vida curta: as sondagens apontam para uma bipolarização com actores diferentes.
A Syriza foi apontada, na última sondagem publicada pelo jornal "Kathimerini", insuspeito de simpatias esquerdistas, com um resultado a rondar os 31,5%. O grande rival que emerge entre os escombros dos partidos do arco do poder é a Nova Democracia, creditada com 25,5%. Uma diferença aparentemente sólida que nenhum analista de política grega considera decisiva.
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