... nas legislativas antecipadas da Grécia
PCR - Lusa
Atenas, 17 jun (Lusa) - Duas conceções diametralmente opostas, simbolizadas por duas gerações políticas distintas, confrontam-se hoje em cruciais legislativas antecipadas da Grécia, seguidas atentamente pela liderança política europeia e pelos mercados financeiros.
As eleições, convocadas após a inconclusiva votação de 06 de maio que não permitiu a formação de um governo apoiado por maioria parlamentar, decorrem num cenário de prolongada crise económica e social, que implicou uma crescente radicalização política.
Apenas dois partidos estão em condições de vencer o escrutínio, os conservadores da Nova Democracia (ND), liderada por Antonis Samaras, de 61 anos, e a Coligação da Esquerda Radical (Syriza), que agrupa 12 organizações da esquerda alternativa e dirigida por Alexis Tsipras, de 37 anos.
O desfecho será decisivo para o futuro de um país de 11 milhões de habitantes que se tornou o "elo frágil" da União Europeia (UE) e da zona euro. E também determinante para o futuro da própria União, e da zona euro.
As sondagens dos últimos dias, que não podem ser divulgadas publicamente devido à lei eleitoral, indicavam uma ligeira vantagem para a ND, mas com "empate técnico", num desfecho imprevisível.
Durante a campanha, Samaras afirmou-se como o único garante da manutenção da Grécia na zona euro e protagonizou uma viragem à direita para atrair o eleitorado que, em 06 de maio, votou nos extremistas neonazis da Aurora Dourada, que pela primeira vez conseguiu ultrapassar a barreira dos 3 por cento e eleger deputados.
No entanto, o líder da ND também sublinhou recentemente a necessidade de "renegociar" o plano de austeridade firmado com os credores internacionais (UE, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) em troca de dois empréstimos que rondam os 240 mil milhões de euros, além da supressão de 107 mil milhões de euros de dívidas à banca privada.
O rival de esquerda insistiu "na anulação" deste acordo, assinado pelos partidos tradicionais - ND e os socialistas moderados do Pasok, os mais penalizados nas eleições de maio - e "sujeito à ditadura dos credores", mas sempre sublinhando a necessidade de "manter a Grécia na zona euro".
Na quarta-feira, Alexis Tsipras disse que caso vença as eleições estabelecerá um prazo de dez dias para renegociar com a UE e voltou a insistir no "falhanço da política de austeridade".
A mensagem europeísta do líder da Syriza - destinada a contrariar as insinuações da direita e de diversas chancelarias sobre a "inevitável saída" da zona euro (Grexit) em caso de vitória da esquerda alternativa - foi ainda reforçada com a sugestão de formação de um governo em aliança com o partido Dimar (esquerda moderada), que também se tem oposto ao memorando assinado com a "troika".
As eleições decorrem num cenário catastrófico e que fomentou a radicalização. O líder dos conservadores cooptou para a ND dirigentes desavindos da direita nacionalista e recuperou temas caros à extrema-direita, prometendo o "fim da invasão dos imigrantes ilegais", a "reconquista das cidades", "centros de detenção para os 'sem-papéis'" e "combate total ao crime".
Temas sensíveis para parte considerável do eleitorado de um país empobrecido e à beira do colapso, após dois anos de duras medidas de austeridade.
Além da queda do PIB em 6,5 por cento no primeiro trimestre de 2012, que confirma uma recessão que se prolonga há cinco anos, os últimos dados oficiais sobre o desemprego, divulgados na quinta-feira, referem uma taxa de 22,6 por cento no final de março, um novo máximo histórico.
Hoje, o eleitorado grego terá nova oportunidade para definir qual o rumo que pretende para o país. Para muitos observadores pode ser a última hipótese de evitar o colapso total, não apenas da Grécia mas também da zona euro.
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