Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O MPLA vai vencer as eleições para continuar a desenvolver Angola, garantiu na vila de Belize (colónia de Cabinda), o secretário-geral do partido que governa o país desde 1975, Julião Mateus Paulo "Dino Matross".
Ao fim de 37 anos de poder o MPLA deve, segundo “Dino Matross”, levar em conta que a projecção do desenvolvimento de Angola não só deve ser nas grandes cidades, mas também deve atingir as aldeias, acção que – diz ele - o governo do MPLA está a fazer de Cabinda ao Cunene.
E como exemplos da inefável e mundialmente reconhecida boa governação do MPLA, “Dino Matross” falou do abastecimento de água potável, energia eléctrica, alargamento da rede sanitária e escolar até aos recantos mais recônditos, reabilitação e construção de estradas, caminhos-de-ferro etc..
“O MPLA está apostado em continuar a trabalhar no combate à fome e à pobreza, com a implementação de iniciativas, como o Balcão Único do Empreendedor, fomentar o emprego e assegurar a inserção da juventude na vida activa”, enfatizou.
Para “Dino Matross”, em poucos anos de paz o MPLA está a fazer aquilo que os portugueses não fizeram em 500 anos de ocupação colonial, garantindo que o seu partido fará muito mais no próximo mandato.
No que aos portugueses respeita, e para além de terem sido eles que retiraram “Dino Matross” das copas das árvores e o ensinaram a andar erecto e a comer de faca e garfo, tudo o resto é a verdade “made in MPLA”.
Todos sabem, aliás, que quando o poder foi entregue por Portugal numa bandeja de corrupção (que continua a florescer) ao MPLA, Angola era um imenso deserto ou, aqui e acolá, um amontoado de escombros.
Todos sabem que, a 11 de Novembro de 1975, Angola não tinha estradas, hospitais, aeroportos, hotéis, fábricas, prédios etc. Não tinha mesmo nada. Por isso, o que hoje existe é tudo obra exclusiva do MPLA.
Habituado a viver na selva da ignorância transformada em autopanegírico, Eduardo dos Santos e todos os seus “dinos matross” entendem que a razão da força (conseguida à custa da corrupção e do roubo constante do que é do Povo) é a única lei. Espero, contudo, que no próximo dia 31 algum amestrador lhes ensine, mesmo que mostrando bananas ou ginguba, que nos países civilizados o que conta é a força da razão.
Embora o sipaio “Dino Matross” não o diga, deve estar feliz e agradecido aos portugueses. Foram eles que lhe deram a carta de alforria que permitiu que saísse da jaula e pudesse vaguear (embora sob controlo) pelas copas das árvores ou das bissapas.
Este complexado Secretário-Geral do MPLA é o mesmo sipaio que, em Fevereiro de 2011, disse à Luanda Antena Comercial - LAC o que toda a gente sabe, o que poucos dizem e o que menos ainda escrevem, ou seja, quem se manifestar em Angola provocando distúrbios “vai apanhar”.
A reacção do dirigente do partido no poder em Angola desde 1975 foi um claro aviso para que o povo angolano (70 por cento do qual vive na miséria) não imite o que está a acontecer no Médio Oriente e no norte de África, onde os movimentos pró-democracia continuam o desafio aos regimes autoritários.
Ao que parece, o regime angolano nem se considera autoritário, desde logo porque o presidente da República, José Eduardo dos Santos, só está no poder há 33 anos sem nunca ter sido eleito...
“Dino Matross” lembra a guerra, acena com a guerra, usa a guerra como razão para que os angolanos não se metam em aventuras. Isto é, para que comam (se tiverem o que comer) e calem, para que aceitem o regime como algo sagrado que apenas pode e deve ser venerado.
O dirigente do MPLA apelou aos seus militantes, ao poder popular, para “manterem um elevado nível de vigilância, e se absterem de quaisquer tipo de actividades que atentem contra a convivência democrática e pacífica no país”.
Para “Dino Matross”, convivência democrática e pacífica significa estar de joelhos perante o regime, beijar a mão ao líder supremo, e aceitar como inevitável que o país é gerido por uma casta superior a quem a plebe deve total e inequívoca vassalagem.
É claro que essa casta superior sabe que o Povo, faminto e maltrapilho, não está contente com o regime. Sabe que outros ditadores estão em queda e que, mais dia menos dia, chegará a vez dos donos de Angola terem de partir. Mas, enquanto puderem, vão fazer tudo para que o povo apenas tenha fuba podre, peixe podre e porrada se refilar.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: A SABUJICE DE LISBOA PERANTE O MPLA
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