quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Entrevista: “GUINÉ-BISSAU TEM MAIS A GANHAR COM A CEDEAO DO QUE COM A CPLP”

 


– CONSIDERA ANTÓNIO SAMBA BALDÉ, LÍDER DO PARTIDO SOCIAL-DEMOCRATA (PSD)
 
Assana Sambú - Gazeta de Notícias (Guiné-Bissau)
 
“Guiné-Bissau tem mais a ganhar com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental do que a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa”, afirmou o líder do Partido Social Democrata (PSD), em entrevista exclusiva à Gazeta de Notícias para falar da actual situação política do país e não só, e, também, analisar o desempenho do Governo de Transição. O político teceu críticas à organização dos países da expressão portuguesa que, a seu ver, devia estar ao lado da Guiné-Bissau.
 
António Samba Baldé explicou que tendo em conta a situação em que se encontrava o país, era de se esperar que acontecesse alguma coisa embora não soubesse se seria um golpe de Estado ou uma outra coisa. Sustentou ainda que o próprio regime na alturta não conseguia gerir a situação, porque durante a governação aconteceram muitas coisas que deviam ser esclarecidas na justiça.
 
O líder dos democratas assegurou que tomaram a decisão de não compactuar com o golpe porque, de acordo com ele, “é um acto anti-constitucional”. Realçou, no entanto, que depois do golpe registou-se uma grande evolução dado que cessaram as perseguições e não só, como também as coisas evoluiram em relação aos próprios dias em que sucedeu o golpe em toda a estrutura do Estado esteve parada.
 
Baldé frisou que a evolução que se registou no país foi protogonizada pela CEDEAO, que, graças a sua intervenção, tomou a decisão de indigitar um Presidente da República de Transição, a fim de permitir ao país encontrar a forma de ultrapassar a crise.
 
“A decisão da CEDEAO foi baseada na Constituição, porque, constitucionalmente, em caso de vacatura do presidente da Assembleia eleito, como Raimundo Pereira, presidente interino,não estava no país, a figura que se enquadrava constitucionalmente era de facto, Serifo Nhamajo que exercia o cargo de presidente da Assembleia a que ascendeu por ser o primeiro-vice-presidente”, precisou.
 
O líder dos sociais-democratas disse que a partir desse momento o seu partido tentou, juntamente com as outras formações políticas, encontrar as soluções possíveis para viabilizar o país, tendo acrescentado que “isso não significa que aceitamos o golpe, mas entendemos que não podemos deixar as coisas desse jeito, pois temos que encontrar uma solução para a nossa terra”.
 
“Imagina se desde o dia 12 de Abril até a data presente não tivessemos Presidente e o Governo não tivesse sido formado… Quem pagaria os salários e geriria os assuntos correntes de Estado? Teriamos hoje um grande problema social neste país”, assegurou o político para de seguida enfatizar que analisando esse aspecto todo, que tem a ver com os problemas sociais, decidiram participar na assinatura do Pacto e acordo político, de forma a permitir ao país que saisse da situação em que se encontrava.
 
Interrogado sobre a ausência de elementos dos sociais-democratas no executivo, informou que o objectivo do seu partido “não era marcar a presença no Governo”, mas sim “de facto ajudar a Guiné-Bissau ultrapassar a crise”.
 
Lembrou no entanto que numa reunião realizada no Clube deas FARP, tiveram a ousadia de dizer que o seu partido não era candidato à qualquer cargo ministrial e nem ao de secretário de Estado. Conforme disse, “estavamos lá só para contribuir com ideias claras”. Afirmou neste particular que até a data presente não fizeram parte de nenhuma estrutura do executivo, tendo resalvado que pode haver uma ou outra pessoa que ocupava algum posto no anterior executivo e o ministro actual entendeu dever recondizi-lo, sublinhou que é um aspecto pessoal que não tem nada a ver com uma decisão do partido.
 
“GOVERNO DE TRANSIÇÃO ESTÁ A FAZER UM BOM TRABALHO”
 
Falando do desempenho do Governo, António Samba Baldé assegurou que apesar das dificuldades que este está a ter, sobretudo no que toca ao não reconhecimento do mesmo por parte de alguns parceiros internacionais, tais como a CPLP e a União Europeia, asseverou que “mesmo com essas dificuldades o governo de transição está a fazer um bom trabalho”, dado que, de acordo com o político, “está a conseguir pagar os salários a hora e a gerir os assuntos correntes do Estado.”
 
“O Governo deposto gabava-se com o pagamento de salários. Aliás, é a única coisa que fez durante todo o tempo. Este executivo de transição, apesar da falta de apoios por parte de alguns parceiros internacionais, está a conseguir pagar os salários a tempo e horas. Sabemos que o objectivo principal deste governo é pagar salários e organizar as eleições, mas até agora nada não foi feito nada para que haja eleições no mês de Maio de 2013”, observou o líder dos sociais-democrata que entretanto avançou ainda, que talvez isso possa ter a ver com a falta de apoio que o Governo está a ter por parte dos seus parceiros tradicionais, sobretudo a União Europeia, porque “precisa-se de dinheiro para fazer a cartografia, recenseamento biometrico e outras coisas”.
 
António Samba Baldé vincou que “em matéria de preparação das eleições o Governo está um pouco mais atrasado”, tendo sustentado no entanto que “pode ser uma estratégia do executivo” para esperar até que a data se aproxime para anunciar que quer realizar as eleições, mas não dispõe de meios financeiros e materiais, isto para poder “persuadir a comunidade internacional no sentido de injetar dinheiro para as eleições”.
 
“CPLP DEVIA ESTAR AO LADO DA GUINÉ-BISSAU”
 
Solicitado a comentar a posição da comunidade internacional sobre a Guiné-Bissau, o político assegurou que “algumas organizações internacionais têm estado um pouco agressivas” com a Guiné-Bissau. Sublinhou ainda que “até a CPLP, que é simplesmente uma organização cultural” dos países de expresão de língua portuguesa, por causa dos interesses de alguns país está tendo uma posição pouco amigavel com a Guiné-Bissau.
 
“Desde a criação desta organização, até a data presente, nunca vi em nenhum momento, onde a CPLP financiou alguma coisa para o país. Aliás, o objectivo desta organização é o desenvolvimento e apropriação da língua portuguesa, fazê-la um vector de comunicação com o intuito de facilitar o relacionamento entre os países falantes dessa língua, mas não conseguiram fazer isso na Guiné-Bissau. O Centro Cultural Português, não conseguiu criar as condições para ajudar as pessoas que estão com dificuldades na língua portuguesa”, precisou para de seguida, advertir que “o país está a perder tempo com a história da CPLP”, porque no seu entender esta organização vai ter dificuldades de expulsar a Guiné-Bissau, dado que o país é parte integrante histórico desta organização.
 
O político assegurou que nesta organização “nem todos os países têm a melhor democracia do que a Guiné-Bissau”, acrescentando, sobretudo, que “não existe democracia em Angola”. “Apesar de estar em curso o processo das eleições, não existe democracia naquele país”.
 
“Neste momento é Angola que está a manobrar a CPLP, e leva Portugal a reboque; porque até a economia portuguesa está a ser gerida por Angola. Ninguém está surpreso com a posição de Portugal atrás de Angola”, frisou.
 
Para o político, a Guiné-Bissau está inserida numa organização onde tem mais a ganhar, pois tem todas as vertentes, desde política, económica, cultural, sub-regional e continental.
 
“Sabemos todos, que essa posição da CPLP é por causa de Angola que não ficou contente, da forma como os seus militares sairam da Guiné-Bissau. Tudo isso permite que haja uma desconfiança permanente que permite a Angola e outros países da CPLP trabalharem no sentido desta organização virar as costas à Guiné-Bissau”, informou.
 
Baldé disse que nesta situação, “a CEDEAO mostrou maior maturidade política”, pela forma como está gerir o processo desde as primeiras horas dos acontecimento de golpe, porque segundo ele, “não se limitou apenas a condenar mas mandou os seus elementos ao terreno para manter contacto com os militares e os políticos.”
 
“A Guiné-Bissau tem mais a ganhar com a CEDEAO do que a CPLP; tem mais a ganhar com a UEMOA e a União Africana, pelo que não devemos preocupar-nos tanto com a CPLP que devia estar ao lado da Guiné-Bissau a fim de ajudar a ultrapassar a crise”, fez questão de ressalvar António Samba Baldé.
 

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