Expresso - 2 de junho de 2012 – reposição
O jornalista do
"Le Monde" Marc Roche estabelece um paralelo entre as políticas de austeridade
na Europa e a presença de "veteranos" do Goldman Sachs na política
europeia
Marc Roche,
jornalista do "Le Monde" e autor do livro "O Banco - Como o
Goldman Sachs dirige o mundo", disse à Lusa que o português António Borges
é um "mistério", tal como outros antigos "veteranos" da
instituição.
O autor do livro
publicado em Portugal esta semana disse que a doutrina financeira
anglo-saxónica liderada pelo banco norte-americano Goldman Sachs está
atualmente colocada nos bastidores do poder na Europa o que põe em causa a
regulação em nome do lucro, e estabelece um paralelo entre as políticas de
austeridade na Europa e a presença de "veteranos" do Goldman Sachs na
política europeia.
"Em novembro
de 2011, o Fundo Monetário Internacional anunciou a demissão do diretor do seu
departamento europeu, o português António Borges, por 'razões pessoais'.
António Borges, 63 anos, passou apenas um ano em Washington, em funções que o
levaram a supervisionar alguns dos maiores empréstimos da história da
instituição: à Grécia e à Irlanda, ambos membros da zona euro. Este economista,
presidente no momento do seu recrutamento de uma organização de ética no setor
dos fundos especulativos, tinha sido selecionado pelo FMI pelo seu conhecimento
dos mercados financeiros", escreve Roche na primeira página do livro.
Grupo de
"iluminados"
"Oficiosamente,
António Borges, que, no seio do Banco de Portugal na década de 1990, foi um dos
arquitetos da criação da moeda única, acabou por ser dispensado do FMI. De
facto, esta partida poderia estar ligada ao facto de ele ter sido também
durante oito anos (2000-2008) um dos dirigentes do Goldman Sachs International,
filial europeia do banco americano", refere o autor.
"Com efeito, o
papel do banco americano na maquilhagem das contas gregas em 2002-2003 poderia
não ser estranho àquilo que aparece como uma destituição", continua Roche,
que refere que a nacionalidade portuguesa do "interessado" jogou
contra ele no momento em que a troika, composta pelo FMI, Comissão Europeia e
Banco Central Europeu, dava ajuda em troca de medidas de rigor
"draconianas".
Para Marc Roche a
"filosofia" Goldman Sachs está presente na política europeia através
de um grupo de "iluminados" que são "simultaneamente um grupo de
pressão, uma associação de colheita de informações, uma rede de ajuda
mútua" eficaz, competente e treinada na instituição norte-americana,
apesar de se saber muito pouco sobre o que andaram a fazer no Goldman Sachs os
"tecnocratas" que atualmente são protagonistas na Europa.
Bastidores das
influências políticas
"O que é que
eu encontrei sobre esta gente? Muito pouco a não ser que o Goldman Sachs quer
esta gente nos bastidores das influências políticas. O que é que eu descobri
sobre o senhor Borges? Pouco. Sei que ele esteve no Goldman Sachs mas não sei o
que é que ele fez ou em que secção trabalhou. Tal como os outros: Draghi ou
Monti", explicou.
"De vez em
quando perguntamos 'o que diabo andou a fazer no Goldman Sachs?' mas eles não
respondem. A não ser Dragi que disse ter lidado com situações corporativas e
que nunca mexeu em assuntos relacionados com dívida soberana dos países. Mas
tal como os outros, o senhor Borges é um mistério para mim", disse Roche,
autor do livro sobre a influência do Goldman Sachs na Europa.
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