terça-feira, 16 de outubro de 2012

Moçambique: LENGA-LENGA CPLP vs BISSAU, RESPEITAR DIREITOS?, LEIS PREJUDICIAIS

 


Lei e tradição prejudicam crianças orfãs e víuvas moçambicanas no acesso às herancas
 
16 de Outubro de 2012, 07:02
 
André Catueira, da Agência Lusa
 
Chimoio, 16 out (Lusa) - Sob pressão de frio e ameaça de chuva, Lucília Deniasse, 13 anos, encolhe-se numa capulana, enquanto vende molhos de lenha, o seu único recurso de sobrevivência, no mercado Macombe, na vila de Catandica, Barué, centro de Moçambique.
 
"Depois que perdi os meus pais, saímos da casa porque o meu tio a alugou para gerar dinheiro e nos sustentar. Mas temos passado fome e vendemos lenha para comprar comida e comprar cadernos. Ele vendeu cadeiras e não vimos o dinheiro", conta à Lusa Lucília Deniasse, sustentada no ombro da irmã mais nova.
 
Ela é o rosto visível da estatística de 54 por cento de crianças órfãs e viúvas despojadas de herança no distrito de Barue, após morte dos seus progenitores ou chefes de famílias.
 
"Quando morre o dono da casa, os seus familiares vêm apoderar-se dos bens e património de herança pertencentes às viúvas e órfãs. Esta situação apoquenta-nos, embora esteja a diminuir", explicou à Lusa Júlio Luciano, chefe da repartição da Mulher e Ação Social do distrito de Barué.
 
Um estudo, de 2007, da organização internacional Save The Children, sobre aspetos relativos ao direito à sucessão, herança e transmissão de bens, conclui que o quadro juridico-legal e sociocultural que regem estes aspetos afeta órfãos e viúvas, tornando-os mais vulneráveis à pandemia de sida.
 
"Após a publicação do estudo, desenhámos um plano estratégico para revertermos a situação de perdas de heranças, ou seja, automaticamente os bens são herdados pelos órfãos e viúvas após a perda do chefe da família, e temos conseguido sucesso", disse à Lusa Jone João Francisco, gestor de projetos da Save The Children para os distritos de Barué e Guro.
 
O plano inclui a sensibilização e formação de líderes comunitários e pessoas influentes da população para saberem lidar com disputas de heranças nas suas comunidades e ajudar que os beneficiários diretos não sejam despojados dos bens pelos familiares do falecido.
 
Nos últimos quatro anos, disse, 56 crianças do distrito de Barué ganharam causas em tribunal por disputa de heranças, depois de o litígio ter sido comunicado às autoridades do bairro, que condicionaram a abertura do processo para a justiça formal.
 
Um dos maiores obstáculos para o acesso à herança tem sido a falta de certificados de matrimónio, por muitos estarem a viver maritalmente, e, por vezes, sem o registo dos filhos, situação que, para a Save The Children, representa "um desafio".
 
A Ação Social, em parceria com a Save The Children, apoia 2.475 crianças órfãs e vulneráveis em Barué, que beneficiam de formação em atividades vocacionais, nas especialidades de carpintaria, alfaiataria, entre outras, além de receberem pacotes com material escolar.
 
AYAC // HB
 
PR moçambicano garante que CPLP está a "fazer tudo" para resolver crise na Guiné-Bissau
 
16 de Outubro de 2012, 10:38
 
Maputo, 16 out (Lusa) - A presidência moçambicana da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) assegurou total apoio à Guiné-Bissau para ultrapassar a crise sociopolítica que o país enfrenta, mas considera o diálogo "um potente mecanismo" para a resolução do conflito.
 
"Nós estamos com o povo da Guiné e continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que as dificuldades que hoje enfrentam sejam ultrapassadas e para o que o povo volte a viver em paz e a dar a sua contribuição que todos necessitamos na área politica, económica, social e cultural", disse o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, que é igualmente presidente em exercício da CPLP.
 
Falando hoje num encontro com os embaixadores da CPLP acreditados na Bélgica, à margem das VII Jornadas Europeias de Desenvolvimento, Armando Guebuza defendeu que os atores guineenses devem assumir o papel central na resolução dos problemas que o país enfrenta, uma ação que deve ser feita à base de diálogo, com apoio das organizações regionais e internacionais.
 
O restabelecimento urgente da ordem constitucional guineense é uma das principais apostas da presidência moçambicana da CPLP para a Guiné-Bissau, atualmente administrada por um Governo de transição, após uma junta militar ter levado a cabo o golpe de Estado a 12 de abril.
 
Na última Assembleia-Geral, em setembro, as Nações Unidas decidiram enviar à Guine-Bissau uma missão composta pela CPLP, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, União Africana e a própria ONU para avaliar a situação e recomendar medidas que sejam necessárias para estabilizar aquele país.
 
Armando Guebuza, que é igualmente presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), participa durante três dias nas VII Jornadas europeias orientadas sob lema "Crescimento inclusivo e sustentável para o desenvolvimento humano".
 
As Jornadas são um fórum de alto nível que junta representantes governamentais e da sociedade civil, para refletir sobre questões prementes de cooperação internacional para o desenvolvimento.
 
MMT // VM.
 
Multinacionais devem respeitar direitos das famílias realojadas -- diretor da ONU-Habitat em Moçambique
 
16 de Outubro de 2012, 18:47
 
Maputo, 16 out (Lusa) - O diretor executivo do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), Joan Clos, apelou hoje às multinacionais para que respeitem os direitos humanos durante o processo de transferência de famílias decorrrente da implantação de grandes projetos industriais.
 
Em declarações aos jornalistas, em Maputo, no quadro de uma visita oficial a Moçambique, Joan Clos lembrou que a ONU-Habitat tem "uma posição muito conhecida" a propósito do realojamento de populações resultante do estabelecimento de indústrias.
 
"As multinacionais devem (neste processo de transferência de famílias) minimizar os danos ao máximo, quanto menos melhor, seguindo os processos legais, respeitando a lei e fazendo adequadas compensações, respeitando os direitos humanos dos cidadãos", disse o diretor executivo da ONU-Habitat, quando questionado pela Lusa sobre desentendimentos entre famílias e grupos empresariais.
 
Nos últimos tempos, Moçambique tem descoberto grandes reservas de carvão e gás, que têm levado milhares de famílias moçambicanas a abandonarem as suas zonas de origem para dar lugar à instalação de indústrias.
 
Em janeiro, a Vale Moçambique, subsidiária do grupo brasileiro Vale, foi distinguida como a "Pior multinacional" em termos de respeito pelo ambiente e direitos sociais e dos trabalhadores, e foi acusada de violação dos direitos de 750 famílias que transferiu para a zona de Cateme, em Tete, no centro do país.
 
As famílias denunciaram publicamente "as precárias condições de vida" a que dizem estar sujeitas desde finais de 2009, altura em que foram realojadas naquela região, onde as casas que lhes foram atribuídas pela Vale apresentam rachas nas paredes que permitem infiltrações de águas das chuvas.
 
Sem mencionar nomes de empresas, Joan Clos, que é igualmente sub-secretário geral da ONU, disse que os grandes grupos empresariais devem fazer as "devidas compensações" às famílias abrangidas nos processos de realojamento.
 
Durante a visita de seis dias, que iniciou na segunda-feira, Joan Clos vai manter encontros com membros do governo, parceiros da cooperação internacional, académicos, representantes do setor privado e da sociedade civil moçambicana, com os quais abordará aspetos ligados à urbanização em Moçambique.
 
O responsável, que até ao dia 20 deste mês, vai inteirar-se dos projetos da agência das Nações Unidas desenvolvidos há 10 anos no país, considera, no entanto, Moçambique um dos "melhores exemplos" da cooperação com o organismo da ONU.
 
Num encontro realizado ainda hoje com as autoridades municipais de Maputo, o diretor executivo da ONU-Habitat falou sobre os desafios e oportunidades da urbanização em Moçambique, reiterando o compromisso das Nações Unidas em apoiar a redução de riscos e aumentar a capacidade de resistência urbana no país.
 
MMT // NV.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
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