terça-feira, 16 de outubro de 2012

Portugal: OS PRETEXTOS PARA ANDARMOS À ESTALADA

 


Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
 
Quando o FMI corrige cálculos anteriores e diz que por cada euro adicional de austeridade a economia vai afundar entre 0,9 e 1,7 euros, percebemos que andamos a ser enganados. Dá vontade de andar à estalada.
 
O orçamento apresentado ontem por Vítor Gaspar, dadas aquelas contas do FMI, irá, portanto, causar mais 5 mil milhões de austeridade e 8 ou 9 mil milhões de euros de quebra do PIB, de perda de riqueza do país. Qualquer burro percebe que assim não vai haver dinheiro para pagarmos a dívida nem para estabilizar o défice e que estaremos, no final do ano, de bolsos vazios e ainda mais longe de atingir as metas da troika! Dá vontade de começar à estalada.
 
Quando o primeiro-ministo promete um sacrifício equitativo para vencer a crise mas aceita este novo IRS - que significa para um casal de trabalhadores com um filho que, por mês, tenha 1500 euros de rendimento, um aumento de 140% neste imposto, enquanto um outro casal que ganhe mais de 25 mil euros por mês tem um aumento de apenas 18% - parece que alguém não sabe fazer contas. Dá vontade de começar à estalada.
 
Quando o grupo parlamentar do PS acusa de populismo quem o critica por nesta altura andar a trocar viaturas e aparece o seu deputado Francisco Assis, em tom de desafio demagógico, a perguntar para a geral se o líder do grupo parlamentar socialista deve andar num Renault Clio, vislumbra-se a inutilidade de um hipotético governo alternativo do PS. Dá vontade de começar à estalada.
 
Quando o Cardeal Patriarca mostra compaixão pelos pobres, cada vez em maior número, mas acusa o poder de se deixar governar pela rua, onde os pobres protestam por nada mais lhes restar fazer, deparamo-nos com uma definição esquisita do conceito "amor pelo próximo". Dá vontade de começar à estalada!
 
Quando o presidente Cavaco Silva escreve que o cumprimento do objetivo do défice público é simplesmente inviável, mas não retira consequências disso tratando de demitir o governo antes da aprovação do orçamento que repete esse erro, somos obrigados a concluir que no Palácio de Belém o poder é uma inutilidade. Dá vontade de começar à estalada.
 
A classe política, os economistas, os líderes morais dão, todos os dias, razões para ser deflagrada a violência que Passos Coelho disse, no parlamento, recear.
 
No dia em que começasse tudo à estalada havia pretexto para sitiar o país e impôr, à cacetada de polícia de choque, a política de empobrecimento generalizado dos portugueses. A quem interessa, pergunto, que andemos à estalada?
 

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