Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
Quando o FMI
corrige cálculos anteriores e diz que por cada euro adicional de austeridade a
economia vai afundar entre 0,9 e 1,7 euros, percebemos que andamos a ser
enganados. Dá vontade de andar à estalada.
O orçamento
apresentado ontem por Vítor Gaspar, dadas aquelas contas do FMI, irá, portanto,
causar mais 5 mil milhões de austeridade e 8 ou 9 mil milhões de euros de
quebra do PIB, de perda de riqueza do país. Qualquer burro percebe que assim
não vai haver dinheiro para pagarmos a dívida nem para estabilizar o défice e
que estaremos, no final do ano, de bolsos vazios e ainda mais longe de atingir
as metas da troika! Dá vontade de começar à estalada.
Quando o
primeiro-ministo promete um sacrifício equitativo para vencer a crise mas
aceita este novo IRS - que significa para um casal de trabalhadores com um
filho que, por mês, tenha 1500 euros de rendimento, um aumento de 140% neste
imposto, enquanto um outro casal que ganhe mais de 25 mil euros por mês tem um aumento
de apenas 18% - parece que alguém não sabe fazer contas. Dá vontade de começar
à estalada.
Quando o grupo
parlamentar do PS acusa de populismo quem o critica por nesta altura andar a
trocar viaturas e aparece o seu deputado Francisco Assis, em tom de desafio
demagógico, a perguntar para a geral se o líder do grupo parlamentar socialista
deve andar num Renault Clio, vislumbra-se a inutilidade de um hipotético
governo alternativo do PS. Dá vontade de começar à estalada.
Quando o Cardeal
Patriarca mostra compaixão pelos pobres, cada vez em maior número, mas acusa o
poder de se deixar governar pela rua, onde os pobres protestam por nada mais
lhes restar fazer, deparamo-nos com uma definição esquisita do conceito
"amor pelo próximo". Dá vontade de começar à estalada!
Quando o presidente
Cavaco Silva escreve que o cumprimento do objetivo do défice público é
simplesmente inviável, mas não retira consequências disso tratando de demitir o
governo antes da aprovação do orçamento que repete esse erro, somos obrigados a
concluir que no Palácio de Belém o poder é uma inutilidade. Dá vontade de
começar à estalada.
A classe política,
os economistas, os líderes morais dão, todos os dias, razões para ser
deflagrada a violência que Passos Coelho disse, no parlamento, recear.
No dia em que
começasse tudo à estalada havia pretexto para sitiar o país e impôr, à cacetada
de polícia de choque, a política de empobrecimento generalizado dos portugueses.
A quem interessa, pergunto, que andemos à estalada?
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