Liliana Valente e
António Ribeiro Ferreira com Sónia Cerdeira – i online
Deputados
centristas vêem palavras de Gaspar como um recado e, contra a vontade do
ministro, exigem alterações ao Orçamento
Zero. Nem uma
vírgula, nem um número, nem um escalão de IRS. Não foi feita nenhuma alteração
substancial que permitisse ao CDS colher os louros de ter “mitigado” ou “suavizado”
o “enorme aumento de impostos”. Passos Coelho e Vítor Gaspar avisaram ontem de
manhã no Conselho de Ministros que o pacote fiscal não era para mexer, nem
sequer para discutir, e frustraram as expectativas de Paulo Portas, que tinha
dado a cara em público pela tentativa de suavizar os aumentos de impostos para
2013. E não mudaram.
E agora, CDS? A
cara de Portas não se viu ontem. Nem a do líder, nem de qualquer dirigente
centrista. Nenhum elemento do CDS comentou a proposta entregue ontem pelo
governo de coligação na Assembleia da República e que será hoje de manhã
explicada às duas bancadas por Vítor Gaspar. Nos bastidores sentiu--se o
desconforto de quem quer bater com a porta mas não quer pôr em causa a
“salvação nacional”, como lhe chamou Portas. Um equilíbrio difícil de conseguir
nas reacções a quente, uma vez que para os centristas as palavras de Gaspar
foram mais do que um recado: reforçaram ainda mais a tensão na coligação. “Foi
um recado”, desabafou um centrista ao i. “Isto de não se poder mudar nada é um
recado para nós”, acrescentou outro. E preparam armas contra o que Gaspar disse
ser inalterável. “Não esperem de mim que aceite que este Orçamento do Estado é,
tal como está, inalterável. E terei oportunidade de o dizer directamente ao
ministro das Finanças”, escreveu ontem Adolfo Mesquita Nunes no Facebook, em
reacção à conferência de imprensa do ministro (ver páginas 2-3).
Adolfo Mesquita
Nunes é o deputado do CDS responsável na comissão de Orçamento e Finanças, onde
o documento vai ser discutido. E foi ele que, antes de conhecida a proposta,
defendeu em nome do CDS que não havia mais margem para o aumento da carga
fiscal. Adolfo abriu a caixa de Pandora do descontentamento dos centristas.
Logo a seguir, o deputado Michael Seufert escreveu também na sua página da rede
social: “Mais faltava que partidos e grupos parlamentares – CDS e PSD – não
pudessem encontrar e apontar (e convencer!) junto do governo mais formas de
cortar na despesa.” E mais. O porta-voz do partido, João Almeida, que no último
debate parlamentar já tinha dado mostras de descontentamento ao não se levantar
para aplaudir o governo, foi mais longe no contra-recado dos centristas:
“Qualquer Orçamento tem margem para ser alterado no parlamento. Negá-lo é negar
o fundamento do parlamentarismo e do sistema democrático.”
E nem mesmo as
últimas palavras do Presidente da República, em jeito de recado em vésperas da
apresentação do Orçamento, surtiram efeito. Cavaco avisou que não se devem
cumprir os compromissos “a todo o custo”, mas Gaspar não estudou as palavras do
Presidente – o que assumiu com “embaraço”, aliás – para logo depois garantir
que esta proposta de OE “é a única possível”. “Não temos qualquer margem de
manobra”, reforçou.
O CDS, tal como o
PSD, vai começar a preparar na Assembleia da República propostas de alteração.
Num caso extremo, se o CDS apresentar propostas que tenham os votos contra do
PSD, pode ver algumas medidas aprovadas – basta-lhe conseguir o voto favorável
dos socialistas e de mais dez deputados da restante oposição.
Promessas Depois
das tentativas frustradas de convencer Vítor Gaspar e Passos Coelho a mudar o
Orçamento do Estado para 2013 dentro do executivo, os partidos da coligação vão
tentar fazer passar algumas alterações na Assembleia da República. O próprio PSD
anunciou ainda ontem que o OE não é o que queriam, nem tão pouco bate certo com
a ideologia do partido. Por isso apresentarão alterações no parlamento. “Estas
metas para serem alcançadas, infelizmente, têm de o ser com esta carga fiscal,
que nos preocupa a todos, e que nem sequer corresponde às orientações
ideológicas do PSD”, admitiu Duarte Pacheco. Ao que o i apurou, a bancada do
PSD divide-se no modo como a sobretaxa do IRS deve ser aplicada e há quem
defenda que deve dar-se a palavra aos empresários e aos funcionários na hora de
escolher como o desconto é feito. Ou seja, seriam os empresários e os
trabalhadores a dizer se querem descontar todos os meses ou se no final do ano,
como foi em 2011, com a sobretaxa sobre o subsídio de Natal. Mas no governo a
opção foi diferente e a cobrança mensal permite controlar a execução orçamental
pelo lado da receita.
Certo é que na hora
de votar o Orçamento do Estado, se várias vozes nos dois partidos mostram estar
contra, pode bem haver surpresas, como votos contra ou declarações de voto
incómodas. Para já o PSD nega essa hipótese: “No momento da votação todos
estaremos ao lado do governo”, disse Duarte Pacheco. Em Novembro terá a
resposta.
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