Outras Palavras,
Comitê de
Solidariedade organiza, nesta sexta-feira, atos e arrecadação de recursos em
mais de vinte cidades. Em
São Paulo , haverá show na quinta
Taís Capelini
Quem se sensibiliza
com a luta dos guaranis-kaiwás já tem novas maneiras de lutar por eles, além de
homenageá-los em nomes no Facebook. Nos próximos dias, dezenas de organizações,
articuladas no Comitê de Solidariedade ao povo Guarani-Kaiowá, realizarão eventos
para dar repercussão à causa dos índios e arrecadar os recursos necessários a
que continuem resistindo na região.
Atos
em solidariedade aos índios estão sendo articulados em pelo menos vinte cidades do
Brasil, na próxima sexta-feia (9/11). O convite é para que as pessoas levem
faixas, protestem e tomem as ruas para chamar atenção a situação no Mato
Grossodo Sul. Em São Paulo ,
ocorrerá uma marcha, com concentração às 13 horas no MASP. De lá as seguirão
até o Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, onde estão sendo julgadas
ações relativas às terras dos guaranis-kaiowás. O destino final será a sede da
União da Indúsria da Cana-de-açúcar (Unica). A entidade representa o
agronegócio do açúcar, que há décadas pressiona os índios e os expulsa de seus
territórios.
Show Mawaca e
Campanha de arrecadação
Para quem se dispõe
a colaborar com a causa mas não poderá comparecer ao show, o Comitê de
Solidariedade também disponibiliza uma conta bancária e um local físico de
recebimento. Além de doações financeiras, também são aceitos alimentos, roupas,
entre outras coisas. Mais informações no site.
Os limites do
primeiro alívio
Em 30 de outubro,
as pressões da opinião pública em favor dos guarani-kaiowás conquistaram uma
primeira alívio — porém bastante limitado. A desembargadora Cecilia Mello, do
TRF-3, acatou recurso apresentado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e
suspendeu liminar que determinava a retirada do acampamento dos índios guaranis
na Aldeia Pyelito Kue, situada no interior da Fazenda Cambará, em Iguatemi-MS.
Para as lideranças
indígenas, a vitória só será comemorada quando houver, de fato, a devida
homologação e demarcação definitiva das terras indígenas. Em Pyelito Kue, mais
de 200 guaranis dividem um território de apenas um hectare, enquanto uma
única família, proprietária da fazenda, ocupa 761 hectares.
Há décadas, os
guaranis-kaiowás, que ocupam os territórios localizados à margem dos rios
Brilhantes, Dourados, Apa, Iguatemi e Hovy – esperam a demarcação de suas
terras por parte do Estado e sofrem com a pressão de grandes produtores rurais,
que se estabeleceram na região ao longo do século passado.
Segundo Ládio
Veron, liderança indígena da etnia, “existem 49 aldeias prontas para serem
reconhecidas como terra indígena, mas foram embargadas pelo Supremo Tribunal
Federal. A demora da Funai para realização dos estudos antropológicos também é
motivo, segundo ele, para o aumento dos conflitos”. [2]
Com a lentidão,
somada à omissão do Estado, a quantidade de terras demarcadas diminuiu nos
últimos anos, e aumentou a instabilidade dessas populações. Quando a Justiça
não determina os despejos dos índios, a pedido dos fazendeiros, a expulsão é
feita por jagunços, a mando dos supostos “proprietários” da terra. [2] As áreas
são desmatadas, queimadas e envenenadas com agrotóxicos para permitirem a
produção de cana, eucaliptos e soja. Em outras situações, nada se planta, após
a retirada dos índios — mantém-se a terra parada, para especulação e
valorização imobiliária.
Embora o conflito
arraste-se há décadas, ele alcançou repercussão inédita há cerca de um mês,
quando tornou-se conhecida carta
em que comunidade Pyelito kue anunciava a intenção de não deixar a área com
vida. O documento foi provocado por decisão do Judiciário em Naviraí (MS),
determinando a retirada dos cerca de 170 índios que ocupam o pequeno trecho da
Fazenda Cambará, às margens do rio Hovy.
Na carta lê-se:
“Ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato
histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos
antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao governo e à
Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos
para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos,
de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de
enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os
nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais”.
Embora os suicídios
entre os guaranis-kaiowá ocorram há tempos, em decorrência das violências e
situações degradantes a que são submetidos, a Aty Guasu, a grande assembleia do
povo Guarani-Kaiowá, entende que não se trata de um anúncio de suicídio. Mas
que, no contexto da luta pela terra, os índios estão dispostos a morrerem todos
nela, sem jamais abandoná-las. [1]
Para os índios, a
relação com a terra vai muito além do local onde vivem. A terra, ou tekoha
(“lugar sagrado”), significa o lugar onde “realizam seu modo de ser”. É onde os
seus cantos, ritos, a colheita, a caça e a pesca têm uma significação. Fora
desse espaço perdem seu sentido e a sua cultura vê-se desestruturada.
Mais informações:
http://www.campanhaguarani.org.br/
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/
http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/
Notas:
[1] http://cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6578&action=read
[2] http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/2012/10/31/morreremos-por-nossas-terras-diz-lideranca-guarani-kaiowa-do-ms/
[3] http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/2012/11/02/situacao-do-povo-guarani-kaiowa-e-debatida-durante-audiencia-publica-no-senado/
[1] http://cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6578&action=read
[2] http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/2012/10/31/morreremos-por-nossas-terras-diz-lideranca-guarani-kaiowa-do-ms/
[3] http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/2012/11/02/situacao-do-povo-guarani-kaiowa-e-debatida-durante-audiencia-publica-no-senado/
Leia mais:
Sem comentários:
Enviar um comentário