Brasil de Fato - Neto - Editorial
Sem o combate à
vergonhosa desigualdade social existente em nosso país, a população pobre continuará
sendo vítima das organizações criminosas e do aparato policial
Até quando a
população de São Paulo será vítima das ações criminosas do Primeiro Comando da
Capital (PCC) e da canhestra política de segurança pública dos governos
tucanos? Para ambos, organização criminosa e governo, a vida dos seres humanos
não vale um centavo.
De janeiro a
novembro, mais de 95 policiais foram assassinados. Desde agosto, relatórios dos
serviços de inteligência da Policia Federal, da Policia Civil e do Ministério
Público alertavam o governo tucano que o PCC iniciaria uma nova onda de violência
na capital paulista. O governo, cego pela arrogância e autossuficiência, nada
fez. Deu a entender que a situação estava sob controle. Ainda, ignorou a ajuda
oferecida pelo governo federal. Incompetência política e administrativa que
custou a vida de quase uma centena de policiais.
Frente à ofensiva
dos criminosos e da inoperância do governo, os setores mais truculentos e
violentos da Policia Militar (PM) sentiram-se autorizados a agir e a
assemelhar-se com os que dizem combater. Iniciou- se, desde outubro, uma guerra
particular entre esses setores da PM e o PCC.
A maior vítima é a
população pobre, da periferia da cidade. Desde a ofensiva do PCC, mais de 270
civis foram assassinados, quase sempre em chacinas. Só em
outubro, foram 149 assassinatos. Há fortes indícios e suspeitas que as ações
criminosas têm ligação com a força policial. Agem indiscriminadamente para
assassinar possíveis criminosos, usuários de drogas e pessoas que freqüentam
locais identificados com a influência e atuação do PCC.
Não raras vezes, em
número superior, pessoas inocentes foram assassinadas nessas ações de
extermínio. O que antes era uma vida humana, transformou-se num registro
policial repetido diariamente: “resistência seguida de morte”. Nas palavras do
governador Geraldo Alckmin, olhando para os corpos mortos em chacinas, “quem
não resistiu está vivo”. Nas palavras do presidente do Conselho Estadual de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas, há uma lógica
macabra de violência imposta ao aparato de segurança no governo tucano.
Por que é tão fácil
matar pobre na periferia? A pergunta é respondida pelo seu próprio formulador,
o ex-delegado geral da Polícia Civil Paulo Carneiro de Lima: “Existe uma grande
parcela da sociedade que acha que matar pobre hoje é matar o marginal de
amanhã”.
Essa visão não
nasce espontaneamente. Ela é construída diariamente pela chamada grande mídia,
quando apresenta o tráfico de drogas restrito à população pobre e acoberta com
um conivente silêncio os verdadeiros grupos que lucram com essa atividade
ilegal. Estes não moram na periferia da cidade. Não são alvos do PCC e muito
menos da truculência da Polícia Militar.
A mesma mídia,
fazendo uso da opinião publicada, não hesita em difundir que a própria
população pobre defende as ações repressivas da força policial. Há maior
incentivo do que este, para truculência policial?
Há sim! A própria
política de segurança pública do governo tucano de São Paulo impulsiona a
violência policial contra a população pobre. A violência praticada contra as famílias
do bairro Pinheirinho, em São
José dos Campos, contra os usuários de drogas na região da
Cracolândia, no centro de São Paulo, o tratamento dado às favelas, a
militarização das subprefeituras paulistanas, apenas exemplificam a
militarizada política de segurança publica dos tucanos em relação aos pobres.
É fácil matar pobre
porque o governo tucano tem, e difunde, um preconceito contra os pobres. O
candidato tucano derrotado na eleição à prefeitura de São Paulo neste ano, José
Serra, verbalizou muito bem esse preconceito quando disse que iria fazer uma
parceria com a Fundação Casa (ex-Febem) para identificar dentro das escolas o
aluno com potencial de ser criminoso ou usuário de drogas. Não é necessário
muito esforço para imaginar em quais escolas e regiões d a cidade esse trabalho
seria realizado.
No governo desde
1995, os tucanos priorizam a construção de presídios, em detrimento da adoção
de políticas de bem-estar social nas regiões carentes. A única face do Estado
que os pobres conhecem é a repressão policial.
Há brigas e
disputas entre a Polícia Civil e a Policia Militar agravadas pelo atual
governo. Hoje 90% dos crimes não são investigados. As causas passam pela falta
de investimentos, recursos humanos e materiais. Mas também se deve à decisão do
governo de retirar o poder investigativo da Polícia Civil e repassá-lo à
Militar. E, diante da incapacidade de identificar, encontrar e prender
criminosos, se naturaliza a ação de executar os suspeitos.
Combater o crime
organizado é uma tarefa difícil e complexa. Exige serviço de inteligência,
conhecimentos técnicos, sinergias com outras áreas do Estado, combate às
autoridades e policiais corruptos, agilidades e transparência nos processos
judiciais.
É, também, preciso
convencer o governo tucano de que o “combate firme ao crime organizado e os
Direitos Humanos não são incompatíveis” como disse o secretário de Segurança
Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, no discurso de posse do cargo,
dia 22 de novembro.
Mas é
imprescindível que os governos, da esfera federal à municipal, promovam uma
real distribuição de renda em nosso país e adotem políticas de bem-estar social
beneficiando a população pobre e carente, totalmente desassistida de políticas
públicas.
Sem o combate à
vergonhosa desigualdade social existente em nosso país, a população pobre
continuará sendo vítima das organizações criminosas e do aparato policial.
1 comentário:
Eu levaria a sério as porcarias que esse jornalista escreveu, se ele fosse macho o suficiente para colocar na porta da casa dele uma placa com os seguintes dizeres:
AQUI NÃO TEMOS ARMAS DE FOGO !!!
Aí sim, eu concordaria com ele.
Enviar um comentário