Vítor Belanciano - Público
Não levei com
bastonadas, mas ao meu lado, pais com filhos suportaram-nas. Não caí quando
corria, em fuga, pelas ruas fora, mas vi quem caísse e fosse agredido
violentamente pela polícia.
Sim, minutos antes,
também assisti ao arremesso de pedras por parte de manifestantes e repudiei-as,
como tantos outros fizeram. E sim, também vi caixotes do lixo incendiados
depois pelas ruas.
Não foi a minha primeira vez num contexto daqueles. Sei como é. É como é. A impotência dos manifestantes desembocaem provocação. E do
lado da polícia aproveita-se o pretexto para manifestar a força, o poder,
indiscriminadamente. Isso não vai mudar nunca. Ambos os lados são o espelho da
mesma encenação.
À violência de quem protesta responde o poder com mais violência, numa demonstração de força que serve para se reafirmar. Fomos atacados, dizem, limitámo-nos a responder legitimamente. É a história mais antiga do mundo. O resto são muitas bastonadas.
É uma tentação, a subida de tom dos manifestantes. Só não percebe quem não quer. Como forma de protesto, é discutível a sua eficácia. À violência do poder baseado na força deve responder-se com não-violência vigilante. A história mostra que quando um colectivo supera o medo sem violência, tende a unir-se mais, e a impor a sua vontade. O poder não está nos bastões, nem nas pedras, está na cabeça. Mas isso é a minha cabeça que pensa.
Neste momento de crispação não me parece que existam muitos que pensem da mesma forma. Ontem percebi-o. E hoje compreendi, ao ouvir as reacções, que não se tiraram quaisquer ilações. Ontem custou-me ver amigos com a cara ensanguentada, mas se querem saber o que custa mais é hoje ouvir polícias, sindicatos e políticos repetirem, também eles, as mesmas frases de circunstância, sem nenhuma novidade, nenhuma dedução nova, um enorme vazio, entre a desvalorização a roçar o paternalismo e o repúdio sem nenhum pensamento estruturado por trás. Algo que nos faça pensar, finalmente, para além do folclore habitual.
Será que esta gente não percebe que a próxima vez vai ser pior? E a que virá a seguir a essa, pior será. Porque vai acontecer. É claro que vai acontecer. E das próximas vezes não serão apenas “profissionais do protesto”, como o paternalismo vigente os trata.
Da próxima vez não serão jovens com cartazes de frases “giras”. Da próxima vez não serão “profissionais do protesto”, tratados assim como se fossem a hierarquia da disseminação da violência.
Lamento informar, mas quem pensa assim, está enganado. Não são esses os mais tumultuosos. Os mais violentos, prestes a explodir, são os muitos homens e as mulheres à beira do desespero. Quando essas pessoas pegarem fogo às ruas não o vão fazer com os caixotes do lixo colocados, apesar de tudo, a meio da rua, para as chamas não chegarem aos prédios. Vai tudo a eito. Como faz a polícia.
Alguns deles estavam lá ao lado dos “profissionais do protesto”. Eu vi-os. Não têm a cara tapada, não senhor. São pessoas crispadas, com as veias do pescoço dilatadas de gritar irados, à beira do desespero, gritando como se fosse a primeira vez, e para alguns deles até é capaz de ser verdade. Deixemo-nos de histórias. Os diversos poderes adoram “profissionais do protesto”. Dá-lhes jeito. Mas ontem foi mais do que isso. E da próxima vez será pior.
Da próxima vez, se ninguém tirar ilações, esperemos que não seja tarde de mais.
Não foi a minha primeira vez num contexto daqueles. Sei como é. É como é. A impotência dos manifestantes desemboca
À violência de quem protesta responde o poder com mais violência, numa demonstração de força que serve para se reafirmar. Fomos atacados, dizem, limitámo-nos a responder legitimamente. É a história mais antiga do mundo. O resto são muitas bastonadas.
É uma tentação, a subida de tom dos manifestantes. Só não percebe quem não quer. Como forma de protesto, é discutível a sua eficácia. À violência do poder baseado na força deve responder-se com não-violência vigilante. A história mostra que quando um colectivo supera o medo sem violência, tende a unir-se mais, e a impor a sua vontade. O poder não está nos bastões, nem nas pedras, está na cabeça. Mas isso é a minha cabeça que pensa.
Neste momento de crispação não me parece que existam muitos que pensem da mesma forma. Ontem percebi-o. E hoje compreendi, ao ouvir as reacções, que não se tiraram quaisquer ilações. Ontem custou-me ver amigos com a cara ensanguentada, mas se querem saber o que custa mais é hoje ouvir polícias, sindicatos e políticos repetirem, também eles, as mesmas frases de circunstância, sem nenhuma novidade, nenhuma dedução nova, um enorme vazio, entre a desvalorização a roçar o paternalismo e o repúdio sem nenhum pensamento estruturado por trás. Algo que nos faça pensar, finalmente, para além do folclore habitual.
Será que esta gente não percebe que a próxima vez vai ser pior? E a que virá a seguir a essa, pior será. Porque vai acontecer. É claro que vai acontecer. E das próximas vezes não serão apenas “profissionais do protesto”, como o paternalismo vigente os trata.
Da próxima vez não serão jovens com cartazes de frases “giras”. Da próxima vez não serão “profissionais do protesto”, tratados assim como se fossem a hierarquia da disseminação da violência.
Lamento informar, mas quem pensa assim, está enganado. Não são esses os mais tumultuosos. Os mais violentos, prestes a explodir, são os muitos homens e as mulheres à beira do desespero. Quando essas pessoas pegarem fogo às ruas não o vão fazer com os caixotes do lixo colocados, apesar de tudo, a meio da rua, para as chamas não chegarem aos prédios. Vai tudo a eito. Como faz a polícia.
Alguns deles estavam lá ao lado dos “profissionais do protesto”. Eu vi-os. Não têm a cara tapada, não senhor. São pessoas crispadas, com as veias do pescoço dilatadas de gritar irados, à beira do desespero, gritando como se fosse a primeira vez, e para alguns deles até é capaz de ser verdade. Deixemo-nos de histórias. Os diversos poderes adoram “profissionais do protesto”. Dá-lhes jeito. Mas ontem foi mais do que isso. E da próxima vez será pior.
Da próxima vez, se ninguém tirar ilações, esperemos que não seja tarde de mais.
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