Luís Claro – Jornal
i
Socialistas não
descartam hipótese de Seguro “patrocinar” a iniciativa. Direcção do PS não quer
retirar margem de manobra ao Presidente
Com as cartas quase
todas em cima da mesa, um grupo de deputados do PS tenciona enviar o Orçamento
do Estado para o Tribunal Constitucional se Cavaco Silva não pedir a fiscalização
preventiva. A proposta do governo vai ainda sofrer dezenas de alterações no
debate na especialidade – que começa hoje e termina na terça-feira com a
votação final –, mas no entender dos parlamentares socialistas estão longe de
corrigir as inconstitucionalidades.
“A intenção
mantém-se”, diz ao i o ex- -ministro da Justiça e deputado do PS Alberto Costa,
que liderou o processo há um ano com Vitalino Canas e Isabel Moreira. Costa
admite que existem “vários aspectos” no Orçamento que suscitam dúvidas, mas
argumenta que nesta altura é preciso ter “uma atitude de reserva”.
Um dos argumentos
dos deputados socialistas é que a proposta do governo viola o princípio da
protecção da confiança, nomeadamente em relação aos reformados e pensionistas.
“Não direi que a questão do princípio da igualdade esteja em causa. O governo foi mais
cuidadoso. Parece-me que a violação do princípio da confiança poderá
colocar-se”, diz ao i Vitalino Canas.
Também a deputada
Isabel Moreira defende que os cortes nos subsídios dos reformados e
pensionistas são “a questão mais aguda do ponto de vista do juízo da
constitucionalidade”. “Estamos a falar do resultado de um desconto que foi
feito ao longo da vida. É uma usurpação pelo Estado”. Isabel Moreira afirma que
só pode ter uma posição definitiva quando for conhecida a versão final do
Orçamento do Estado e neste momento está a “estudar a questão da
proporcionalidade do sistema fiscal”. “Tenho grandes dúvidas relativamente a
esta nova fórmula dos cinco escalões [do IRS] do ponto de vista do que a
Constituição entende por progressividade.”
Os deputados
socialistas garantem que só vão começar a elaborar o requerimento para entregar
no Constitucional a seguir à decisão do Presidente da República, que é o único
com poder para pedir a fiscalização preventiva. A diferença é que, se for Belém
a desencadear o processo, o Constitucional terá de tomar uma decisão no prazo
de 25 dias e o Orçamento será alterado, no caso de existirem
inconstitucionalidades, antes de entrar em vigor. “Seria um verdadeiro dever do
Presidente da República”, diz Isabel Moreira.
A estratégia da
direcção do PS é deixar espaço ao Presidente da República para decidir se envia
ou não o Orçamento para o Constitucional e a possibilidade de serem os
deputados a pedir a fiscalização sucessiva ainda não foi discutida. O que só
deverá acontecer quando for conhecida a versão final do documento.
Em todo o caso,
Vitalino Canas não põe de lado a hipótese de a direcção do partido, ao
contrário do que aconteceu com o Orçamento para 2012, apoiar a iniciativa. “Há
um factor novo, que é saber se a direcção do PS quer avançar ou patrocinar o
pedido de fiscalização sucessiva”, diz o deputado.
O PS chegou a
propor que o debate parlamentar do Orçamento fosse mais curto para dar
oportunidade a Cavaco Silva de pedir a fiscalização preventiva, mas a proposta
foi rejeitada pela maioria. Uma coisa é certa, se Cavaco promulgar o Orçamento
do Estado para o próximo ano, os deputados socialistas avançam para o
Constitucional. Bastam 23 assinaturas. O que este ano será ainda mais fácil de
conseguir.
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