Fernando Dacosta – Jornal i, opinião
Perdendo o pudor,
as estruturas do Estado estão a tratar os cidadãos como serviçais a manipular,
a espoliar. A falta de respeito atinge a indecência, criando todas as condições
para graves fracturas sociais. Pequenas desvergonhas multiplicam-se sem cessar:
agora é a Administração Geral Tributária que endereça cartas, de açucarado
cinismo, aos proprietários de casas no sentido de estes lhes enviarem plantas
dos seus imóveis dentro do prazo de dez dias, para reavaliação – leia-se,
esbulho fiscal.
Nos
estabelecimentos comerciais, além de produtos, impingem-nos papelinhos (as
famigeradas facturas) pensando que temos pachorra para os receber e guardar.
Esse problema é das Finanças, não é nosso: não desembolsamos já demasiados
impostos para nos maçarem com semelhantes ridicularias?
O mesmo se passa em
relação à recolha do lixo, isto é, à peregrina ideia de devermos ser nós a
separá-lo (então as taxas que pagamos para isso?) em sacos, saquinhos, saquetas,
antes de o distribuirmos por imundos recipientes camarários.
Pequenas
desvergonhas são igualmente as que sofremos em repartições, bancos, hospitais,
centros de saúde, estações de correios, de comboios, etc., com a inexistência,
nos espaços de espera, de cadeiras suficientes, com guichets (mais de metade)
encerrados ante filas em pé, em resignação.
Pequenas
desvergonhas são ainda as das gasolineiras onde os utentes têm de sair dos
veículos, pagar adiantado, encher o depósito, porque se extinguiram, para
poupar, os (prestáveis) empregados de outrora.
As ilusões dos que
afirmam sermos um povo de “aguentas” vão rasgar-se: pequenas desvergonhas são
pequenas gotas de água que fazem extravasar os grandes tanques da paciência
colectiva.
Escreve à
quinta-feira
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