Correio do Brasil,
com ABr - de Campo Grande, MS
A situação em que
vivem os índios de três comunidades visitadas esta semana por uma comissão do
Ministério Público Federal (MPF) é “alarmante”, afirmou a sub-procuradora-geral
da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, Gilda Pereira. Órgão setorial do
MPF, a 6ª Câmara é responsável por coordenar, integrar e revisar o trabalho dos
procuradores da República que atuam judicial ou extrajudicialmente em casos
envolvendo a garantia dos direitos das comunidades tradicionais, como, por exemplo,
indígenas e quilombolas.
O grupo formado por
mais cinco procuradores e dois antropólogos, além da própria sub-procuradora,
visitou as aldeias Arroio Korá e Ypo´i, em Paranhos, e Pyelito Kue, em
Iguatemi, para averiguar as denúncias de violações aos direitos dos indíos
Guarani-Kaiowá que vivem em
Mato Grosso do Sul. Em tamanho da população, a etnia é a
segunda maior do país, com cerca de 43 mil pessoas, dos quais 32 mil vivem no
estado, segundo dados do Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
- Temos recebido
várias denúncias de graves violações de direitos humanos contra os
Guarani-Kaiowá em Mato
Grosso do Sul. Daí a diligência da comissão – explicou a
sub-procuradora, após se reunir, no início da tarde de ontem, com o governador
André Puccinelli, a quem relatou as impressões do grupo.
- Durante as
visitas às três aldeias, confirmamos a total precariedade, que chega a ser
desumana, em que vivem os indígenas”, declarou Gilda, garantindo que, além de
enfrentarem limitações ao seu direito de ir e vir, os índios das três
comunidades indígenas visitadas não têm acesso adequado à saúde e à educação.
- Os índios também
nos relataram que sentem muito medo, por acharem que as autoridades, a imprensa
e a sociedade não os valorizam nem compreendem suas reivindicações por terras,
que é algo de que o índio precisa para viver. Além da terra, eles querem ser
reconhecidos por sua cultura – disse a sub-procuradora, revelando que, durante
a reunião, a comissão pediu a Puccinelli que manifestasse publicamente o
reconhecimento do estado aos povos indígenas para, assim, dar maior
visibilidade às várias comunidades sul-matogrossenses.
- Sabemos mais
sobre a etnia Guarani-Kaiowá em Brasília ou no exterior do que (se sabe a
respeito deles) em Mato
Grosso do Sul. Por isso reivindicamos que o governador diga a
toda a população que há guaranis-kaiowás vivendo no estado e que eles também
precisam ser contemplados em seus direitos – comentou a sub-procuradora.
Gilda contou que,
ao ouvir as recomendações do grupo, como a necessidade de o governo estadual
intensificar ações e políticas públicas já implementadas para garantir o
bem-estar e a dignidade indígena, Puccinelli assumiu o compromisso de tentar
resolver os problemas na medida em que as “limitações” orçamentárias
permitirem.
- Ele falou que tem
vários problemas financeiros e econômicos, mas disse que estava sensibilizado e
que é o governador de todos os índios guarani-kaiowá. Eu acho muito importante
essa declaração do governador – comentou a sub-procuradora, reconhecendo que a
responsabilidade maior pela solução dos conflitos entre produtores rurais e
índios é da União. Durante o século passado, o Estado brasileiro estimulou, com
a titulação de posse de áreas até então povoadas por comunidades indígenas, que
pessoas de outras regiões do país se mudassem para o Centro-Oeste para, assim,
expandir a fronteira agrícola brasileira . “O MPF inclusive já ajuizou uma ação
neste sentido.”
Em nota, a
assessoria do governo disse que Puccinelli apresentou à comissão um balanço das
ações do estado, como a distribuição de cestas de alimentos a 76 aldeias de 27
cidades, além da construção, desde 2007, de 1.480 unidades habitacionais em
aldeias indígenas.
- Postulamos ao
governador que essas políticas públicas já implementadas precisam ser
intensificadas. Há ainda necessidades e carências que relatamos ao governador,
que se comprometeu a tentar resolvê-las – disse a sub-procuradora.
A viagem dos
representantes da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF foi concluída na
véspera da chegada de uma comitiva de representantes do governo federal no
estado para debater e propor soluções para os conflitos. O encontro reunirá, a
portas fechadas, representantes da Casa Civil da Presidência da República, da
Fundação Nacional do Índio (Funai), Advocacia Geral da União(AGU), Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Segurança Pública (Senasp), Procuradoria Geral da República, Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai), Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), Secretaria de Patrimônio da União (SPU), além de
parlamentares, lideranças do setor produtivo e do governo sul-matogrossense. A
reunião está marcada nesta sexta-feira na Assembleia Legislativa.
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