segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

“ESTAS TRAGÉDIAS TÊM DE ACABAR”, diz Obama

 


Kathleen Gomes (Newtown, Connecticut) - Público
 
Numa cerimónia religiosa em memória das vítimas do tiroteio de sexta-feira, o Presidente americano sugere que é tempo de mudar a regulação do uso de armas.
 
O Presidente norte-americano Barack Obama prometeu ontem à noite fazer tudo o que o seu cargo permite para evitar que tiroteios em massa como o que aconteceu numa escola primária em Newtown, no Connecticut, na sexta-feira, se repitam.
 
Falando numa cerimónia inter-religiosa em Newtown, depois de se encontrar em privado com os familiares das 26 vítimas – incluindo 20 crianças entre os seis e os sete anos –, Obama notou que esta era a quarta vez, desde que é Presidente, que visitava uma “comunidade dilacerada por um tiroteio em massa”.
 
“Não podemos tolerar mais isto. Estas tragédias têm de acabar”, disse, num discurso de 19 minutos em que nunca se referiu directamente a uma maior regulação do uso de armas nos Estados Unidos – talvez porque isso seria um discurso político e ele estava ali para consolar uma comunidade e o país – mas isso esteve subentendido o tempo todo.
 
“Não podemos aceitar que acontecimentos como este sejam rotina”, disse, falando no auditório do liceu de Newtown, a partir de um palco com um pano de fundo negro. Obama disse que o país falhara em manter as suas crianças seguras e que chegou o momento de “mudar”.
 
“Vamos ouvir dizer que as causas deste tipo de violência são complexas, o que é verdade. Nenhum lei nem conjunto de leis pode erradicar o mal do mundo ou prevenir todos os actos de violência sem sentido na nossa sociedade. Mas não podemos usar isso como uma desculpa para não fazermos nada.”
 
Barack Obama não indicou medidas específicas, mas nos seus quatro anos na Casa Branca nunca tinha dado um sinal tão claro de que está disposto a introduzir reformas para controlar o acesso e utilização de armas.
 
Quando foi eleito pela primeira vez, em 2008, as vendas de armas nos Estados Unidos aumentaram, impulsionadas pelo receio de muitos americanos – que não tinham votado em Obama – de que o Presidente viesse a limitar a posse de armas, o que nunca aconteceu. Obama nem sequer deu qualquer indicação de que tencionava lidar com a questão. Até domingo.
 
O governador do estado do Connecticut, Dannel Malloy, que falou antes, notou que Obama lhe dissera que o dia mais difícil da sua presidência tinha sido sexta-feira, quando tomou conhecimento do que acontecera em Newtown.
 
Nesse dia, Obama fez uma breve e emocionada declaração a partir da Casa Branca, limpando as lágrimas e indicando que estava a falar, acima de tudo, como pai de duas filhas.
 
No domingo, em Newtown, Obama leu os nomes de todas as crianças que morreram no tiroteio de sexta-feira. “Charlotte. Daniel. Olivia. Josephine. Ana. Dillon. Madeleine. Catherine. Chase. Jesse. James. Grace. Emilie. Jack. Noah. Caroline. Jessica. Benjamin. Avielle. Allison.”
 
“Deus chamou-as para a Sua casa. Que aqueles de nós que ficaram possam encontrar a força para continuar e tornar o nosso país digno da sua memória”, concluiu.
 
Vinte das vítimas de Newtown tinham seis e sete anos
 
João Manuel Rocha - com agências - Público
 
Senadora democrata vai apresentar proposta para proibir armas de assalto. Obama estará com famílias na noite deste domingo.
 
O mais novo, Noah, tinha feito seis anos no dia 20 de Novembro. O mais velho, Daniel, completara sete a 25 de Setembro. As investigações para tentar perceber como e porquê um jovem de 20 anos matou a sangue-frio 20 crianças de seis e sete anos e seis adultos, numa escola de Newtown, estado de Connecticut, EUA, ainda decorrem. Mas as autoridades já revelaram a identidade das vítimas e começaram a divulgar aspectos do massacre de sexta-feira.
 
Entre as 26 pessoas mortas na escola, contam-se 12 raparigas e oito rapazes. Dezasseis tinham seis anos, quatro tinham sete anos. Nos seis adultos mortos na escola de Sandy Hook, todos mulheres, incluem-se a directora, duas professoras e a psicóloga. Informações divulgadas numa conferência de imprensa da polícia acentuam ainda mais o horror: as vítimas foram repetidamente alvejadas.
 
Antes do massacre na escola, o autor dos disparos, Adam Lanza, matou a mãe, em casa. Ao perceber a aproximação da polícia, suicidou-se. O número total de mortos é de 28.
 
Lanza forçou a entrada no estabelecimento a tiro, disse o governador do estado, o democrata Dan Malloy, em declarações a estações de televisão. “O que sabemos é que entrou a disparar. Ninguém o deixou entrar. Disparou para criar uma passagem. Uma espingarda de assalto permite fazê-lo”, disse à CNN. “A escola estava fechada, usou a arma para disparar através das janelas e conseguiu entrar”, afirmou à ABC. “Depois foi a uma primeira sala, a seguir a uma segunda, e foi aí, pensamos, que se suicidou, ao sentir a chegada da polícia.”
 
O governador juntou a sua voz aos que defendem medidas de controlo de armamento. “São armas de assalto, não se caçam veados com armas destas”, disse num programa da CNN. O atirador usou uma arma de tipo militar.
 
Já este domingo a senadora democrata Dianne Feinstein disse que vai apresentar uma lei para proibir o uso de armas de assalto. “Vou introduzi-la no Senado, e o mesmo texto será apresentado na Câmara dos Representantes”, afirmou numa entrevista à NBC. Questionada sobre se o Presidente Barack Obama apoiará a iniciativa, disse: “Penso que o fará”.
 
Porém, como nota a AFP, num Congresso dividido, só um acordo entre as lideranças democrata e republicana poderá tornar a proposta viável. A proibição de armas de assalto foi aprovada na presidência de Bill Clinton, nos anos 1990, mas expirou em 2004, na presidência de George W. Bush. O direito de posse de arma está previsto constitucionalmente.
 
Obama é esperado ainda este domingo em Newtown, onde se deve encontrar com familiares das vítimas e agradecer o trabalho dos serviços de urgência, segundo informação divulgada pela Casa Branca. Está previsto que fale numa cerimónia religiosa marcada para as 19h00 locais, meia-noite em Portugal continental.
 
O governador do Connecticut disse também que “tem de se estar perturbado para cometer um crime deste tipo. […] Esta informação será provavelmente confirmada, mas é claro que o assassino é uma pessoa perturbada”, disse Dan Malloy à ABC.
 
O pai do autor do massacre manifestou incompreensão e dor pelo sucedido. “A nossa família chora, com todos os que foram atingidos por esta enorme tragédia”, escreveu Peter Lanza, num comunicado divulgado pela cadeia de televisão WFSB. “Nenhuma palavra pode exprimir até que ponto os nossos corações estão despedaçados.”
 
O Papa Bento XVI manifestou também este domingo a sua dor pelas vítimas. “Estou profundamente entristecido pela violência sem sentido de sexta-feira em Newtown”, disse o chefe da Igreja Católica.
 

3 comentários:

Anónimo disse...

Será que o sangue inocente de uma criança chinesa no gume de uma faca é menos vermelho que o sangue de uma criança norte-americana no chão de uma escola?


Dia 14 de dezembro de 2012, um homem invade uma escola primária e consegue atacar 22 crianças. Não, não estamos falando do mais recente e hediondo ataque em uma escola norte-americana. Estamos falando de mais um ataque ocorrido na China. Não, ele não usou uma arma de fogo, usou uma pequena faca que roubou da cozinha de uma senhora que também foi esfaqueada.

Os ataques à escolas primárias na China são extremamente comuns e causam centenas de mortes e mutilações em crianças e adultos. O governo Comunista Chinês decidiu inclusive vetar informações sobre os ataques, para evitar os possíveis copiadores, ou seja, pessoas que resolvem agir da mesma forma. Assim, dificilmente teremos número reais da quantidade de ataques que ocorrem na gigantesca e censurada China.

Ao contrário, os EUA vivem uma democracia que venera a liberdade de imprensa e por isso não existe qualquer freio – e não deve haver mesmo - para noticiar-se esse tipo de ocorrência, que sempre causa comoção no mundo com os vídeos e fotos que são veiculados em milhares de jornais, revistas e canais de televisão.

Anónimo disse...

PARTE 2

No Brasil, imediatamente dois tipos de sentimentos aparecem em comentários, debates e reportagens, quase sempre juntos: o antiamericanismo e o desarmamentismo. O discurso de modo simplista e simplório de que o americano é belicista, que os EUA são a cultura das armas, que o cinema vangloria a violência, etc. E, claro, num tom professoral, que os EUA deveriam restringir a compra de armas de fogo pela população, em detrimento da chamada Segunda Emenda.

O mais interessante é que esses doutos especialistas brasileiros moram em um país onde o desarmamento vem sendo implantado desde 1997. Em um país onde o porte – legal – de armas é proibido, onde a compra de um reles .22 tem tamanha burocracia e custos que inviabiliza a aquisição para 99% da população. Ou seja, um país desarmado, mas em que se mata 55 mil brasileiros por ano! Onde 45% dos jovens que não morrem por causas naturais são assassinados.

Os EUA possuem 5 vezes menos homicídios que o Brasil. Connecticut teve, em todo o ano de 2010, menos de 150 assassinatos, e a pequena cidade de Newton, onde ocorreu o massacre, tem em média dezesseis crimes violentos por ano, e apenas um homicídio!

Qual o motivo destes “especialistas” que culpam as armas, o belicismo, o cinema ou o próprio capitalismo não se manifestarem tão veementemente sobre as mais de cem crianças mortas a facadas, machadadas ou marretadas na China, só em 2010?

Anónimo disse...

FINAL

Será que o sangue inocente de uma criança chinesa no gume de uma faca é menos vermelho que o sangue de uma criança norte-americana no chão de uma escola? A verdade é que o que define o horror e que “alguma coisa precisa ser feita” é a ideologia cega e burra dos especialistas de plantão.

-Bene Barbosa é bacharel em direito, especialista em segurança pública e presidente da ONG Movimento Viva Brasil.

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