segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Portugal: O COMBATE EM BRANCO

 

Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
 
A tragédia nacional é que, se o governo é mau, a oposição não tem alternativas
 
O governo é péssimo, o Memorando inqualificável e destrutivo. Podemos estar de acordo sobre estes dois assuntos e ficar muito contentes, pedindo para se “rasgar” o papel, avançar para uma agenda de “crescimento” ou acabar com o “pacto de agressão”. A tragédia nacional (e europeia) é que, se o governo é mau – e sobre isso nenhuma dúvida – a oposição não tem nenhuma alternativa concreta à situação existente. Toda a conversa no espaço público contra o Memorando é mistificadora – como se fosse possível a Jerónimo de Sousa, tendo o PCP mais uns votinhos, acabar com o “pacto de agressão”, a João Semedo “rasgar o Memorando” e a António José Seguro ter excelentes resultados económicos se a troika lhe exigisse (como exigiria) o cumprimento de objectivos similares.
 
Em entrevista ao i nesta edição, o filósofo francês François Badiou reconhece a existência de uma “fraqueza política na Europa”. E não, não está a falar da senhora Merkel, mas precisamente daqueles que se lhe opõem. “É politicamente impossível fazer as coisas a longo prazo sem a consistência ideológica que neste momento não existe”. Assiste-se então a “uma mera revolta” – de resultados práticos até aqui nulos – quando o que devia haver era “uma visão geral”.
 
Em Portugal, todos os partidos que se opõem ao governo partilham essa incapacidade de formular uma “visão geral” que pudesse conduzir a uma alternativa sustentada.
 
Tudo começa e acaba numa palavra – a moeda e as alternativas europeias. Tanto o Bloco de Esquerda como o PCP recusam a única forma daquilo que defendem ter algum, digamos, cabimento – a saída do euro. O PCP tem fugido notoriamente ao debate, por muito que na resolução aprovada no congresso aponte todos os malefícios da Europa. E o anúncio de um referendo sobre a participação de Portugal no euro não deixa de ser uma forma de adiar o debate. Com o Bloco de Esquerda passa-se praticamente a mesma coisa – “rasgar o Memorando” não é uma coisa que se possa fazer sem ter uma alternativa consistente. A verdade é que, se ganhasse as eleições, o Bloco de Esquerda limitava-se a pedir para renegociar com os credores. É apenas isto que significa o “rasgar o Memorando” e nada mais.
 
A destruição em curso do país não está a decorrer apenas porque Passos Coelho está no poder, mas porque Portugal está amarrado a uma moeda impossível. Rejeitar discutir a única forma de romper verdadeiramente com o Memorando da troika é uma vergonha para as alternativas.
 

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