MSE – HB - Lusa
Díli, 19 dez (Lusa)
- O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste Mari Alkatiri considera que a
"situação psicológica de dependência" dos timorenses em relação às
Nações Unidas pode criar dificuldades após a saída, até 31 de dezembro, da
missão internacional.
Em entrevista à
agência Lusa, Mari Alkatiri fez um "balanço positivo" da presença das
missões de manutenção de paz da ONU em Timor-Leste, mas, por outro lado, lembra
que criou dependência.
"Criou também
uma certa situação psicológica de dependência. Nós vivemos diferentes fases de
dependência: dependência de 500 anos de Lisboa, depois 24 anos muito duros de
Jacarta e depois 13 anos desta coabitação democrática, mas de partilha de
poder" com as missões internacionais, afirmou o secretário-geral da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que chefiou o Governo
entre 2002 e 2006.
O líder da oposição
timorense lembrou que, após a saída da última missão das Nações Unidas em
Timor-Leste, até 31 dezembro, o país vai pela "primeira vez"
experimentar uma fase de independência em termos de exercício de poder e antevê
"dificuldades para 2013".
"As pessoas
podem pensar que estarmos sós significa fazermos o que quisermos e já temos
algumas indicações nesse sentido", afirmou.
Para Mari Alkatiri,
é preciso reforçar que a "paz política não são as forças de segurança que
garantem e a estabilidade social depende muito da paz política".
"Se os
políticos, as lideranças políticas continuarem a querer politizar as forças de
defesa e segurança então teremos problemas", acrescentou.
"Nós temos
estado na oposição nos últimos cinco anos e meio, procuramos a todo o custo
contribuir para reforçar a democracia. Não quisemos politizar as forças,
politizar a polícia e esperamos que isso tenha sido uma boa lição para todos os
outros partidos políticos e lideranças políticas", salientou o
ex-primeiro-ministro.
Em relação à
recente Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT), que termina
o seu mandato no próximo dia 31, colocando um ponto final a 13 anos de missões
da ONU no país, Mari Alkatiri disse que a presença internacional foi
"dissuasora".
A UNMIT foi
estabelecida em 2006 na sequência da grave crise política e militar no país,
que provocou dezenas de mortos, milhares desalojados e a implosão da polícia
nacional.
Durante a crise de
2006, Mari Alkatiri demitiu-se de funções, tendo sido substituído no cargo por
José Ramos-Horta, que um ano mais tarde foi eleito chefe de Estado.
Já em 2008, e
durante a presença da UNMIT, José Ramos-Horta foi ferido com gravidade num atentado
e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, escapou ileso a uma emboscada.
"Pergunta-se
quem realmente resolveu os problemas, se foi a UNMIT se foram os timorenses. A
presença da UNMIT é mais dissuasora, mas foram os timorenses que resolveram os
problemas", sustentou o líder da Fretilin.
Para Alkatiri, a
Fretilin "contribui de uma forma decisiva para criar o clima de paz e
estabilidade", porque o Governo " fracassou na sua missão fundamental
de desenvolver o país" e as verbas usadas do Fundo petrolífero só geraram
"aparências"
"Se a Fretilin
quisesse explorar isso contra o Governo trazendo as pessoas para rua teria sido
uma catástrofe, mas nós não fizemos isso. Estamos satisfeitos por termos
contribuído para a paz e estabilidade e a nossa função é continuarmos a fazer
isso", acrescentou.
Sem comentários:
Enviar um comentário