Partida das Nações
Unidas afeta de modo desigual as bolsas de Mário, Fátima e Alzira
19 de Dezembro de
2012, 18:29
Díli, 19 dez (Lusa)
- Alzira Lay é timorense, tradutora e a partir de hoje fica desempregada,
porque termina o seu contrato de trabalho com a Missão Integrada da ONU em
Timor-Leste (UNMIT), cujo mandato acaba no próximo dia 31.
Mário Spencer é
empresário guineense e o movimento no seu restaurante na praia da Areia Branca,
um dos mais luxuosos de Díli, sentiu uma ligeira quebra desde que os funcionários
internacionais daquela missão começaram a deixar o país.
Já Fátima Costa não
se queixa. No seu restaurante, no centro de Díli, onde um prato custa 6,5
dólares (4,9 euros), tem servido mais almoços do que o habitual.
"Até agora
aumentou mais um bocadinho", afirmou a empresária timorense de origem
chinesa, proprietária do emblemático City Café, salientando que serve cerca de
60 almoços por dia a uma maioria de clientes portugueses e timorenses.
Apesar de a missão
da ONU terminar no dia 31, o único impacto que sentiu foi ter mais trabalho no
restaurante.
É exatamente de
trabalho que Alzira Lay, 27 anos, anda à procura a partir de hoje, dia em que
termina o contrato que a ligava desde 2008 à ONU na unidade de tradução e
interpretação, depois de ter passado como intérprete pela unidade de
investigação de crimes graves. "Agora tenho de procurar outro
emprego."
Casada e mãe de
duas raparigas e um rapaz, Alzira Lay explica que, por outro lado, não vai ter
grandes dificuldades porque o marido está empregado e a sogra, professora,
também ajuda.
Voltar a estudar
está nos planos de Alzira Lay, que fala fluentemente quatro línguas (tétum,
malaio, indonésio e inglês) e "percebe um bocadinho de português".
Alzira Lay estava a
frequentar o curso de inglês na Universidade Nacional de Timor-Leste, mas com o
casamento e os filhos, parou de estudar e começou a trabalhar.
Segundo a ONU e o
Governo timorense, a retirada da UNMIT terá impacto na economia local, mas,
devido ao fortalecimento da economia timorense, será menor do que em 2002,
quando o fim da Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste
(UNTAET), antes da restauração da independência, implicou a saída de milhares
de funcionários e militares internacionais.
A ONU e o Governo
preveem que o impacto se sinta mais na área urbana de Díli, onde estavam
localizados 69 por cento dos quase três mil funcionários, 898 dos quais
timorenses, e cuja participação no Produto Interno Bruto (PIB) não petrolífero,
em 2010, foi de 7,4%, correspondente a 46,7 milhões de dólares (35,4 milhões de
euros ao câmbio atual).
Para o guineense
Mário Spencer, a alteração a partir de 2013 "não será substancial",
embora se faça sentir ligeiramente" no restaurante Morabeza, com perdas de
receitas entre 10 e 15 por cento.
"Era importante
a presença deles", diz o proprietário do restaurante, aberto desde 2009,
referindo-se aos clientes internacionais.
Para o empresário
guineense, que está em Timor-Leste há nove anos, não é pela saída das Nações
Unidas que o país vai sofrer, mas pela "forma agilizada" que o
Governo terá de reagir "para levar a bom cabo o país".
"Não considero
que possa haver um problema maior em Timor, a menos que haja muito má
governação. Não é do interesse do Governo e nenhum timorense. Sou
otimista", declarou.
MSE // HB
Impacto económico
da saída das Nações Unidas será reduzido e localizado
19 de Dezembro de
2012, 18:29
Díli, 19 dez (Lusa)
- A Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT) e o Governo
timorense preveem que a saída do pessoal da ONU até 31 de dezembro terá um
impacto económico reduzido e localizado, mas avisam que é preciso mais emprego.
Segundo o plano
conjunto de transição, elaborado pela ONU e pelo Governo timorense, a
"retirada da UNMIT terá, sem dúvida, um impacto na economia local, mas
esse impacto será menor do que em 2002, devido ao tamanho, agora maior, da
economia de Timor-Leste".
A previsão da ONU e
do Governo é a de que o impacto se sinta mais na área urbana de Díli, onde
estão localizados 69 por cento dos funcionários internacionais e nacionais da
missão.
A UNMIT tem quase
três mil funcionário, 898 dos quais timorenses, e a sua participação no Produto
Interno Bruto (PIB) não petrolífero do país, em 2010, foi de 7,4%,
correspondente a 46,7 milhões de dólares (35,4 milhões de euros ao câmbio
atual).
Em 2010, segundo
dados do Governo timorense, o PIB não petrolífero foi de cerca de 700 dólares
'per capita' (531 euros) e o PIB petrolífero de 1.800 dólares (1.365 euros).
"Como o número
(de funcionários) é reduzido não vai haver um impacto económico significativo,
mas afeta sempre porque os funcionários internacionais são como turistas, precisam
de alojamento e fazem compras", afirmou à agência Lusa Augusto Mendonça,
professor de economia macro da faculdade de Economia da Universidade Nacional
de Timor-Leste.
Para o professor, a
saída da ONU vai afetar, sobretudo, a taxa de desemprego do país, que estima em
16 por cento da população ativa, embora admita que possa ser superior.
"Vai aumentar
a taxa de desemprego do país, mas nada como foi na missão de 2002", disse
Augusto Mendonça, referindo-se ao fim da Administração Transitória da ONU em
Timor-Leste (UNTAET), antes da restauração de Timor-Leste e que implicou a
saída de milhares de funcionários e militares internacionais.
Augusto Mendonça
recomenda ao Governo investimento no setor privado ao nível da criação de indústria,
porque cria emprego a longo prazo, alertando para o risco da aposta
governamental na construção de infraestruturas, que só cria postos de trabalho
temporários.
" A aposta na
indústria resolve o problema do desemprego, da pobreza, melhora o bem-estar da
população e reduz os itens da importação para procurar equilibrar a balança
comercial", explicou.
Em 2011,
Timor-Leste exportou 18 milhões de dólares (13,6 milhões de euros) de
mercadorias e importou 689 milhões (522 milhões de euros).
Opinião semelhante
tem Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro e líder da Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin), o único partido da oposição com
representação parlamentar.
"Em 2002,
entre 60 e 70 por cento da economia dependia da presença internacional e
Timor-Leste não tinha financiamento, recursos próprios. Agora, o impacto vai
sentir-se nos restaurantes e hotéis", afirmou o secretário-geral da
Fretilin.
Para o antigo
primeiro-ministro timorense, há pessoas que vão perder o emprego, mas se
Governo "souber gerir bem os recursos que tem, facilmente pode cobrir
isso".
"Mas não é
subsidiar, é criar realmente um programa de emprego através de investimento
público" e escolas vocacionais, capazes de qualificar recursos humanos,
alertou Mari Alkatiri.
MSE // HB
2 comentários:
“"Mas não é subsidiar, é criar realmente um programa de emprego através de investimento público" e escolas vocacionais, capazes de qualificar recursos humanos, alertou Mari Alkatiri.”
Esta é uma boa ideia Sr Dr Alkatiri. O problema é que muita gente é dependente psicológico de internacionais. E se houver programa de escolas vocacionais, muito dinheiro vai-se perder porque há quem gosta de roubar o dinheiro do povo, providenciando assim um curso de baixa qualidade. Mas seria melhor se o governo aproveitar alguns timorenses que trabalharam para as Nações Unidas durante os timos dez anos. Este sim já são facéis de formar/reajustar porque já tem uma experiência. O maior problema é que estão habituados com um salário maior.
Timor deveria ter uma política de substituição de importações. As primeiras deveriam ser no setor calçadista e de vestuário. De início, deverá ter algum subsídio para conquistar mercado interno e externo.
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