Tiago Mesquita –
Expresso, opinião
"O feitiço
virou-se contra o feiticeiro. Em protesto contra a nova legislação que penaliza
com multas até 2000 euros quem não pedir facturas, muitos consumidores
começaram a pedir facturas com o número de identificação fiscal de Pedro Passos
Coelho. Os dados do primeiro-ministro estão a ser divulgados em SMS e emails
que se tornaram virais. As redes sociais estão a propagar o protesto.
Segundo
o Correio da Manhã, deram entrada no sistema e-factura "milhares
de facturas" com o número de contribuinte do primeiro-ministro, passadas
em restaurantes, cabeleireiros e oficinas de automóveis - totalizando
milhões de euros em despesas." Público
Pois é, isto de
legislar à portuguesa tem quase sempre uma resposta... à portuguesa. A
originalidade sempre foi uma das facetas do povo português e isso está a ficar
demonstrado nos balcões de pastelaria e nas mesas de restaurante, ao som dos
secadores e com um cheiro intenso a óleo de motor impregnado no ar. O
protesto, apesar de ilegal, pois configura um crime de falsas declarações, é de
tal forma criativo que jornais como o El Pais e oFinancial Times já
o destacaram nas suas edições. Uma página criada no Facebook denominada
"As Facturas do Coelho" vai dando conta das "alegadas"
despesas privadas de algumas figuras de Estado.
E ao que parece não
é só Pedro Passos Coelho a fazer unhas de gel todo o santo dia, depois de
comprar vários quilos de cenouras a granel. Enquanto o primeiro-ministro
comprava um corpete e preservativos que davam para um regimento numa sex-shop do
Bairro Alto, o ministro Miguel Relvas, em Campolide, colocava extensões pela
quinta vez em apenas uma semana. Ao mesmo tempo, comprava um chupa-chupa
em Évora.Vítor Gaspar muda o óleo do automóvel de hora a hora e bebe mil e
quinhentos cafés por dia, facto que não parece ajudá-lo em relação à acuidade
das suas previsões orçamentais, nem tão pouco parece a cafeína em excesso
acelerar-lhe o discurso. Passa a vida a recauchutar os pneus e o défice.
A ministra da
Justiça, Paula Teixeira da Cruz, também não sobreviveu à onda das
facturas: deve ter mais pontos da Galp que uma empresa de camionagem. O
ministro Paulo Portas, a julgar pelo dinheiro que gasta em fast food, deve
estar a pesar trezentos e cinquenta quilos. A caminho de Viseu, comprou um
rapa-tachos.
Mas não fica por
aqui. Desde que a legislação se tornou moda pelo célebre discurso do
"tomar no cu" proferido pelo ex-secretário de Estado da Cultura,
insurgindo-se contra a máquina fiscal do Estado, até o Presidente da República,
Aníbal Cavaco Silva, parece ter sido "obrigado" a aderir ao
e-factura. Um brushing, meia-perna e virilhas, seguidos de um almoço farto
na estrada da Guia. Ironias do destino, seguir-se-á a mais que provável
fiscalização por gastos superiores aos rendimentos declarados. Se é de lei, é
para cumprir.
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