terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Portugal está a desperdiçar o seu melhor património, os portugueses - Helder Macedo




DP – MAG - Lusa

Ao escritor Helder Macedo, que acaba de publicar o seu último romance, “Tão longo amor tão curta a vida”, custa-lhe ver Portugal desperdiçar aquele que considera ser o seu melhor património, os portugueses.

“Está-se a desinvestir no que Portugal tem e que é mais importante… a gente”, afirmou o escritor, em entrevista à Lusa, em vésperas de apresentação da sua última obra, marcada para quarta-feira, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. “Portugal não tem petróleo, não tem diamantes, não tem ouro, tem gente, e gente só pode ser valorizada através de cultura e de educação”.

Helder Macedo, 77 anos, é o celebrado autor de obras de ficção como “Partes de África” ou “Pedro e Paula”, poeta, estudioso de Camões e de Cesário Verde, e professor de Literatura Portuguesa no King's College de Londres, onde vive há anos.

“Não estou exilado, eu vivo em Inglaterra por opção”, afirma o escritor que, durante a ditadura, foi censurado e preso pela PIDE, a polícia política do regime, e teve de se exilar, para regressar a Portugal após o 25 de Abril, chegando a ocupar cargos públicos como o de secretário de Estado da Cultura, no Governo de Maria de Lurdes Pintasilgo.

O escritor esteve no encontro literário Correntes d’Escritas, que decorreu na Póvoa de Varzim, entre 21 e 23 de fevereiro, e logo no seu discurso, na cerimónia de abertura, afirmou que Portugal é “um país que é perdulário, como só os países pobres conseguem ser”.

O seu último romance, lançado durante o encontro na Póvoa, é um “thriller” psicológico em que o narrador, um escritor residente em Londres, recebe, uma noite, a visita inesperada de um diplomata seu amigo, que afirma correr perigo, e lhe conta uma intrincada história de sequestro e de amor de uma mulher, que tinha desaparecido no dia da queda do Muro de Berlim. O narrador acaba por desenvolver a história, tentando preencher as lacunas da história do diplomata.

Este narrador coincide com o autor, admite Helder Macedo, mas “torna-se uma personagem fictícia a partir do momento que está a contracenar com alguém que não existe, que é o embaixador que o procura”.

O título, “Tão longo amor tão curta a vida”, foi buscá-lo a um soneto de Camões e condensa, de alguma forma, “a dialética presente no próprio livro, que contém uma demanda psicológica, em que há esta personagem à procura do seu amor perdido”.

A viver há muitos anos em Londres, acredita que o seu julgamento lhe permite ter alguma objetividade. “Mas, por outro lado, não sou tão objetivo como isso, porque eu sou português, sinto-me português e lastimo profundamente o que está a acontecer a Portugal”, afirmou.

Acredita que, com a democracia, houve “um investimento que funcionou em termos de cultura” e de educação - temos excelentes diplomados, afirma -, mas lamenta “que governantes responsáveis digam aos diplomados portugueses que o melhor é emigrarem, da mesma forma que Salazar mandava os portugueses trabalhar nas fábricas em França ou limpar casas na Alemanha, porque não cabiam em Portugal”.

Um país que passa a depender das remessas dos emigrantes ou do turismo, passa, nessa altura, para Helder Macedo, “a ser um país auto colonizado e autofágico, que se está a destruir e isso é terrível”.

Os problemas do país, para o escritor, são “genéricos”, não podem ser limitados à qualidade das suas elites, até porque “temos elites culturais, mas não são quem governa o país”.

Quem governa o país, sustenta, “são os medíocres de carreira que, através dos aparelhos partidários, chegam a situações de poder, sem ter direito a isso; basta ver o atual governo que até aldrabões ao nível mais charro tem, que dizem que têm cursos que não têm… Eu estou-me nas tintas para que tenham cursos, mas não estou nas tintas para que mintam”.

“Tão longo amor tão curta a vida” vai ser apresentado pelo escritor, e pelo seu editor, Francisco Espadinha, quarta-feira, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, numa sessão com início marcado para as 18:30.

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