DP – MAG - Lusa
Ao escritor Helder
Macedo, que acaba de publicar o seu último romance, “Tão longo amor tão curta a
vida”, custa-lhe ver Portugal desperdiçar aquele que considera ser o seu melhor
património, os portugueses.
“Está-se a
desinvestir no que Portugal tem e que é mais importante… a gente”, afirmou o
escritor, em entrevista à Lusa, em vésperas de apresentação da sua última obra,
marcada para quarta-feira, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. “Portugal não
tem petróleo, não tem diamantes, não tem ouro, tem gente, e gente só pode ser
valorizada através de cultura e de educação”.
Helder Macedo, 77
anos, é o celebrado autor de obras de ficção como “Partes de África” ou “Pedro
e Paula”, poeta, estudioso de Camões e de Cesário Verde, e professor de
Literatura Portuguesa no King's College de Londres, onde vive há anos.
“Não estou exilado,
eu vivo em Inglaterra por opção”, afirma o escritor que, durante a ditadura,
foi censurado e preso pela PIDE, a polícia política do regime, e teve de se
exilar, para regressar a Portugal após o 25 de Abril, chegando a ocupar cargos
públicos como o de secretário de Estado da Cultura, no Governo de Maria de
Lurdes Pintasilgo.
O escritor esteve
no encontro literário Correntes d’Escritas, que decorreu na Póvoa de Varzim,
entre 21 e 23 de fevereiro, e logo no seu discurso, na cerimónia de abertura,
afirmou que Portugal é “um país que é perdulário, como só os países pobres
conseguem ser”.
O seu último
romance, lançado durante o encontro na Póvoa, é um “thriller” psicológico em
que o narrador, um escritor residente em Londres, recebe, uma noite, a visita
inesperada de um diplomata seu amigo, que afirma correr perigo, e lhe conta uma
intrincada história de sequestro e de amor de uma mulher, que tinha desaparecido
no dia da queda do Muro de Berlim. O narrador acaba por desenvolver a história,
tentando preencher as lacunas da história do diplomata.
Este narrador
coincide com o autor, admite Helder Macedo, mas “torna-se uma personagem
fictícia a partir do momento que está a contracenar com alguém que não existe,
que é o embaixador que o procura”.
O título, “Tão
longo amor tão curta a vida”, foi buscá-lo a um soneto de Camões e condensa, de
alguma forma, “a dialética presente no próprio livro, que contém uma demanda
psicológica, em que há esta personagem à procura do seu amor perdido”.
A viver há muitos
anos em Londres, acredita que o seu julgamento lhe permite ter alguma
objetividade. “Mas, por outro lado, não sou tão objetivo como isso, porque eu
sou português, sinto-me português e lastimo profundamente o que está a
acontecer a Portugal”, afirmou.
Acredita que, com a
democracia, houve “um investimento que funcionou em termos de cultura” e de
educação - temos excelentes diplomados, afirma -, mas lamenta “que governantes
responsáveis digam aos diplomados portugueses que o melhor é emigrarem, da
mesma forma que Salazar mandava os portugueses trabalhar nas fábricas em França
ou limpar casas na Alemanha, porque não cabiam em Portugal”.
Um país que passa a
depender das remessas dos emigrantes ou do turismo, passa, nessa altura, para Helder
Macedo, “a ser um país auto colonizado e autofágico, que se está a destruir e
isso é terrível”.
Os problemas do
país, para o escritor, são “genéricos”, não podem ser limitados à qualidade das
suas elites, até porque “temos elites culturais, mas não são quem governa o
país”.
Quem governa o
país, sustenta, “são os medíocres de carreira que, através dos aparelhos
partidários, chegam a situações de poder, sem ter direito a isso; basta ver o
atual governo que até aldrabões ao nível mais charro tem, que dizem que têm
cursos que não têm… Eu estou-me nas tintas para que tenham cursos, mas não
estou nas tintas para que mintam”.
“Tão longo amor tão
curta a vida” vai ser apresentado pelo escritor, e pelo seu editor, Francisco
Espadinha, quarta-feira, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, numa sessão com
início marcado para as 18:30.
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