Manuel Alegre –
Jornal i, opinião
Estamos como
aqueles prisioneiros dos campos de concentração que viviam na ilusão de que a
vez deles talvez não chegasse enquanto os outros iam sendo encaminhados
para as câmaras de gás. Não se vê nenhuma cruz gamada, não há soldados a gritar
ordens, a frase “Arbeit macht frei” ainda não aparece à entrada do nosso país.
Mas o ministro
Schaüble, Durão Barroso e os donos da Europa germanizada metem medo. Não
precisam de invadir nem de bombardear. Tomam um decisão e exterminam um país. Ontem foi Chipre. Os quintas-colunas que governam os países europeus e os
comentadores arregimentados acham que não se pega, Chipre é um pequeno país. Já
tinham dito o mesmo da Grécia. Enquanto não nos puserem uma marca na lapela,
eles julgam que vamos escapar. Mas eu já estou a sentir-me condenado. Não
consigo deixar de me sentir cipriota. Estava convencido que pertencíamos à
União Europeia, um projecto de prosperidade partilhada entre estados iguais e
soberanos. Mas Chipre, depois da Grécia e, de certo modo, nós próprios, fez-me
perceber que esta Europa é uma fraude. Deixou de ser um projecto de paz e
liberdade, começa a ser uma ameaça de tipo totalitário, com o objectivo de
empobrecer e escravizar os países do Sul.
Por isso é
conveniente que nos sintamos todos cipriotas. Antes que chegue a nossa vez.
*Escritor,
ex-candidato à Presidência da República
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