segunda-feira, 18 de março de 2013

DEMITAM-SE E DEPOIS?




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Previsível. Já todos tinham dito que uma queda de 1% (ou até de 2%) era um delírio. Que o cumprimento do défice ignorava os efeitos orçamentais da recessão. E que o desemprego ultrapassaria todas as previsões baseadas em efeitos benignos da retração salarial. E vale a pena ter atenção aos números de desemprego. 19% de desemprego declarado é 25% de desemprego real e, provavelmente, metade dos jovens desempregados. Não há segurança social, estabilidade política e democracia que suportem estes níveis de desemprego. 

O governo, em conjunto com a troika, definiu objetivos e políticas para os atingir. Os objetivos mostraram-se, para dizer o mínimo, irrealistas. E ouvir Miguel Frasquilho responsabilizar o "memorando original" - como se o PSD não o tivesse negociado e apoiado incondicionalmente - ultrapassa os limites a que o passa-culpas já nos habituou. O governo falhou. E falhou, porque objectivos errados levam a políticas erradas. E não quer, nem tem como o fazer depois do comprometimento com este caminho, mudar os objectivos ou as políticas para lá chegar.

Falhou também por tratar como aliados aqueles que no Chipre já nem tentam que aquilo a que chamam de "resgate" não se pareça com o que realmente é: um assalto. Aliás, os lunáticos irresponsáveis que dirigem a Europa transmitiram uma mensagem extraordinária para todos os europeus: é perigoso deixarem o vosso dinheiro no banco.

Perante isto, restaria ao governo tirar as devidas consequências deste clamoroso falhanço: demitir-se. E quem vier terá de começar a pensar como se ver livre destes salteadores da forma menos arriscada possível para nós.

No entanto, no mesmo dia em que estes números foram conhecidos ficou a saber-se, através de uma sondagem da Universidade Católica, que o PSD sobe, o PS mantém-se e os restantes partidos caem. Mesmo que a sondagem não esteja correta, sabemos, por todos os estudos de opinião que foram sendo conhecidos, que a oposição, mesmo sendo hoje maioritária, não consegue capitalizar o descontentamento com a calamidade que está a acontecer ao País. Porque os portugueses não sentem, no PS e no conjunto da esquerda, a existência de uma alternativa coerente, credível e contrastante.

Tudo exige a demissão imediata de um governo que falhou em toda a linha. Mas é curta a convicção de que, neste momento, a queda do governo resolva os nossos problemas. O governo, como um louco à solta, já não pode ser resposnabilizado por nada. É inimputável. É na oposição, se não sober apresentar-se como uma alternativa, que repousam todas as responsabilidades pela manutenção deste governo e das consequências desastrosas dos seus erros. 

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