Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Previsível. Já
todos tinham dito que uma queda de 1% (ou até de 2%) era um delírio. Que o cumprimento
do défice ignorava os efeitos orçamentais da recessão. E que o desemprego
ultrapassaria todas as previsões baseadas em efeitos benignos da retração
salarial. E vale a pena ter atenção aos números de desemprego. 19% de
desemprego declarado é 25% de desemprego real e, provavelmente, metade dos
jovens desempregados. Não há segurança social, estabilidade política e
democracia que suportem estes níveis de desemprego.
O governo, em
conjunto com a troika, definiu objetivos e políticas para os atingir. Os
objetivos mostraram-se, para dizer o mínimo, irrealistas. E ouvir Miguel
Frasquilho responsabilizar o "memorando original" - como se
o PSD não o tivesse negociado e apoiado incondicionalmente - ultrapassa os
limites a que o passa-culpas já nos habituou. O governo falhou. E falhou,
porque objectivos errados levam a políticas erradas. E não quer, nem tem como o
fazer depois do comprometimento com este caminho, mudar os objectivos ou as
políticas para lá chegar.
Falhou também por tratar
como aliados aqueles que no Chipre já nem tentam que aquilo a que chamam de
"resgate" não se pareça com o que realmente é: um assalto. Aliás, os
lunáticos irresponsáveis que dirigem a Europa transmitiram uma mensagem
extraordinária para todos os europeus: é perigoso deixarem o vosso dinheiro no
banco.
Perante isto,
restaria ao governo tirar as devidas consequências deste clamoroso falhanço: demitir-se.
E quem vier terá de começar a pensar como se ver livre destes salteadores da
forma menos arriscada possível para nós.
No entanto, no
mesmo dia em que estes números foram conhecidos ficou a saber-se, através de
uma sondagem da Universidade Católica, que o PSD sobe, o PS mantém-se e os
restantes partidos caem. Mesmo que a sondagem não esteja correta, sabemos, por
todos os estudos de opinião que foram sendo conhecidos, que a oposição,
mesmo sendo hoje maioritária, não consegue capitalizar o descontentamento com a
calamidade que está a acontecer ao País. Porque os portugueses não sentem, no
PS e no conjunto da esquerda, a existência de uma alternativa coerente,
credível e contrastante.
Tudo exige a
demissão imediata de um governo que falhou em toda a linha. Mas é curta a
convicção de que, neste momento, a queda do governo resolva os nossos
problemas. O governo, como um louco à solta, já não pode ser
resposnabilizado por nada. É inimputável. É na oposição, se não sober
apresentar-se como uma alternativa, que repousam todas as responsabilidades
pela manutenção deste governo e das consequências desastrosas dos seus
erros.
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