Filipe Paiva
Cardoso – Jornal i
O comportamento do
desemprego “foi muito pior que o esperado”e o ataque às rendas excessivas tem
sido “muito desapontante”
O chefe da missão
do FMI a Portugal está desiludido. Não só porque a receita da austeridade
resultou num nível mais elevado de desemprego que o previsto - “é mesmo muito
pior que o esperado” - mas também porque o outro lado da moeda do programa está
com resultados sofríveis: os preços das telecomunicações e da electricidade,
assim como de outros sectores, que a troika prometeu que iam cair, estão a
subir. “Muito desapontante”, avançou Abebe Selassie. Como dar a volta? Não
adiar prazos para o ajustamento.
“Penso que a única
forma duradoura de criar os empregos, que Portugal tão desesperadamente
precisa, é realmente tentar completar o processo de ajustamento tão rápido
quanto possível, e estabelecer as bases para o crescimento sustentável. Não
podemos perder de vista que o princípio base do programa é fazer regressar
Portugal a uma situação fundamentalmente melhor do que a que estava quando a
crise começou”, apontou Selassie em entrevista à Lusa. Quanto à
responsabilidade das sucessivas rondas de austeridade promovidas no país desde
meados de 2011 no aumento do desemprego acima do esperado, nada foi dito.
Por outro lado, as
reformas estruturais que a troika e o governo PSD/CDS iam pôr em marcha e que
iriam servir para recolocar o país na rota de crescimento, estão também com
resultados decepcionantes. “Penso que o principal objectivo para os preços da
electricidade, das telecomunicações e de outros sectores não transaccionáveis é
se estão em linha ou começam a cair à medida que a concorrência aumenta ou a
procura diminui. Até agora não o estamos a ver e isso é muito desapontante.”
Quanto a apontar dedos, nada dito, até porque o FMI defende que o governo fez o
que pôde: “Um primeiro conjunto de reformas foi acordado e realizado ao abrigo
do programa no ano passado. Não foram até onde gostaríamos que tivessem ido,
mas o governo tentou fazer o máximo que podia face a todas as considerações que
tinha de tomar”, disse. Por causa desta ineficiência nas reformas, a repartição
do esforço do ajustamento continua por ser conseguida em Portugal: “É muito
importante que o debate sobre as rendas excessivas em algumas áreas seja
revisitado. Este é um aspecto muito importante para garantir a justa repartição
do ajustamento.”
O responsável do
FMI disse ainda que uma das grandes motivações da revisão das metas do défice
deste ano, para 2014 e para 2015 - que na prática acaba por resultar em mais um
ano para reduzir o défice - se deve em grande parte à necessidade de evitar
colocar mais pressão sobre o emprego. “O resultado do desemprego é muito
infeliz, é mesmo muito pior que o esperado. É exactamente devido a isto que as
metas do défice estão a ser revistas, devido à preocupação de tentar evitar
mais pressões sobre o emprego”.
Sobre as mudanças
nas indemnizações por cessação de contrato de trabalho que ficaram acordadas,
Selassie fez questão de sublinhar que a troika tem mostrado pragmatismo e
flexibilidade, e como tal aceitou uma proposta para fasear a redução de 20 para
12 dias.
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