Liliana Valente –
Jornal i
Centristas já não
escondem divergências e pedem ao primeiro-ministro que mexa na equipa para que
o governo não caia
A Páscoa pode
marcar um momento de viragem para o governo: uma remodelação na equipa está
iminente e Álvaro Santos Pereira e Miguel Relvas podem estar de saída, sabe o i.
A decisão ainda não está tomada, mas ao que o i apurou, os nomes dos
dois ministros estão na short list para uma remodelação pedida quer pelo CDS
quer por algumas vozes dentro do PSD que acontecerá a seguir à Páscoa. A
remodelação permitiria a Passos Coelho refrescar a equipa, mas também fazer a
vontade ao CDS e a alguns sociais-democratas. Aliás, o CDS fez um pedido, em
tom de aviso, para que ela aconteça até dia 15 de Abril, data do próximo
Conselho Nacional do partido.
A acrescentar a
isto, as críticas em público de dirigente centristas e de Marques Mendes, no
comentário semanal na SIC, fazem prever essa mesma mexida. Mesmo quem não tem a
certeza que ela vá acontecer, acredita que o CDS só falaria tão abertamente de
uma remodelação se ela estivesse para acontecer, o mesmo para o comentador
político, bem informado junto de fontes governamentais.
A decisão ainda
está entre Passos Coelho e o núcleo duro, mas estes são os dois ministros
apontados por todos os críticos. Miguel Relvas, aliás, até já cumpriu os
principais dossiês que tinha em mãos - reforma autárquica e privatização da
RTP, esta última falhada, com o plano de reestruturação finalizado na outra
semana - e várias fontes acreditavam que o ministro nunca sairia antes de ter o
caso da RTP fechado. Um entrave à sua saída que já não se verifica. Quanto a
Álvaro Santos Pereira, os números do desemprego e de falências de empresas são
os indicadores que lhe apontam em como tem sido ineficaz à frente da pasta e,
num momento em que o governo quer começar a falar em crescimento económico e
virar para o segundo momento, os críticos exigem sangue novo à frente da
Economia.
Isso mesmo fez
António Pires de Lima, presidente do Conselho Nacional do CDS que defendeu em
público que é “necessário reforçar a capacidade política deste governo, a
capacidade de coordenação política” e também que é preciso “dar uma outra
prioridade ao tema importante da economia, nomeadamente outra eficácia na
captação de investimento”. Depois lá dentro, na reunião da Comissão Política
Nacional (CPN) do CDS deste fim-de-semana, Paulo Portas nunca falou em
remodelação e manteve uma postura mais institucional, mas os dirigentes do
partido já não escondem a impaciência pela apatia ou teimosia do
primeiro-ministro em não mexer na equipa do executivo e várias foram as vozes a
pedir a remodelação em áreas-chave do executivo como a Economia e coordenação
política, mas houve também quem lembrasse o ministro das Finanças.
Na CPN, os
centristas defenderam uma “remodelação profunda” do governo sob pena de se
abrir ainda mais as chagas de uma crise política. Se o presidente quer uma postura
mais tranquila para evitar o caos, os dirigentes dizem que o chefe do governo
tem tempo suficiente até dia 15 de Abril (data do Conselho Nacional do CDS)
para remodelar sob pena de as críticas no CDS subirem ainda mais de tom e de
não se disfarçar mais uma crise na coligação como foi aquando do anúncio da
TSU. “Acho que é melhor remodelar a bem do país e da coligação”, diz ao i Artur
Lima, vice-presidente do CDS. O centrista diz que “é tempo suficiente” até dia
15 de Abril para que Passos mexa na equipa “sob pena de o governo não
funcionar”.
Além do CDS,
Marques Mendes foi bastante crítico para o executivo alertando mesmo Passos
Coelho que ou faz uma remodelação já em Abril ou o país entra “no caos”. O
comentador e ex-líder social-democrata defendeu ainda que o governo, para
mostrar a união entre a bancada e o governo, devia apresentar uma moção de
confiança. A estratégia, para Marques Mendes, devia ser de mudança de discurso
político, falando em esperança e crescimento, mas também de agenda.
PREOCUPAÇÃO COM
METAS
Além da
remodelação, os dirigentes do CDS mostraram-se preocupados com as metas do
défice. O CDS queria ir mais longe (pedir dois anos em vez de um) e nesse
quadro tem uma dupla acção: aproxima-se do governo ao colocar as causas na
conjuntura externa e afasta-se por querer ir mais longe. A dualidade foi
sintetizada por Telmo Correia que explicou: “Depende muito da economia europeia
nós sabermos se as metas que saem desta avaliação serão ou não exequíveis.
Portanto, há alguma preocupação.”
A necessidade de
acautelar o sucesso na negociação do alargamento das metas foi um dos
argumentos usados pelo líder parlamentar do CDS no último debate para criticar
a moção de censura do PS. A remodelação, a acontecer logo a seguir à Páscoa,
permite ao governo mostrar que se quer manter coeso a tempo da próxima reunião
do Eurogrupo de meados de Abril, que vai discutir o alargamento dos prazos a
conceder a Portugal.
Nuno Magalhães
acusou os socialistas de apresentarem uma moção numa altura em que o país teria
de estar unido perante os credores que podem assim desconfiar da solidez do
governo tendo o principal partido da oposição cortado relações. E esse é o
mesmo argumento para dentro do partido. Até ter o ok de Bruxelas definitivo, o
clima terá de ser de união, nem que seja aparente.
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