Verdade (mz) - editorial
No direito a
liberdade é regra e foi com base nessa perspectiva que os assassinos de Carlos
Cardoso, alguns, viram abertas as portas da cadeia e gozam, agora, de liberdade
condicional que é reprovada pela opinião pública. O depoimento de Carlitos, ao
Savana da semana passada, revela que o seu comportamento na cadeia não foi
exemplar.
Contudo, foi
libertado por “bom comportamento”. Vicente Ramaia e Ayob Satar também foram
libertados pelos mesmos motivos. Ao longo do cumprimento da pena destes
indivíduos a Imprensa reportou várias situações de mau comportamento. Foram
descobertos telefones e quejandos.
Ou seja, situações
mais do que suficientes para se elaborar um manual de procedimentos reprováveis
para iniciantes no mundo do crime. Jornalistas receberam telefonemas oriundos
da cadeia e falaram com estes detidos. Há páginas no facebook e números de
operadoras portuguesas na jogada que foram usados até à exaustão enquanto os
mesmos estiveram atrás das grades.
Não há, portanto,
espaço para apregoar, sem ser acossado pela vergonha, que foram meninos bem
comportados. Contudo, não há registo desses episó- dios de mau comportamento no
sistema prisional. Esse é o grande calcanhar de Aquiles e o factor que
desencadeou a liberdade de que quem não merecia, de forma alguma, gozar da vida
em sociedade.
O país não conta
com um tribunal de execução de penas. O juiz é quem detém o poder de decidir se
este ou aquele arguido merece a liberdade condicional. Aqui, no nosso
entender, reside o perigo para a sociedade. Ou seja, um sistema prisional
obsoleto e fraco não é capaz de criar processos que gerem, depois, uma base de
dados para o juiz decidir com justiça.
Fica tudo ao sal do
seu próprio arbítrio e isso é um perigo para um país que deve confiar no
sistema de justiça. Esta fraqueza do sistema de justiça propicia, também, uma
séria de lacunas. Por um lado, um indivíduo com posses pode facilmente subornar
qualquer agente prisional que tenha de controlar o cumprimento da sua pena.
Por outro, pode
abrigar a vingança e a congeminação de esquemas no esgoto da sacanice. A
intervenção do homem é plena e incontrolável. Como o dissemos, depende do sal
do seu próprio arbítrio e, quando assim é e diante dos últimos acontecimentos,
só podemos crer que certas solturas foram propicia- das por essas lacunas.
É preciso diminuir
o poder dos agentes prisionais e as possibilidades que o dinheiro tem de fazer
e desfazer num sistema que precisa de credibilidade. O relatório que chega ao
juiz não pode reflectir a verdade. E isso é grave. É contra isso que devemos erguer
o punho e reclamar.
Em algum ponto uma
mentira foi contada e uma liberdade foi concedida. Esperamos que a mesma tenha
sido construída nas masmorras da BO e por um simples agente prisional. Temos de
continuar a acreditar nos juízes ou estamos tramados. Ainda assim, nós, enquanto povo, não confiamos nestes gajos que vocês libertaram. Fiquem a saber...
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