Liliana Valente –
Jornal i
O primeiro-ministro
diz que TC tem de lidar com “as decisões que vier a tomar”
Passos Coelho nunca
falou da futura decisão do Tribunal Constitucional. Fê-lo ontem e das duas uma:
ou o primeiro-ministro já conhece a decisão dos juízes e está a imputar-lhes
responsabilidade ou a decisão não é tão grave e tem na carteira uma frase em
defesa da responsabilidade; ou não a conhece ainda e as suas palavras podem ser
entendidas como pressão. Ontem, numa conferência conjunta com o
primeiro-ministro sueco, lembrou que “o Tribunal Constitucional tem também de
ter responsabilidade nas decisões que vier a tomar e no impacto que elas possam
ter no país”.
A decisão dos juízes do Constitucional sobre algumas normas do Orçamento do
Estado estará para breve e é previsível que pelo menos uma das normas não passe
pelo crivo da constitucionalidade dos juízes, mas a decisão tem demorado algum
tempo, uma vez que, de acordo com o “Expresso”, o próprio tribunal quer
apresentar uma decisão com uma maioria o mais alargada possível para ser mais
sólida perante a classe política e a própria opinião pública.
Passos Coelho chegou até a dar ordem de silêncio no PSD para evitar a pressão
sobre os 11 juízes que vão tomar a decisão. Nas últimas semanas, as declarações
de dirigentes e militantes têm sido no sentido de, mesmo indirectamente,
pressionarem a uma decisão célere e o menos dolorosa possível. Ontem foi o
próprio primeiro-ministro a ir mais longe nas palavras do que qualquer
dirigente social-democrata fez até aqui. Disse que “tem o governo
[responsabilidade], que não se pode distrair com aspectos menores, deve
focar-se no sucesso do programa de ajustamento que está a realizar; as
instituições democráticas, todas, além do poder executivo; o parlamento, que
tem de ter responsabilidade; o Tribunal Constitucional, que tem também de ter
responsabilidade nas decisões que vier a tomar e no impacto que elas possam ter
no país”.
Passos Coelho enquadrou as declarações no tempo histórico que o país atravessa:
“Vivemos tempos que são tempos históricos e todos temos responsabilidade na
forma como lidamos com este tempo histórico.” E também por isso recusou falar
da moção de censura do PS e de uma eventual remodelação. Na mesma conferência,
o chefe do governo disse concordar com o Presidente da República (ver página 4)
quando este repudia “jogos partidários”. “Li as declarações que o senhor
Presidente da República fez e não posso concordar mais com elas. De resto, é
isso que o governo tem procurado fazer: focar-se no essencial, dedicar pouco
tempo às questões menores em termos de política corrente e focar-se muito nos
resultados principais que precisa de entregar”, disse.
Sem comentários:
Enviar um comentário